Vermelho da cor do verme
São muitos os sinônimos de vermelho em português, mas não cabe dúvida de que esta é a palavra principal que usamos para nomear a cor do sangue. Uma palavra que, curiosamente, descende do latim vermiculus, “vermezinho” – mais especificamente a cochonilha (foto), nome genérico de um parasita de plantas, espécie de pulgão, do qual se […]
São muitos os sinônimos de vermelho em português, mas não cabe dúvida de que esta é a palavra principal que usamos para nomear a cor do sangue. Uma palavra que, curiosamente, descende do latim vermiculus, “vermezinho” – mais especificamente a cochonilha (foto), nome genérico de um parasita de plantas, espécie de pulgão, do qual se extrai desde a antiguidade um corante intensamente vermelho.
O vermelho levou a língua portuguesa a deixar em segundo plano os descendentes das palavras que, em latim, nomeavam preferencialmente essa cor: ruber ou rubeus, de onde vieram o francês rouge e nosso “rubro”; e russeus, “vermelho escuro”, matriz do espanhol rojo, do italiano rosso – e ainda, num desvio cromático considerável, do nosso “roxo”.
Segundo o dicionário Saraiva, vermiculus já era usado em latim nos primeiros séculos da era cristã com os sentidos de “cochonilha” e ainda de “escarlate”, por autores como Isidoro e Jerônimo. Isso basta para atestar que o verbete “cochonilha” da Wikipédia erra feio ao tratar a propriedade corante do “vermezinho” como algo que o Velho Mundo teria aprendido com a cultura asteca alguns séculos mais tarde.
O vermiculus deixou sua marca cromática em outras línguas neolatinas, mas em nenhuma delas com a posição de vocábulo dominante. Vermeil (francês), vermiglio (italiano), bermejo (espanhol) e até vermilion (inglês, que não é uma língua neolatina mas às vezes gostaria de ser) são sinônimos mais ou menos rebuscados que traduzem variações sutis do vermelho. Como, entre nós, “rubro”, “escarlate”, “encarnado”, “coral”, “solferino” etc.