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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Rio 2016

Cena de ‘O mundo sem ninguém’, série do History Channel Flamengo. Rua Buarque de Macedo. Eu, buscando o fantasma do Alho & Óleo, Assombrado com um galalau caolho Que chorava no escuro – eu tinha medo! A minha sombra magra era um presságio Que os postes de luz negra da enseada Projetavam do mundo para […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 01h42 - Publicado em 5 abr 2015, 10h00
Cena de 'O mundo sem ninguém', série do History Channel

Cena de ‘O mundo sem ninguém’, série do History Channel

Flamengo. Rua Buarque de Macedo.
Eu, buscando o fantasma do Alho & Óleo,
Assombrado com um galalau caolho
Que chorava no escuro – eu tinha medo!

A minha sombra magra era um presságio
Que os postes de luz negra da enseada
Projetavam do mundo para o Nada
Como faróis alheios aos naufrágios.

Caíra o Rio! O ciclo estava findo
Do humor, da luz, da vida prazerosa.
A capital era uma chaga rosa
E verde e roxa, como um sol caindo.

Uma mendiga tipo moura torta
Se esparrama no chão, sobre uma pedra.
Compadecido, atiro-lhe moedas
E só então percebo que está morta.

É meia-noite. Vêm os urubus.
À hora cheia explode o Corcovado
(Um bando de milicos estrelados
Reclama o feito, em manifesto cru

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E analfabeto). Pés beirando o pânico
Tropeço nas manchetes da ruína:
Fogo cruzado arrasa Brás de Pina,
As chamas lambem o Jardim Botânico.

E o Rio, que já fora mais bonito
Que São Francisco, que uma Alexandria
Que uma Veneza, a joia mais tardia
Do bem-viver, morre, vira detrito

Apaga-se, como se apaga um pito.
Dá-se a pane total da geografia:
Às altas pedras cede a terra esguia;
O que era plano explode no infinito.

Horror, horror! O mato mata o mico;
O continente só contém desgraça;
O mar esconde o assassinato em massa
De xereletes, lulas e bonitos.

Já em decúbito, invoco Macedo
Entre os pombos que tombam das marquises.
Aonde Helenas, Leilas, Anelises?
Aonde a valsa de gentis folguedos?

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Que é feito, Deus, do espírito de Machado?
Valei Noel, Vinicius, Gil, Maria!
Estácio, tua guerra foi porcaria;
Didi, teus passes longos eram errados!

Mas Deus não ouve. Não ouve Cartola.
Heleno é lento; Pixinguinha, engodo.
Maracanã, meio imerso no lodo,
É tumba gélida onde jaz a bola.

Das artes, tantas, só restou o espólio
Inacessível, onde anjos azulejam.
Aqui, matinhos tíbios que vicejam
Se afogam nas lágrimas do caolho

Ácido turvo que nos pinga o fim.
É findo o mundo como o conhecemos!
Covardes, perguntamos: Merecemos?
Deus finalmente ouve, e diz que sim.

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