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Por Fernanda Furquim
Este é um espaço dedicado às séries e minisséries produzidas para a televisão. Traz informações, comentários e curiosidades sobre produções de todas as épocas.
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Review – ‘The Leftovers’, primeira temporada

The Leftovers é uma nova aposta da HBO e a primeira produção de Damon Lindelof para o canal a cabo. O produtor e roteirista se estabeleceu no mercado com Lost, série que gerou grandes expectativas ao longo de sua produção e decepcionou boa parte de seus fãs em seu último episódio. Razão pela qual uma […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 1 dez 2016, 16h16 - Publicado em 14 set 2014, 20h54
Laurie (Fotos: HBO)

Laurie (Fotos: HBO)

The Leftovers é uma nova aposta da HBO e a primeira produção de Damon Lindelof para o canal a cabo. O produtor e roteirista se estabeleceu no mercado com Lost, série que gerou grandes expectativas ao longo de sua produção e decepcionou boa parte de seus fãs em seu último episódio. Razão pela qual uma nova produção que lida com um grande mistério assinada por ele pode causar uma certa preocupação do telespectador em começar a seguir. Temendo não ter um final apropriado, como reza a cartilha, muitos acabam decidindo não conferir The Leftovers, adaptação da obra de Tom Perrota, coautor da série. Entre aqueles que se arriscaram, a série se tornou uma produção ‘ame-a ou deixe-a’. Isto porque a história e os personagens não se apresentam às claras.

A Série

Uma da vantagens de The Leftovers (ou desvantagem, dependendo do ponto de vista) é a falta de um personagem que represente o telespectador na história. Em geral, os roteiristas introduzem um personagem que está chegando no local onde a ação se passa, tornando-o nossos representantes na história. Este personagem é ‘uma muleta’ do roteirista, para o qual os demais explicarão o que está acontecendo, quem é quem e as transformações que o ambiente sofrerá caso algo aconteça ou alguém tome uma decisão importante. Através dele, o público vai se acostumando ao ambiente, se tornando amigo dos demais personagens e compreendendo a trama.

The Leftovers não tem este personagem (nem mesmo um narrador), deixando para o público a tarefa de compreender sozinho o ambiente e as pessoas que o cercam. E o que é melhor (ou pior, dependendo do ponto de vista), não temos a vantagem de saber algo que os  personagens da série não sabem. Esta é outra muleta narrativa utilizada por roteiristas que nos mostram através de uma cena ou de alguém algo que está por acontecer (ou que já aconteceu), nos levando a compreender melhor a situação e a julgar as atitudes deste ou daquele personagem que não tem a mesma vantagem que o público.

Tal como o telespectador, ninguém na história compreende completamente o que está acontecendo. Juntos vamos vivendo dia a dia/episódio a episódio, reagindo aos acontecimentos, reconhecendo atitudes, mudando de opiniões sobre esta ou aquela pessoa, entendendo o ambiente, tateando no escuro em busca de uma resposta que pode não vir. A vida segue, mesmo sem saber o que nos espera ou como chegamos a este ponto. Ao contrário de Lost, que colocou a ação/mistério acima dos personagens, The Leftovers, valoriza mais os personagens que o mistério.

A série se propõe a mostrar para o público como as pessoas reagem à perda inexplicável de familiares ou amigos em larga escala. Um dia, sem a menor explicação, 2% da população da Terra desaparece no ar. Ninguém sabe o porquê ou como. Ao invés de nos mostrar a reação imediata da sociedade ao fato, a história dá um salto de três anos, introduzindo o telespectador a um novo mundo.

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Antes da estreia da série, a HBO exibiu um Making Of, no qual temos entrevistas com os produtores e atores. Nele são listados alguns eventos que ocorreram ao longo dos anos nos quais uma ou mais pessoas desapareceram sem explicação. Faltou mencionarem o mais recente, o desaparecimento do avião da Malaysia Airlines no início deste ano, que não foi explicado pelas autoridades. A conclusão é a de que ele caiu no oceano, mas até hoje não se sabe o que aconteceu.

No Making Of, Lindelof deixa claro que sua prioridade não é o mistério, e sim acompanhar a reação dos personagens que ficaram para trás, ou seja, ao menos neste primeiro momento, não importa o que aconteceu, mas o que está acontecendo.

Patti

Patti

Neste primeiro momento, The Leftovers tem como objetivo questionar a existência humana e seus valores. Ao longo de uma vida, um indivíduo sofre diversas perdas. Ele perde os avós, os pais, tios, amigos, irmãos, amigos e até mesmo filhos. Aquele que partiu desaparece da vida daqueles que ficaram. A morte é considerada parte da vida e resta àqueles que ficaram seguir em frente, até que chegue sua vez. De tempos em tempos, ocorre um evento no qual dezenas, centenas ou milhares de pessoas desaparecem de uma só vez. Estas mortes muitas vezes não têm uma explicação, mas são eventualmente aceitas por aqueles que ficaram que, com o tempo, seguem em frente, retomando seu estilo de vida. Anualmente, as pessoas que partiram são lembradas por aquelas que ficaram, sendo que, quando ocorre um evento em massa, instituições, grupos ou governos oferecem uma celebração oficial para marcar o desaparecimento de um grupo.

A sociedade mostrada na série parte deste princípio. Passados três anos da reação inicial, sem ter conseguido encontrar uma resposta para o fato, a sociedade tenta restabelecer sua rotina, celebrando anualmente a partida daqueles que desapareceram, os quais são retratados pelo governo como heróis. Mas a grandiosidade e o mistério em torno do evento fizeram com que as pessoas sofressem uma ruptura psicológica e emocional. O mundo como eles conheceram acabou. A tecnologia é a mesma, os hábitos do dia a dia também, mas a sociedade sofreu uma transformação cultural. Muitos perderam a fé e outros buscaram na religião, seja ela qual for, o significado da vida.

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A história ainda não introduziu um personagem que acredite em alguma conspiração do governo por trás do desaparecimento, o que chega a ser curioso. Também não vemos os bastidores do governo e a forma como ele vê esta situação. Percebemos que as autoridades parecem estar tão desnorteadas quanto a sociedade. Incapaz de oferecer uma explicação, restabelecer a confiança ou oferecer um programa que unifique a população, o governo cria algumas formas de sobrevivência para manter o controle de uma sociedade que perdeu a crença no futuro (quem garante que o mesmo evento não voltará a acontecer?).

Comitês são formados por cientistas que tentam encontrar uma resposta para o mistério, garantindo ao público que algo está sendo feito para dar a eles uma satisfação. Além disso, um valor em dinheiro é oferecido para ‘compensar’ a perda de familiares. Ao mesmo tempo, o governo promove o desaparecimento dos corpos de membros de seitas indesejáveis (episódio cinco) e se mostra incapaz de criar um programa de incentivo à vida. Vemos uma sociedade que se ‘arrasta pelos cantos’, à mercê de cultos e de grupos que se formam, cada um mais bizarro que o outro (episódios um, quatro e seis), enquanto a mídia noticia ressurreições (episódio oito).

Entre os grupos que se formam está o Remanescentes Culpados. Suas ações e objetivos não são divulgados às claras. Nem o telespectador, nem os demais personagens sabem exatamente o que este grupo deseja. Aparentemente, o evento ocorrido no dia 14 de outubro representa o julgamento de seus atos. O fato deles terem sido deixados para trás significa que foram considerados culpados. O evento representa o fim da vida como eles a conhecem. Eles perderam a fé no passado e no futuro. Os membros do grupo desejam estabelecer uma nova ordem, pela qual sacrificam suas vidas. Pregam o desapego à família, às crenças, aos pertences e ao antigo estilo de vida. Param de se comunicar com a voz, por considerá-la um grito de desespero. Passam a fumar compulsivamente, porque para eles não existe futuro.

Eles tentam impor sua vontade, provocando a sociedade para que ela não esqueça o evento que abriu seus olhos para o que a vida representa. Extremista, o grupo busca formas cada vez mais radicais para alcançar seu objetivo. No início eles são como fantasmas, todos vestidos de branco perambulando pelas ruas sem dizer uma única palavra. Postando-se em frente às casas ou lojas onde estão pessoas que perderam alguém, eles tentam se tornar a lembrança viva daqueles que se foram.

A ineficácia desta ação os levam a buscar novos meios de se fazer entender. Assim, os membros deste grupo começam a invadir as casas das pessoas para roubar as fotografias daqueles que partiram, restando apenas a moldura do quadro ou do porta retrato, representando o vazio que aqueles que partiram deixaram. Ao final da temporada, o grupo coloca em prática ações ainda mais radicais para se fazer ouvir.

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Kevin pai, Jill e Kevin Jr.

Kevin pai, Jill e Kevin Jr.

Os Personagens (a descrição dos personagens e das situações que vivenciam podem conter spoilers)

O desaparecimento de 2% da população mundial é visto por muitos como o arrebatamento bíblico. Algo que não é aceito pelo pastor Matt Jamison (Christopher Eccleston, de Doctor Who). Visto que ele ficou para trás, Matt precisa encontrar uma explicação para justificar a partida daqueles que desapareceram. Ele então passa a dedicar sua vida a expor os podres daqueles que se foram para mostrar àqueles que ficaram que os desaparecidos não eram os escolhidos de Deus, nem mesmo heróis. Sua igreja sofre com a perda de fiéis, que não têm mais fé em Deus ou na vida. Tentando encontrar um propósito para si próprio, ele se coloca como o salvador daqueles que optaram por seguir outros grupos e cultos. Perdoa e dá a outra face, oferece palavras de consolo, e ajuda toda e qualquer pessoa que estiver passando por dificuldades. Mas seu progresso é lento. O personagem protagoniza um ótimo episódio no qual temos, simbolicamente, a fé oficial sendo substituída por uma religião alternativa.

Wayne (Paterson Joseph) é um líder de outra seita. Ele acredita ser capaz de apagar o sofrimento da alma das pessoas. Wayne vive cercado por jovens asiáticas, com as quais tem relacionamentos sexuais. Perseguido pelo governo, ele se mantém em fuga, encarregando Tom (Chris Zylka) da segurança de Christine (Annie Q.). Grávida do filho de Wayne, ela acredita que o bebê é ‘o escolhido’.

Tom é filho de Laurie (Amy Brenneman), uma psicóloga que abandonou a família para se unir aos Remanescentes Culpados. Ela era casada com Kevin Jr. (Justin Theroux), que criou Tom como se fosse seu filho. Quando a série inicia, Tom abandonou a faculdade e se uniu ao grupo de Wayne.

Kevin Jr. tenta conciliar sua carreira na polícia (onde assumiu o posto do pai) com seus problemas pessoais. Além de ter sido abandonado pela esposa, ele precisa cuidar da filha adolescente Jill (Margaret Qualley), que perdeu o prazer de viver. Sem objetivos e sofrendo com a separação da mãe, ela perambula sem rumo pelas ruas e pela vida. Embora Laurie não tenha sido arrebatada, é como se ela tivesse desaparecido, com a diferença que seu corpo está presente, circulando pela cidade. Kevin Jr. e Laurie pareciam formar um casal feliz, mas nenhum dos dois estava plenamente satisfeito com a vida que levavam. O evento serviu como desculpa para separar o casal.

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O pai de Kevin Jr. é outro problema em sua vida. Kevin pai (Scott Glenn) era um profissional de carreira. Chefe da polícia de Mapleton, Nova Iorque, ele mantinha um relacionamento com Lucy (Amanda Warren), prefeita da cidade. Após o evento, ele passou a escutar vozes, que lhe dão ordens. Sem conseguir explicar àqueles que estão à sua volta o que está acontecendo com ele ou de quem são essas vozes, Kevin pai se interna em uma clínica para pessoas com problemas mentais. Quando frustrado, ele apela para a violência, o que o torna uma pessoa perigosa. Kevin pai é o único que parece saber mais que os outros sobre o que aconteceu, mas é incapaz de nos explicar.

Ao longo da série Kevin Jr. conhece Nora (Carrie Coon), irmã de Matt, uma mulher que sofre com a perda do marido e dos dois filhos, que desapareceram no evento do dia 14 de outubro. Por ter perdido toda sua família, ela se tornou um símbolo da dor daqueles que perderam alguém. Nora trabalha para o governo, entrevistando pessoas que se candidataram para receber a compensação financeira pela perda de seu familiar. Ainda lutando contra a dor da perda e do sentimento de culpa, Nora encontra em Wayne uma resposta aos seus problemas e em Kevin Jr. uma nova chance de voltar a ter uma vida normal.

Mas Kevin Jr. está longe de ter uma vida normal. Como se não bastasse os problemas gerados por aqueles que o cercam, ele ainda precisa lidar com sua própria ‘loucura’. Temendo ficar como o pai, Kevin Jr. tenta entender seus próprios atos. Quando dorme, ele parece assumir outra personalidade, que se levanta para realizar atos que Kevin Jr. normalmente não faria. Entre eles, unir-se a Dean (Michael Gaston), que posa como seu anjo da guarda, para matar cachorros que, ao perderem os donos no dia 14 de outubro, se tornaram selvagens. Sua situação se agrava quando Kevin Jr. decide descontar toda sua raiva e frustração em Patti (Ann Dowd), a líder dos Remanescentes Culpados de Mapleton.

Patti era paciente de Laurie antes do evento do dia 14 de outubro. Assustada e insegura, sofrendo abusos do marido, ela parece ter pressentido que algo muito grave ocorreria em breve. Com o desaparecimento, ela se torna uma pessoa obstinada, assumindo a postura de alguém que tem certeza saber o que está acontecendo. Patti não teme a autoridade e comanda seu grupo com punho de ferro. Ela é a única que se permite se comunicar com a voz, sempre que considera ser necessário. Uma das primeiras vezes que a escutamos é quando ela se dirige à Megan (Liv Tyler), uma mulher que perdeu a mãe no dia anterior ao desaparecimento da população. Tentando manter a ‘normalidade’, ela segue com sua vida. Prestes a se casar com um homem que não ama, ela se rende aos apelos do grupo de Patti e se une aos Remanescentes Culpados.

O passado de uma parte dos personagens é narrado em flashbacks ao longo da temporada. Alguns têm um episódio inteiro para mostrar quem eles eram antes do dia 14 de outubro; outros têm apenas uma cena revelada ao público. A temporada encerra com uma situação de caos absoluto. Medo, raiva e frustração vêem à tona, levando as pessoas a ultrapassar seus limites. Kevin Jr. faz um desejo, que pode ou não ter sido atendido, e Laurie questiona suas escolhas. Em meio a tudo isso, Nora encontra um novo sentido para sua vida: o escolhido, que representa um novo começo ou a esperança da renovação da fé no futuro.

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A série já garantiu sua segunda temporada. Exibida no Brasil pela HBO, The Leftovers está disponível no Now.

Estrelas4

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