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Por Kelly Miyashiro
Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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Billy Porter rouba a cena em meio à farofa musical de ‘Cinderella’

Filme pesa a mão ao se levar a sério demais e subestima o público com frases de efeito cliché - mas sua fada madrinha de "gênero fluido" revela-se memorável

Por Amanda Capuano Atualizado em 8 set 2021, 10h07 - Publicado em 6 set 2021, 17h47

Uma órfã maltratada pela madrasta recebe ajuda de uma fada madrinha para ir ao baile e tentar uma chance única na vida de qualquer mulher dos séculos passados: se casar com um príncipe. Quando o relógio anuncia a meia-noite, a magia se esvai e a donzela foge antes que descubram sua verdadeira identidade, deixando para trás apenas um sapatinho de cristal. A receita de Cinderella já foi reproduzida em incontáveis adaptações, que se embrenham por enredos modernosos para trazer a trama para o século XXI. Na mais recente delas, lançada no Amazon Prime Video na sexta-feira, 3, Camilla Cabello é uma versão empreendedora e quebradora de tabus da princesa. Mas nada é mais 2021 do que Billy Porter como Fab G – uma fada madrinha negra e não-binária em vestidos estonteantes.

Infelizmente, o tempo de tela de Porter é curto, mas basta uma cena para que ele roube todo o filme para si, com direito a entrada triunfal. Trajado da cabeça aos pés com um vestido de gala dourado, um colar de brilhantes que toma todo o pescoço e de salto-agulha, Fab G passa longe da velhinha com ares de vovó que transformou uma abóbora em carruagem na clássica animação da Disney. Até alguns anos atrás, sua participação como fada madrinha seria impensável. Mas, depois de conquistar o público “montado” com vestidos de gala deslumbrantes nos tapetes vermelhos de grandes premiações, a escolha de Porter para o papel faz todo sentido.

Não bastasse a representatividade intrínseca a ele e e o visual de tirar o chapéu, o ator ainda entrega uma performance poderosa de Shining Star (do Earth, Wind & Fire) e arranca risadas com piadas ácidas, como quando alega que nem mágica consegue deixar sapatos femininos confortáveis. Se o filme fosse apenas a cena de Porter, já teria valido mais a pena do que as quase 2 horas do longa – que fica ainda mais sem graça quando comparado aos minutos de brilho do ator.

Não que a ideia de trazer uma história clássica, e naturalmente ultrapassada, para os tempos atuais não contenha boas intenções: a Cinderela da Amazon, ao contrário daquela da animação da Disney, não vê um príncipe encantado como sua única salvação. Em vez disso, seu sonho é ser uma mulher de negócios bem-sucedida e ganhar a vida vendendo vestidos em um reino que proíbe mulheres de terem seus próprios empreendimentos. Mas, ao tentar desenvolver a mensagem bonitinha, o filme pesa a mão por se levar a sério demais, e acaba soando como um amontoado exagerado, e esquecível, de música pop e frases de efeito que subestimam a geração z – felizmente, já bem ciente de que não precisa de um príncipe encantado para ser salva.

Diante da farofa musical e de diálogos que vão do insosso à completa vergonha alheia, o fato da fada-madrinha de Porter cair tão bem ao ator pode parecer uma sorte do destino, mas tem explicação: em entrevista ao Insider, a roteirista Kay Cannon revelou que Fab G foi o único personagem do filme que ela escreveu com um ator em mente. “Todos os atores vieram mais tarde, exceto Billy Porter”, admitiu. Questionado se aceitaria o papel, Billy saiu gritando de felicidade pela casa, e descreveu a chance como um sonho – até porque Whitney Houston, de quem é fã desde a infância, interpretou a fada madrinha em um Cinderella de 1997. “Quando eu tinha 14 anos, queria ser a versão homem de Whitney Houston. Recebi uma ligação e corri pela casa gritando: ‘Consegui o papel da Whitney Houston!”, contou à publicação. A ideia de que a fada não tivesse gênero partiu dele: “A coisa foi evoluindo e o que saiu dessa evolução foi que mágica não tem gênero, então fizemos o personagem sem gênero, com gênero-fluido ou como você quiser chamar”, explicou.

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Famoso no meio musical, Porter começou a carreira na Broadway, em 1994, com uma participação no revival de Grease, mas só ganhou visibilidade em 2013, quando foi agraciado com um Tony Award (o Oscar do teatro) pelo trabalho como a drag queen Lola em Kinky Boots, peça com trilha sonora de Cyndi Lauper que também lhe rendeu um Grammy de melhor álbum de teatro musical no ano seguinte. Na televisão, seu primeiro papel expressivo veio na oitava temporada de American Horror Story, quando interpretou o personagem Behold Chablis, em 2018. A fama inquestionável veio em 2019, com outro sucesso de Ryan Murphy: a série Pose, que rendeu ao artista o posto de primeiro negro abertamente homossexual a levar para casa uma estatueta de melhor ator dramático no Emmy, além de arrebanhar uma legião de fãs. A combinação de títulos deixa Porter, aos 51 anos, a apenas um Oscar do cobiçado EGOT, uma seleta lista de apenas dezesseis artistas em toda a história que levaram para casa as estatuetas dos quatro principais prêmios da TV, música, cinema e teatro. Se seguir salvando filmes perdidos, como fez com Cinderella, não é difícil que cave uma vaga no grupinho.

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