Varejo: da ‘surra de vara’ à chegada da Amazon
“A Amazon estreia nesta quinta-feira seu site de vendas de livros físicos no Brasil, o que abre portas, em definitivo, para a gigante do varejo dar início a voos mais ambiciosos no país.” Assim começava a reportagem de Filipe Vilicic publicada ontem em VEJA.com, engordada por uma entrevista com Alex Szapiro, diretor-geral da Amazon no […]
“A Amazon estreia nesta quinta-feira seu site de vendas de livros físicos no Brasil, o que abre portas, em definitivo, para a gigante do varejo dar início a voos mais ambiciosos no país.” Assim começava a reportagem de Filipe Vilicic publicada ontem em VEJA.com, engordada por uma entrevista com Alex Szapiro, diretor-geral da Amazon no Brasil (foto).
Enquanto o mercado livreiro-editorial – mas não apenas ele – aguarda com apreensão os próximos movimentos da chamada “gigante do varejo” no Brasil, vamos falar de varejo, a Palavra da Semana.
Todo mundo sabe que esse é um termo do vocabulário do comércio que, no português brasileiro, se opõe a “atacado”. Seu sentido é o de “tipo de comércio no qual a venda é feita diretamente ao comprador final, e não ao intermediário”, e por extensão também o de “venda de mercadorias em pequenas porções ou quantidades” (Houaiss).
O que pouca gente sabe, por ser o tipo de informação que costuma se perder à medida que as palavras evoluem, é que varejo é um substantivo derivado do verbo “varejar”, que tem como acepção principal “golpear com vara”. Por extensão, varejar ganhou ainda os sentidos de “fustigar, surrar” e “arrasar, destruir” – justamente aquilo que os concorrentes da Amazon temem que a “gigante do varejo” faça com eles.
E como foi que varejo, uma palavra do início do século XV, partiu de sua acepção original de “ato de bater com vara” e chegou ao sentido comercial hoje dominante? Para compreender isso é preciso levar em conta um outro sentido de vara, o de antiga unidade de comprimento brasileira, equivalente a 1,10m, que os vendedores de tecidos usavam para medir a mercadoria. O fato de varejo ter como sinônimo em Portugal a palavra “retalho” reforça essa tese.
Curiosamente, varejo ganhou também a acepção de “vistoria feita nas mercadorias em estabelecimentos comerciais e industriais a fim de verificar se existe alguma irregularidade” (Houaiss outra vez), um sentido que, talvez por mera coincidência, combina a vara severa do fiscal com a exposição de mercadorias aos olhos de todos que é característica do comércio varejista.
No entanto, a tese mais plausível nada tem a ver com o fiscal.