Como Manu Gavassi e outros influenciadores usam realities como vitrine
Do ‘BBB20’ ao ‘The Circle’, a TV se apoia na popularidade dos jovens famosos nas redes – enquanto eles ganham novo impulso com a velha mídia
Das novelas aos programas esportivos, é patente a tentativa da TV de correr atrás da internet. Os reality shows são o novo palco dessa batalha para se conectar aos jovens e às redes. Explorar a presença de influenciadores digitais entre os participantes virou quase uma regra no gênero. A Globo escalou um batalhão deles para o BBB20. Para ampliar o alcance de uma atração já cultuada, a MTV fez algo semelhante com De Férias com o Ex Brasil — Celebs, recheando só com influencers o elenco do show de azaração. A ideia do The Circle, formato que conquistou projeção global na Netflix em sua versão americana, é criar no laboratório televisivo novas personalidades digitais. No próximo dia 11, a plataforma lançará a versão brasileira do reality.
No The Circle, nove participantes que não se conhecem são isolados em apartamentos distintos e se comunicam entre si por mensagens virtuais. Os cinco finalistas só se veem no último episódio, quando tomam parte de um jantar e votam no vencedor (que, na versão brasileira, vai faturar 300 000 reais). Ao menos nos Estados Unidos o programa conseguiu projetar influencers de verdade. Shubham Goel, vice-campeão do The Circle americano, saiu da TV com um sonho nada modesto: quer ser governador da Califórnia. Aos 23 anos, o jovem de origem indiana já se candidatou anteriormente, mas perdeu. “Agora, com a popularidade que conquistei, estou confiante na vitória”, disse ele a VEJA. “As redes sociais abrem portas em nossa vida.” Antes de entrar no reality, o rapaz não tinha nem perfil pessoal na internet.
A presença de influencers nos realities traz lances reveladores sobre a categoria. A cantora Manu Gavassi era conhecida em um nicho musical específico, mas viu sua popularidade explodir no BBB: entrou no programa com 4 milhões de seguidores e, em menos de dois meses, já soma cerca de 9 milhões. Ela utiliza a vitrine da Globo para aumentar sua popularidade. Passou três dias gravando mais de noventa vídeos para postá-los nas redes enquanto estivesse no confinamento. Manu calculou até como ganhar likes com as roupas que veste no programa: assim que ela entra no ar com certo modelito, sua equipe posta no Instagram imagens dela com as mesmas peças. Os reality shows são bons para os negócios, mas podem também queimar o filme dos influencers. Eliminada há duas semanas, Bianca Andrade, a Boca Rosa, perdeu 80 000 seguidores em uma noite após apoiar os “machos tóxicos” na casa.
Publicado em VEJA de 11 de março de 2020, edição nº 2677