Ser assertivo tem a ver com estar certo?
“Você já escreveu sobre o uso de ‘assertivo’ (de asserção, afirmação enfática) como se fosse uma declaração acertada? Esse uso vem se generalizando nas empresas, numa tentativa de sofisticar o discurso (como ‘a nível de’), como se a palavra viesse de certo e fosse escrita ‘acertivo’. Exemplo: ‘Esse dado é assertivo (!!) porque foi colhido […]
“Você já escreveu sobre o uso de ‘assertivo’ (de asserção, afirmação enfática) como se fosse uma declaração acertada? Esse uso vem se generalizando nas empresas, numa tentativa de sofisticar o discurso (como ‘a nível de’), como se a palavra viesse de certo e fosse escrita ‘acertivo’. Exemplo: ‘Esse dado é assertivo (!!) porque foi colhido diretamente da pesquisa’.” (Petrucio Chalegre)
Mais do que uma consulta, Petrucio traz uma informação – para mim, nova – sobre uma área à qual pouco tenho me exposto nos últimos anos: a dos modismos de linguagem que fermentam no ambiente corporativo.
Petrucio é assertivo. Isso quer dizer que faz uma afirmação categórica: o uso equivocado da palavra ‘assertivo’, garante ele, vem se generalizando nas empresas. Como toda asserção, esta pode ser verdadeira ou falsa, isto é, corresponder ou não aos fatos, mas seu autor assume responsabilidade por ela.
No mais, claro, o que o leitor afirma é indiscutível. Assertivo não tem nada a ver com certo. E um dado jamais poderá ser assertivo, pela razão singela de que dados não assumem responsabilidade por nada.
O que me leva a acreditar de saída no acerto da assertiva de Petrucio é o fato de que, conhecendo um pouco o patoá corporativo, já vi a ignorância e a mistificação se combinarem para produzir deformações muito semelhantes. Se nunca cruzei com o adjetivo assertivo escalado à força no papel de sinônimo de acertado, faz tempo que observo o sentido que a palavra ganhou no vocabulário especializado dos profissionais de recursos humanos – e que se relaciona apenas de modo tênue com seu significado na linguagem corrente.
Em princípio, nada de errado nisso. O problema é que a assertividade passou a nomear um feixe tão amplo de qualidades supostamente necessárias a bons profissionais – especialmente a “líderes” – que ganhou ares fetichistas. Tudo indica que foi esse o primeiro passo no caminho que leva ao erro observado por Petrucio.
“Assertividade é a habilidade social de fazer afirmação dos próprios direitos e expressar pensamentos, sentimentos e crenças de maneira direta, clara, honesta e apropriada ao contexto, de modo a não violar o direito das outras pessoas”, ensina a Wikipedia. “A postura assertiva é uma virtude, pois se mantém no justo meio-termo entre dois extremos inadequados, um por excesso (agressão), outro por falta (submissão). Ser assertivo é dizer ‘sim’ e ‘não’ quando for preciso.”
Tudo bem, mas, diante de qualidades tão cintilantes, não fico admirado de encontrar num desses fóruns da internet esta pergunta, de dolorosa ingenuidade: “O que é ser assertivo? Seria uma pessoa boa?”. Pior do que isso, só a resposta que acabou eleita como “a melhor”: “Assertivo designa aquela pessoa que procura manter uma certa ordem no que diz respeito a vários aspectos da vida, é assertiva aquela pessoa que cobra do outro aquilo que é justo, que paga suas contas em dia, enfim, procura ser justa. E qto a ser boa, sim, principalmente com ela mesma, pois a assertividade é a base de uma vida justa e equilibrada”.
Pois é: assertiva é a pessoa que “paga suas contas em dia”! Depois disso, o assertivo-acertado não parece um problema menor?