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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Quando as palavras viram suco de (a)caju

As palavras caju (fruta) e acaju (madeira avermelhada, especialmente o mogno, ou sua cor) não podiam ter raízes mais brasileiras: ambas são derivadas do mesmo termo tupi, aka’ju ou aka’yu (cajueiro). No entanto, durante muito tempo os puristas combateram as referidas acepções do segundo vocábulo: segundo eles, a não ser quando empregada como sinônimo de […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 09h59 - Publicado em 6 dez 2011, 15h55

As palavras caju (fruta) e acaju (madeira avermelhada, especialmente o mogno, ou sua cor) não podiam ter raízes mais brasileiras: ambas são derivadas do mesmo termo tupi, aka’ju ou aka’yu (cajueiro). No entanto, durante muito tempo os puristas combateram as referidas acepções do segundo vocábulo: segundo eles, a não ser quando empregada como sinônimo de caju ou cajueiro, a palavra acaju seria um galicismo, isto é, resultado de uma influência indevida do francês em nosso léxico. Como explicar uma coisa dessas?

Recuando no tempo, claro. Em primeiro lugar, ainda no século 16, a palavra tupi deu dois frutos praticamente simultâneos, tudo indica que independentes um do outro: o português caju, fruto do cajueiro, e o francês acajou, o próprio cajueiro (Anacardium occidentale). A primeira palavra teve seu registro inaugural com a grafia cajû em 1576, no “Tratado da província do Brasil”, de Pêro de Magalhães de Gândavo. A segunda apareceu um pouco antes, em 1557, no livro Les singularitez de la France antarctique, do viajante francês André Thévet, com a grafia acaïou.

Até aí, a história é cristalina como cajuína. A confusão começa quando, em 1640, registra-se pela primeira vez em francês – por obra de outro viajante, Jacques Bouton – a palavra acajou com sentido diferente: mogno, Swietenia mahagoni, uma árvore que não tem parentesco com o cajueiro. Segundo o Trésor de la Langue Française, é provável que tudo não tenha passado de um mal-entendido, esse grande motor secreto da etimologia: a sonoridade semelhante da palavra tupi akaya’ka (mogno, cedro-brasileiro), que entre nós deu em acaiacatinga, teria provocado a confusão.

Foi este segundo acajou francês que, cruzando o Atlântico de volta para desespero dos puristas, veio a dar nas tais acepções galicistas de acaju: mogno, mogno-brasileiro, cedro-brasileiro, cedro-cheiroso e, claro, um certo tom de tintura de cabelo.

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