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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Bolsonaro e a extinção das raposas

Ausência de políticos de qualidade ajuda a entender o poder do presidente

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 mar 2021, 19h11 - Publicado em 2 mar 2021, 17h56

A ascensão de Jair Bolsonaro coincidiu com a extinção de um dos animais mais argutos do habitat brasiliense, as raposas políticas. Em 1985, foi uma raposa como Tancredo Neves que uniu inimigos da esquerda e da direita para superar o Regime Militar a escancarar as portas da democracia. Em 1993, a raposa FHC montou um time de geniozinhos para debelar a inflação com o Plano Real, enquanto ele apaziguava o humor de Itamar Franco. Lula precisou da raposice de Antonio Palocci para acalmar os mercados revoltos a partir de 2003. Hoje, em Brasília, só existem raposas nos mangás e animes.

Candidato a novo craque da articulação, o deputado Rodrigo Maia, o sr. Previdência, passou cinco anos como presidente da Câmara sem se preocupar em formar um sucessor. Quando precisou erguer um às pressas foi esfaqueado pelos antigos colegas.

Um desses ex-amigos, o ex-prefeito ACM Neto, com o sobrenome avô e tio raposas, desperdiçou anos de rebranding do Democratas para tornar o partido um dos últimos vagões de trem do bolsonarismo.

O político que desafiou Maia e escanteou ACM Neto, o presidente da Câmara, Arthur Lira, chegou ao poder com fama de raposa. Quando teve a chance de mostrar a que veio, Arthur Lira podia se tornar o campeão da vacinação em massa e da volta do Auxílio Emergencial. Ao invés disso, pensou com o fígado e priorizou a votação de emenda constitucional para proteger parlamentares da Justiça. Virou mais um presidente da Câmara menor do que a cadeira.

O seu colega na presidência do Senado, Rodrigo Pacheco, consegue falar as coisas certas (a prioridade é combater a Covid-19 e o Auxílio), fazendo coisas erradas (como descartar uma CPI para pressionar o Ministério da Saúde a fazer seu trabalho direito).

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Não que as coisas pareçam melhores na oposição. O governador João Doria, que com a produção da CoronaVac pelo Instituto Butantan tinha um bilhete premiado para a campanha de 2022, diz que faz gestão obedecendo a ciência, mas acaba de liberar cultos e missas e não demonstra a coragem de impor o lockdown cada dia mais inevitável diante do descontrole da pandemia. Luciano Huck é carismático na TV, mas age como um aluno aplicado de aulas de como dirigir um país. Escuta gente importante, conversa temas grandiosos, mas fala de política de como se fosse outro idioma. Outro dia ele postou no Twitter que era preciso “endereçar a pobreza extrema”. Aí fica difícil.

Depois de receber 48 milhões de votos em 2018, Fernando Haddad virou tuiteiro de piadas sem graça. Ciro Gomes de 2021 é uma repetição do Ciro de 2018, 2002 e 1998, para o bem e para o mal. Nas redes, a oposição ao governo Bolsonaro se divide entre os que se acreditam sempre certos, como cópias da Lumena do Big Brother Brasil, e os que acreditam que os outros estão sempre errados, como Karol Conka. É muito amargor para pouca alegria.

Nesse cenário, Bolsonaro segue errando, mas os adversários erram mais. A falta de raposas na oposição, de gente que enxergue a política além das próximas semanas, permite que o presidente se sustente com o simples toma-lá-dá-cá no Congresso, sem ter de dar satisfações.

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