Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Nova Temporada Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Fernanda Furquim
Este é um espaço dedicado às séries e minisséries produzidas para a televisão. Traz informações, comentários e curiosidades sobre produções de todas as épocas.
Continua após publicidade

Opinião: ‘Sense8′, primeira temporada

No inicio de junho, o site de streaming Netflix disponibilizou a primeira temporada de Sense8, série criada por J. Michael Straczynski (Babylon 5) e os irmãos Lana e Andy Wachowskis (Matrix). A primeira temporada tem doze episódios produzidos. Tal como ocorre com a maioria das séries americanas, esta também foi planejada para ter uma trama desenvolvida […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 31 jul 2020, 01h09 - Publicado em 14 jun 2015, 18h57
Sense8

O elenco de personagns de ‘Sense8′. (E-D) Em pé: Sun, Will, Riley e Kala. Sentados: Capheus, Nomi, Wolfgang Lito. (Fotos: Murray Close/Netflix)

No inicio de junho, o site de streaming Netflix disponibilizou a primeira temporada de Sense8, série criada por J. Michael Straczynski (Babylon 5) e os irmãos Lana e Andy Wachowskis (Matrix). A primeira temporada tem doze episódios produzidos. Tal como ocorre com a maioria das séries americanas, esta também foi planejada para ter uma trama desenvolvida em cinco temporadas. No entanto, ainda não há informações sobre a renovação da série, que tem conseguido conquistar uma boa receptividade de público (e burburinho nas redes sociais), mas não de crítica.

A série parte da premissa, ou ideia inicial, de que originalmente somos todos sensitivos, mas cada pessoa pertenceria a um grupo. Na história, para que o indivíduo de um grupo consiga penetrar em outro, é necessário que ocorra um contato entre os membros através do olhar. Neste primeiro momento, a trama gira em torno de um grupo de oito pessoas espalhadas pelo mundo que se encontram conectadas através da mente e das emoções, sem a ajuda de algum tipo de equipamento ou realidades virtuais. Capazes de se ver e conversar como se estivessem no mesmo lugar, eles se ajudam com seus problemas pessoais e imediatos, chegando ao ponto de assumir o lugar um do outro quando necessário.

A ideia da série surgiu há cerca de sete anos quando, durante uma conversa, Lana, Andy e Straczynski começaram a debater a forma como a tecnologia une e divide as pessoas em grupos. Através da Internet, pessoas que vivem em diferentes partes do mundo conseguem se conectar e conversar sobre um determinado filme ou programa que estão assistindo naquele exato momento. E se esta conexão e troca de experiências pudessem ser feitas sem o auxílio da tecnologia?

Continua após a publicidade

Tendo conseguido estabelecer sua produção original, os canais a cabo (incluo o Netflix e outros sites de streaming nesta categoria por terem acesso pago), nacionais e internacionais, oferecem diversos títulos novos a cada ano. Para conseguir destacar seu produto dos demais, eles estabeleceram uma regra simples para aprovar uma nova produção. A série precisa oferecer algo totalmente diferente, mas não tão fora do comum que o público seja incapaz de se identificar com personagens e situações, ou identificá-las com facilidade.

Tentando se adaptar a esta regra, os produtores se viram diante de duas opções: oferecer séries com temas diferentes/inéditos encaixados em uma fórmula já testada e aprovada pelo público; ou séries com temas já conhecidos e aprovados, mas narrados de uma forma diferente/inédita. Sense8 se enquadra na primeira opção. Ela oferece um tema pouco explorado pelas séries de TV, mas acorrentado ao velho ‘feijão com arroz’ que de tanto requentar já perdeu o gosto. Em outras palavras, temos uma história sobre o próximo estágio da evolução humana, presa a uma trama na qual o grupo é perseguido por uma pessoa/organização poderosa que deseja capturá-los e controlá-los/matá-los.

S1S8-1

Continua após a publicidade

Este tema já foi tratado na produção britânica da década de 1970, Seres do Amanhã/The Tomorrow People, que teve ao longo dos anos dois remakes mal sucedidos. Esta série acompanha a vida de jovens com poderes extra-sensoriais que, ao atingir uma determinada idade, começam a buscar mentalmente uma conexão com outros como eles. Enquanto isso, são perseguidos por grupos que desejam capturá-los.

Outras produções que poderiam ser citadas como precursoras do que é visto em Sense8 são: Contratempos/Quantum Leap, série da década de 1980 que apresenta um cientista viajando pelo tempo, tendo como referência a física quântica. Ele é capaz de saltar aleatoriamente no seu próprio período de tempo, assumindo o lugar de outras pessoas no passado (com quem cria uma empatia) e realizando as tarefas que elas deveriam ter feito em um determinado momento de suas vidas. Aqueles que as cercam enxergam a pessoa cuja identidade o cientista assumiu. Realizada a tarefa, ele salta novamente no tempo.

Temos também Sleepwalkers e VR5, duas produções da década de 1990. A primeira gira em torno de um grupo de cientistas que criou um aparelho capaz de levá-los a penetrar nos sonhos das pessoas com problemas psiquiátricos. Lá, os cientistas entram em contato com elas, ajudando-as a enfrentar seus temores. A segunda série acompanha a vida de uma hacker que conseguiu criar um mundo virtual no qual entra em contato com pessoas que estão em diferentes lugares. O que ela faz neste mundo reflete na vida real de cada um. Nesta mesma linha temos também Caprica e Harsh Realm. Vale também lembrar Seis Graus de Separação/Six Degrees, na qual seis pessoas se vêem conectadas por uma série de misteriosas coincidências.

Continua após a publicidade

Quando Sense8 tem início, vemos um casal de sensitivos enfrentando um perigo iminente provocado por Whispers (o cantor da Broadway Terrence Mann), o vilão da trama, outro como eles, que utiliza seu poder para o mal (ao menos, assim parece). Prestes a cometer suicídio, Angela (Daryl Hannah) libera em oito jovens espalhados pelo mundo, o mesmo poder que ela tem. A partir daí, a história passa a focar em cada um desses jovens e suas primeiras experiências com o mundo sensitivo, à lá Heroes, onde pessoas comuns descobrem ter super-poderes.

O tema, por si só, poderia gerar diversas possibilidades narrativas, que levariam os personagens a trajetórias completamente diferentes daquelas que estamos acostumados. Mas, por estar preso a uma regra, Sense8 é desperdiçada, ao menos nesta primeira temporada. Com personagens rasos, a série mergulha em situações clichês e questões sócio-culturais superficiais que apenas ‘marcam presença’.

Temos Capheus (o britânico Aml Ameen), um jovem africano fã de Jean-Claude Van Damme que, tentando conseguir remédio para a mãe HIV positiva, se envolve com as gangues de Nairóbi; em Seul, a economista Sun Bak (a sul-coreana Doona Bae), especialista em artes marciais, enfrenta o dilema de honrar uma promessa ou entregar à justiça membros da sua família responsáveis por desviar dinheiro da empresa que eles mantêm; no México, o ator de novelas e filmes de ação Lito (o espanhol Miguel Ángel Silvestre, de Velvet), tenta manter em segredo sua homossexualidade e seu relacionamento com outro homem; em São Francisco, a transexual e hacker Nomi (a também transexual Jamie Clayton), tenta manter um relacionamento com Amanita (a britânica Freema Agyeman, de Doctor Who), enquanto enfrenta a oposição de sua família que não aceita sua mudança de sexo; em Chicago, o policial Will Gorski (o americano Brian J. Smith, de Stargate Universe) tenta se livrar das lembranças de seu passado; em Mumbai, a farmacêutica hinduísta Kala (a indiana Tina Desai) está prestes a se casar com um homem que não ama; em Berlim, o assaltante Wolfgang (o alemão Max Riemelt) tenta se livrar da perseguição do crime organizado; e em Londres, a DJ Riley (a britânica Tuppence Middleton, de Spies of Warsaw), nascida na Islândia, tenta se livrar da dor da perda de seu  marido e filho.

Continua após a publicidade
Kala e Wolfgang

Kala e Wolfgang

Restritos a estas situações (e à perseguição de Whispers), os personagens vão se encontrando conforme suas necessidades, ajudando um ao outro com suas respectivas habilidades. A série não aprofunda o estranhamento deles à situação em que se encontram, tampouco os leva a buscar ajuda (ou pesquisar sobre o assunto) para tentar compreender e lidar com as experiências que estão tendo. Passado o choque inicial, eles aceitam a situação como normal e continuam vivendo suas rotinas como se nada de anormal estivesse acontecendo. Talvez por sentirem o que o outro sente, eles se aceitam rapidamente como amigos e confidentes.

Sense8 faz um esforço enorme para mostrar ao telespectador a personalidade de cada um, revelando também seu passado, em cenas de flashbacks. O que acaba provocando um efeito negativo. Ao invés de enraizar os personagens tornando-os mais densos, eles se tornam superficiais existindo apenas através de suas falas, nas quais todos seus sentimentos, opiniões e história são explicados para o público. Os diálogos se tornam assim excessivos, por vezes apelativos e redundantes. Mal trabalhados, eles se apóiam em frases de efeito que parecem ter sido extraídas diretamente de livros de autoajuda, sem qualquer tentativa de elaborá-las ou torná-las menos óbvias.

Continua após a publicidade

Para piorar, considerando que esta é uma produção hollywoodiana (embora lide com culturas diversas), não poderiam faltar as cenas de ação com perseguições, tiroteios e lutas corporais sensacionalistas nas quais nossos heróis conseguem vencer o mal, sem sofrer um arranhão ou ferimentos graves, enquanto bandidos morrem ‘às pencas’ (exceto os líderes das gangues/organizaçõess, que precisam sobreviver para continuar a oferecer perigo para eles no futuro). Pela forma como ‘o perigo’ foi apresentado, ele não existe de fato, visto que os oito conseguem (com a ajuda uns dos outros) escapar facilmente das situações em que se envolvem, solucionando rapidamente seus problemas imediatos.

O que a série tem de positivo é o tema proposto, bem como a forma como os relacionamentos pessoais são apresentados. O que temos aqui são relacionamentos saudáveis entre casais, bem como entre pais e filhos (com exceção de Nomi e Wolfgang), típico das produções familiares dos anos de 1950 a 1970. Lito e Hernando (o mexicano Alfonso Herrera) conseguem estabelecer uma relação afetiva honesta, não se deixando influenciar por opiniões de terceiros (apesar do temor do ator em ter seu segredo descoberto). O mesmo vale para o relacionamento que existe entre Nomi e Amanita, que parecem totalmente dedicadas uma à outra, seja qual for a situação que estejam enfrentando. A relação que surge entre Riley e Will também se revela forte e saudável. Soma-se a eles o relacionamento entre pais e filhos que existe entre Capheus e a mãe, bem como entre Riley e o pai, e Kala e os pais. Até mesmo a relação entre Kala e o noivo que ela não ama é mais positiva que a de muitos casais retratados nos dramas atuais.

Pela forma como a primeira temporada encerra, os produtores têm a opção de definir qual o melhor caminho para continuar contando sua história. Eles poderão continuar presos às fórmulas e clichês já testados por outras produções e aprovados pelo público, ou poderão se libertar deles, agora que a situação que os personagens vivem já foi estabelecida. Meu voto é o de que se libertem. O tema proposto por Sense8 grita por isso.

Estrelas2

Cliquem nas fotos para ampliar. 

#gallery-1 {
margin: auto;
}
#gallery-1 .gallery-item {
float: left;
margin-top: 10px;
text-align: center;
width: 25%;
}
#gallery-1 img {
border: 2px solid #cfcfcf;
}
#gallery-1 .gallery-caption {
margin-left: 0;
}
/* see gallery_shortcode() in wp-includes/media.php */

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.