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Por Kelly Miyashiro
Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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Ricos, dramáticos e diversos: séries adolescentes mudam seu protagonismo

'Sangue e Água', nova produção da Netflix, reforça tendência da proliferação de séries teens, porém com protagonistas que escapam ao padrão branco americano

Por Amanda Capuano Atualizado em 1 jun 2020, 11h33 - Publicado em 1 jun 2020, 11h14

Escolas de alto padrão, jovens ricos e muitas festas. Não é de hoje que a junção desses ingredientes tornou-se um lugar-comum manejado com eficiência pelos produtores de séries para atrair a audiência juvenil. O embrião da bem-sucedida tendência remonta ao final dos anos 70, quando California Fever, da CBS, levou às telas americanas a rotina badalada e recheada de dramas (dos mais pueris) de um grupo de adolescentes de Los Angeles. Embora com vida curta, a série de 10 episódios deixou um legado longínquo: a ela seguiram-se sucessos como Barrados no Baile e Dawson’s Creek, que fizeram a cabeça dos jovens nos anos 90, os fenômenos The OC e Gossip Girl, que arrebataram uma legião de seguidores na década seguinte, até os mais recentes sucessos como Pretty Little Liars, finalizada em 2017, e a atual Riverdale — todas apoiadas no universo ora glamoroso, ora problemático, de jovens colegiais com hormônios à flor da pele, popularidade exacerbada e familiares um tanto quanto relapsos.

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O número de séries do tipo se multiplicou de forma exponencial na última década, especialmente amparada por outro fenômeno: o streaming — leia-se, a Netflix. Elite, atual queridinha espanhola, é prova de que rostinhos bonitos e endinheirados atolados em encrencas é sucesso garantido. Em alta na plataforma, Sangue e Água, a primeira série sul-africana do canal, não foge à regra. Mas há um fato novo aqui: embora haja, sim, uma loira esbelta desfilando pelos corredores com modelitos da última tendência da estação, não é dela o protagonismo. A grande estrela em cena de Sangue e Água é Puleng Khumaloé (Ama Qamata), uma adolescente negra que se inscreve num luxuoso colégio em busca da verdade sobre o sequestro de sua irmã mais velha e prende o espectador em uma investigação que envolve tráfico humano e crianças perdidas.

Bolsistas do Colégio Las Encinas da série Elite, da Netflix – (Reprodução/Netflix)

Se não se pode afirmar que a série é um primor de roteiro, ela se mostra um saboroso passatempo aos adeptos dos mistérios e dramas juvenis, já que disputas de popularidade, relacionamentos proibidos e relações familiares conturbadas recheiam a trama. Para além disso, porém, a série aponta uma tendência crescente no nicho: embora os clichês mantenham-se inabaláveis, os rostos que dão vida a eles estão mudando — e são muito mais diversos e reais do que Blake Lively ostentando os seus nada humildes 1,78 metros de altura e cabelos louros esvoaçantes pela rica Nova York de Gossip Girl.

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O que não significa que os adolescentes tenham deixado de deliciar-se com a vida luxuosa de figuras tão inalcançavelmente belas quanto problemáticas. A já citada Elite, com seus jovens caucasianos padrões, e donos de mansões com vistas panorâmicas, é um exemplo disso – mas até nela, árabes em hijabs, garotos homossexuais e rostos latinos disputam o centro das atenções. Longe do luxo, outro exemplo que fez sucesso nos últimos meses foi a série Eu Nunca. Nela, a canadense com ascendência indiana Maitreyi Ramakrishn dá vida a protagonista Devi, uma adolescente americana filha de imigrantes indianos que se divide entre as duas culturas enquanto lida com os dilemas do amadurecimento e a perda do pai. Já entre os filme, Para Todos os Garotos que Já Amei – um romance água com açúcar digno de sessão da tarde – alçou Lana Condor ao patamar de estrela adolescente poucas vezes ocupado por atrizes orientais.

Cena da série Eu Nunca, da Netflix – (Netflix/Reprodução)

Embora a evolução seja louvável, o que se vê nas telas é, e sempre foi, fruto de demandas sociais do momento pelo qual o mundo passa. A exemplo disso, há de se lembrar Hollywood, que entre as décadas de 30 e 60, em meio ao regime de segregação racial norte-americano, teve os filmes censurados e proibia qualquer menção à miscigenação, renegando os personagens não brancos a papeis secundários. Na ponta oposta, para uma geração imersa em discussões sobre representatividade, ver-se nas telas é quase uma obrigatoriedade óbvia, e pode ser a diferença entre o triunfo e o fracasso – o que explica o sucesso de Eu Nunca nos Estados Unidos, lar de uma comunidade indiana numerosa, ou como o Brasil, que tem a maior comunidade japonesa fora do Japão, abraçou a protagonista de Para Todos os Garotos que Já Amei, Lara Jean, de peito aberto.

Em tempos, outro fator importante a se pesar é a internacionalização das produções audiovisuais. Com os streamings, as séries e filmes deixaram de ser restritas aos Estados Unidos, e cada vez mais conteúdos não-americanos pipocam entre os mais populares nas plataformas. Essa disseminação de conteúdos com origens diversas é combustível precioso no aumento da diversidade, já que a tendência é que atores locais assumam o protagonismo – como acontece com a sul-africana Ama Qamata em Sangue e Água. De um jeito ou de outro, a velha fórmula adolescente segue sendo o pote de ouro no fim do arco-íris para as grandes produtoras. Mas agora, de cara nova, e devidamente alinhada ao seu tempo. E como nunca, os tempos atuais pedem (com razão) por uma maior diversidade nas telas.

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