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Por Fernanda Furquim
Este é um espaço dedicado às séries e minisséries produzidas para a televisão. Traz informações, comentários e curiosidades sobre produções de todas as épocas.
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50 anos de ‘Quinta Dimensão’

No dia 16 de setembro, Quinta Dimensão/The Outer Limits completa 50 anos de produção. Esta é uma série de ficção científica que surgiu na esteira do sucesso de Além da Imaginação. Embora não tenha consigo a mesma repercussão, Quinta Dimensão ganhou, ao longo dos anos, status de cult, sendo lembrada até hoje por muitos fãs do […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 1 dez 2016, 15h46 - Publicado em 8 set 2013, 16h11

Arte de divulgação da série em 1963 (Fotos: ABC/Arquivo)

No dia 16 de setembro, Quinta Dimensão/The Outer Limits completa 50 anos de produção. Esta é uma série de ficção científica que surgiu na esteira do sucesso de Além da Imaginação. Embora não tenha consigo a mesma repercussão, Quinta Dimensão ganhou, ao longo dos anos, status de cult, sendo lembrada até hoje por muitos fãs do gênero.

A série surgiu em uma época em que a ficção científica estava começando a tomar forma na TV americana. O veículo a tratava como um gênero quase que exclusivo para o público infantil. Embora tenham existido experiências anteriores, foi a boa receptividade crítica conquistada por Além da Imaginação que levou os executivos dos canais americanos a pensarem neste gênero como algo que também poderia ser oferecido ao público adulto.

Na década de 1950, o teleteatro era o formato que validava a televisão junto à crítica. Os humorísticos, sitcoms e séries em geral eram vistos como programas de entretenimento escapistas para atender o interesse de um grande público. O teleteatro era um formato de programa que apresentava uma história diferente a cada semana, retratando situações dramáticas, apoiadas no desenvolvimento psicológico dos personagens.

Inicialmente, os teleteatros oferecidos pelos canais da TV americana adaptavam peças e obras literárias, em episódios com 51 minutos de duração. Mas, temendo que o avanço da televisão prejudicasse seus negócios, os executivos dos grandes estúdios de cinema iniciaram uma campanha para difamar o veículo e limitar seu campo de ação. Uma das estratégias foi, justamente, prejudicar o formato de programa que validava a televisão junto à crítica. Assim, os estúdios começaram a adquirir os direitos de adaptação de peças e livros, mesmo sem a intenção de produzir uma versão cinematográfica, apenas para garantir que a televisão não pudesse adaptá-los. Isto levou os canais a investirem cada vez mais em textos originais, empregando novos roteiristas (muitos dos quais rejeitados pelos grandes estúdios). Muitos destes textos originais foram aplaudidos pela crítica, sendo que alguns deles chegaram a ser adaptados para o cinema, como foi o caso de Doze Homens e uma Sentença e Marty (que ganhou o Oscar de melhor filme, roteiro, ator e diretor em 1956).

Buscando aproveitar o sucesso deste formato e validar criticamente seu programa, vários produtores de séries adotaram a mesma estrutura oferecida pelos teleteatros, ou seja, apresentavam diferentes histórias a cada episódio, apoiando-se no drama psicológico e social vivido pelos personagens, que eram interpretados por diversos atores. Inicialmente, o gênero de ficção científica e fantasia voltado para o público adulto também seguia este formato, a exemplo de Além da Imaginação, Um Passo Além Science Fiction Theatre. Quando Quinta Dimensão surgiu em 1963, adotou o mesmo formato.

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David McCallum em ‘The Forms of Things Unknown’

A série foi criada por Leslie Stevens, autor teatral, roteirista, diretor e produtor que, no final da década de 1950, montou sua própria empresa, a Daystar Productions.

Como roteirista, Stevens queria poder controlar seu texto, mantendo intacto o que foi escrito. Assim, ele se tornou diretor. Como diretor, ele queria manter o controle de sua obra. Assim, se tornou produtor. Como produtor, ele desejava manter o controle de seu produto. Assim, ele criou sua própria empresa.

Para manter a empresa funcionando, Stevens precisava oferecer constantemente novos produtos. Por isso, ele ampliou seu campo de atuação. Além do cinema, Stevens decidiu que também ofereceria produtos para a televisão. Nesta época, os grandes estúdios davam as costas para a TV, o que permitiu o avanço dos pequenos estúdios.

A primeira série que Stevens criou e produziu para a televisão foi Stoney Burke, um faroeste exibido pela ABC e estrelado por Jack Lord, que ficaria mundialmente famoso no final dos anos de 1960 por interpretar Steve McGarrett na versão original de Havaí 5-0.

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Durante o período de produção de Stoney Burke, que teve apenas uma temporada, Além da Imaginação conquistava o público e a crítica na rede CBS. Em conversa com Daniel Melnick, vice-diretor de programação da ABC, Stevens descobriu que, para derrotar a concorrência do programa de Rod Serling, Melnick seria capaz de aprovar a produção de qualquer série que oferecesse histórias com ‘um monstro por semana’.

Assim, Stevens desenvolveu o projeto de Quinta Dimensão, que na época recebeu o título de Please, Stand By. Fã de ficção científica, ele procurou aliar seus interesses aos do canal. Sabendo que não teria tempo de cuidar da produção da série (caso ela fosse aprovada) ao mesmo tempo em que mantinha sua empresa, Stevens chamou seu amigo Joseph Stefano, roteirista de Psicose, filme de Alfred Hitchcock, para assumir o cargo de showrunner.

Na época em que foi convidado, Stefano tinha finalizado a primeira versão do roteiro de Marnie, filme de Hitchcock que seria estrelado por Grace Kelly. Mas o casamento da atriz com o Príncipe de Mônaco a levou a recusar o convite para voltar a atuar. Com isso, a produção do filme estava parada. Ao convidar Stefano para trabalhar em seu novo projeto para a televisão, Stevens deixou claro que ele estaria no comando da produção, além de supervisionar os roteiros (o que significaria reescrever ou escrever novos episódios). Este desafio teria convencido Stefano a se afastar de Marnie e aceitar Quinta Dimensão.

William Shatner em ‘Cold Hands, Warm Heart’

Ao contrário de Stevens, Stefano não era fã de ficção científica. Ele gostava de escrever dramas com desenvolvimento psicológico. Sem compreender direito este universo, mas recebendo dicas de Stevens, ele desenvolveu um programa que transformaria em realidade os sentimentos de medo e terror que pairavam no ar em função das questões políticas que os EUA enfrentavam na época. Estes seriam os ‘monstros da semana’, que poderiam ser representados por criaturas horrendas com comportamento humano, ou seres humanos com comportamento monstruoso.

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O primeiro episódio foi produzido e oferecido à rede ABC. Na história, escrita por Stevens, um engenheiro utiliza uma estação de rádio para fazer pesquisas eletromagnéticas. Como resultado, ele entra em contato com um alienígena de outra galáxia, que também está fazendo pesquisas nessa área. Conversando através de um aparelho de TV, o engenheiro descobre que o alienígena acredita que o eletromagnetismo é a manifestação viva de Deus.

Durante essa conversa, uma pane faz com que o alienígena seja materializado na Terra. Mas sua composição física é um perigo para a natureza e para as pessoas. Radioativo, provocando distúrbios elétricos e alterando o clima, o alienígena se torna uma ameaça que precisa ser eliminada pelas autoridades.

O canal gostou ‘do monstro’ e dos efeitos visuais, o que levou à aprovação da série. Para evitar confusão, a ABC pediu que o título da série fosse mudado. Please Stand By era a chamada utilizada pelos noticiários para apresentar um novo boletim de notícias. Stevens sugeriu Beyond Control, que também foi rejeitado pelo canal. Foi então que surgiu o título definitivo, The Outer Limits.

Neste primeiro momento, a única coisa que a ABC pediu que fosse incluída na série foi um apresentador, que introduziria a trama que seria narrada em cada episódio e serviria como referência ao programa. Este era um ‘personagem’ comum nos teleteatros e séries que utilizavam o mesmo formato. Assim surgiu a ‘voz do controle’, como a narração era chamada.

Dizem que a ideia de colocar um narrador que se apresentava como alguém que controlava o aparelho de TV do telespectador surgiu do filme Sob o Domínio do Mal/The Manchurian Candidate, lançado em 1962. Neste filme, a televisão era vista como um veículo capaz de controlar a mente de uma sociedade.

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John Hoyt em ‘The Bellero Shield’

Assim, cada episódio de Quinta Dimensão iniciava com uma imagem distorcida e a voz do ator Vic Perrin com um alerta ao público: ‘Não há nada de errado com sua televisão. Não tente ajustar a imagem. Estamos controlando a transmissão. Se quisermos deixar o volume mais alto, nós o aumentaremos. Se quisermos deixar mais baixo, nós o faremos. Nós controlamos a horizontal e a vertical. Podemos mexer na imagem e mudar o foco. Durante a próxima hora, nós controlaremos tudo o que você vai ver e ouvir. Repetindo: não há nada de errado com sua televisão. Você está a ponto de participar de uma grande aventura. Você está a ponto de experimentar o temor e conhecer o mistério que existe na mente, alcançando … a Quinta Dimensão’.

(Não sei exatamente como era a versão em português, mas na tradução seria mais ou menos assim).

A primeira temporada foi exibida nas noites de segunda-feira entre setembro de 1963 e maio de 1964, com um total de 32 episódios.

Sem conseguir conquistar um grande público, a série se tornou uma dor de cabeça para a rede ABC. Isto porque as histórias se apoiavam em tramas e personagens considerados complexos demais para o público acompanhar, lidando com temas e criando situações que eram constantemente criticados ou eliminados dos roteiros pelo departamento de censura do canal, que exigia menos alegorias ou situações que permitissem dupla interpretação.

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Tudo que a ABC queria era uma série de ficção científica com ‘um monstro por semana’ sendo derrotado pelo herói da história. O que os produtores ofereciam era uma produção que exigia a atenção redobrada do público, sendo que, muitas vezes, ‘o monstro’ demorava muito para aparecer e, em boa parte dos casos, ele nem era o vilão.

Insatisfeita com o produto, mas considerando que a série tinha um público jovem cativo e baixo orçamento, a ABC renovou Quinta Dimensão para sua segunda temporada. No entanto, transferiu sua exibição para as noites de sábado (período em que o público jovem saía para se divertir em festas e bares) e reduziu ainda mais seu orçamento. Segundo Stevens em entrevista à revista Starlog, a série tinha um orçamento de 150 mil dólares por episódio, valor que na segunda temporada foi reduzido a 80 mil dólares. A estratégia do canal provocou o cancelamento de Quinta Dimensão, que teve apenas dezessete episódios produzidos para sua segunda temporada. A série saiu do ar em janeiro de 1965.

Quem acompanha a produção de séries sabe que os canais da rede aberta costumam interferir no processo criativo de seus programas. Visando unicamente a audiência, os canais tentam satisfazer os interesses do grande público e dos anunciantes. O produtor que consegue oferecer conteúdo e conquistar uma grande audiência não terá grandes problemas para manter sua linha criativa. Já o produtor que oferecer um programa com uma audiência mediana (ou baixa mas com potencial para subir), terá que se adequar às mudanças criativas exigidas pelo canal. Caso contrário, o produtor é trocado por outro que saiba atender os interesses do canal. Esta é uma regra que ainda é colocada em prática hoje em dia.

Jill Haworth e David McCallum em ‘Sixth Finger’

Ao final da primeira temporada de Quinta Dimensão, o canal avisou aos produtores que em seu segundo ano a série mudaria para as noites de sábado, onde enfrentaria o humorístico The Jackie Gleason Show.

Sabendo que isto significava o fim do programa, Stefano foi contra. Acreditando que não valia a pena dedicar tanto tempo e esforço para manter uma série que já estava condenada ao cancelamento, ele avisou que não renovaria seu contrato caso Quinta Dimensão fosse transferida para as noites de sábado. Em apoio ao colega, Stevens informou a ABC que não assumiria a produção da série caso a decisão fosse mantida.

Coproduzida pela United Artists, a série ainda poderia continuar no ar mesmo sem a presença de Stefano ou Stevens. Assim, o produtor Ben Brady, que na época trabalhava para a ABC e tinha sido um dos responsáveis por aprovar a produção da série, se prontificou a assumir o comando de Quinta Dimensão.

Tentando manter a qualidade do programa, Brady ficou com alguns dos roteiristas que já tinham trabalhado na primeira temporada e chamou outros, entre eles, Harlan Ellison, que assinou dois episódios. Brady também utilizou o recurso de adaptar contos de ficção científica mas, com exceção de um ou outro episódio, ele não conseguiu manter a qualidade oferecida pela série em sua primeira temporada.

Apesar do cancelamento de Quinta Dimensão, a rede ABC não ficou sem seu ‘monstro por semana’. Quando o canal percebeu que Stefano e Stevens não tinham a menor intenção de mudar os rumos criativos da série, eles aprovaram a produção de Viagem ao Fundo do Mar, criada por Irwin Allen, que já tinha produzido com sucesso um filme para o cinema estrelado pelos mesmos personagens. Embora o filme já servisse de referência para o canal e para o público, a ABC pediu um episódio piloto para avaliar a capacidade de Allen de transportar o filme para a TV. O fato de que os cenários já existiam e que cenas de ação poderiam ser reutilizadas eram pontos a favor no controle do orçamento.

Allen nunca negou que não se interessava pelo desenvolvimento psicológico de seus personagens ou situações propostas. Tudo o que ele queria era produzir histórias com muita ação e monstros (embora o primeiro ano de Viagem ao Fundo do Mar tenha dado mais atenção à trama e aos personagens).

Viagem ao Fundo do Mar conseguiu unir os interesses do canal e do produtor, bem como do público, que correspondeu de imediato, dando à série audiência ao longo das quatro temporadas e 110 episódios produzidos. Segundo Tim Colliver no livro The Making of Voyage to the Bottom of the Sea, a série estreou conquistando 20.8/38 de rating/share (veja como fazer a leitura dos números da audiência aqui). Dizem que Quinta Dimensão não chegava a 18% de share quando exibida no mesmo dia e horário.

Na década de 1980, a MGM, proprietária da United Artists, tentou reunir Stevens e Stefano para produzir uma versão cinematográfica da série. Mas ela não se concretizou. Na década de 1990, a ficção científica e fantasia ganhou um novo ânimo com Arquivo X, o que levou o canal Showtime a investir no remake de Quinta Dimensão. Esta nova versão teve um total de sete temporadas e 154 episódios produzidos, sendo que a última temporada foi exibida pelo SyFy.

Cliquem nas fotos para ampliar. No vídeo, cenas do episódio piloto.

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