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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Tiquetaque, auau: viva a onomatopeia!

Onomatopeia é um nome feio: a alguns ouvidos, chega a sugerir vagamente uma erupção cutânea ou coisa parecida. Não é nada disso, como se sabe. Na verdade, trata-se de um fenômeno linguístico dos mais simpáticos, risonhos, democráticos: a formação de palavras pela imitação dos sons naturais. Exemplos de onomatopeia são as palavras tiquetaque, chuá, clique, […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 06h16 - Publicado em 12 Maio 2013, 10h00

Onomatopeia é um nome feio: a alguns ouvidos, chega a sugerir vagamente uma erupção cutânea ou coisa parecida. Não é nada disso, como se sabe. Na verdade, trata-se de um fenômeno linguístico dos mais simpáticos, risonhos, democráticos: a formação de palavras pela imitação dos sons naturais. Exemplos de onomatopeia são as palavras tiquetaque, chuá, clique, atchim, pum, reco-reco.

São criaturas lúdicas, as onomatopeias. Com seus pés plantados na oralidade, dimensão mais primitiva de qualquer idioma, estão sempre a nos lembrar que uma língua não é só esse instrumento altamente sofisticado e abstrato sem o qual os adultos sérios não conseguiriam se relacionar direito com as coisas e suas representações.

Diante das onomatopeias, somos lembrados de que ainda vive em nós – e viverá para sempre – aquele bebê que, aprendendo a falar, chama cachorro de auau. (A própria palavra bebê, aliás, tem origem provável numa onomatopeia, como imitação – inicialmente francesa, bébé – da fala infantil.)

Nem sempre é fácil reconhecer uma onomatopeia à primeira vista. Algumas passam por um processo conhecido como gramaticalização, incorporando-se à corrente principal da língua de tal forma que dão origem a novas palavras e se integram à paisagem. Se o verbo tiquetaquear é evidentemente derivado de tiquetaque (também grafado como tique-taque e tic-tac), barulhinho feito pelos relógios pré-digitais, bem mais complicado é distinguir em chiar, por exemplo, o próprio shhh da chiadeira que a maioria dos etimologistas ouve nele.

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Eis a grande beleza das onomatopeias: mesmo quando lidas, são ouvidas. Ainda que não se saiba de antemão o que querem dizer, adivinha-se. A arbitrariedade que mora no coração da maioria dos signos linguísticos (o que há de árvore na palavra “árvore” é rigorosamente nada) não se cria com elas.

Primitivas, moleques, subversivas, as onomatopeias comungam do princípio fundador da linguagem e são mais fortes do que parecem. Nossos dicionários se omitem sobre a possibilidade de um vocábulo como “ronco”, por exemplo, pertencer à família. Mas pertence? Bom, ronco tem linhagem nobre: descende do latim rhonchus, que por sua vez é filho do grego rhogkhós. Tudo certo, mas esse rhogkhós aí vem de quê? Cada um que julgue sua semelhança sonora com aquilo que nomeia.

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