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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Por que ‘inato’ não é o contrário de ‘nato’?

“Caro Sérgio, acho que só você pode me ajudar. Se inábil é o contrário de hábil, inválido o contrário de válido e infeliz o contrário de feliz, por que cargas d’água a palavra inato quer dizer a mesma coisa que nato? Eta língua sem lógica!” (Valdomiro Cardoso) A impressão de “língua sem lógica” que Valdomiro […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 05h44 - Publicado em 25 jul 2013, 14h43

“Caro Sérgio, acho que só você pode me ajudar. Se inábil é o contrário de hábil, inválido o contrário de válido e infeliz o contrário de feliz, por que cargas d’água a palavra inato quer dizer a mesma coisa que nato? Eta língua sem lógica!” (Valdomiro Cardoso)

A impressão de “língua sem lógica” que Valdomiro tem é compreensível, mas deriva de duas suposições equivocadas.

A primeira é a de que o prefixo in-, que herdamos do latim, só possa ter o papel negativo que desempenha nos vocábulos inábil, inválido e infeliz. Na verdade, são duas as fontes latinas do prefixo. A segunda, que não indica negação, aparece em português com uma série de sentidos que o Houaiss resume assim: “em, a, sobre; superposição; aproximação; transformação”. Inato está neste segundo grupo.

O segundo erro – neste caso, um meio erro – é imaginar que os adjetivos nato e inato tenham exatamente a mesma carga semântica. Não têm, embora a diferença entre eles seja sutil. Nato veio do latim natus (“nascido”); inato, do latim innatus (“nascido em ou com”), quer dizer, “congênito, que nasceu com alguém”.

Embora haja casos em que as duas palavras são intercambiáveis, como veremos abaixo, o que se observa na maioria das ocorrências modernas é a aplicação de cada uma delas a um aspecto da mesma proposição. Imagine-se um pianista tão talentoso que desperte o seguinte comentário: “Esse nasceu para tocar piano”. Em outras palavras, é um pianista nato. Seu talento, que nasceu com ele, é inato.

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Outra forma de compreender isso é considerar que nato qualifica em geral um ser vivo, tipicamente uma pessoa; inato, uma condição, faculdade ou característica. O raciocínio vale até para uma frase como “Fulano é um talento nato” – na qual a palavra talento ocupa, por metonímia, o lugar da própria pessoa talentosa.

A vida seria menos complicada se a coluna pudesse terminar aqui, mas não pode. É preciso registrar que nato tem também a acepção de… inato, pois é. Está correta uma frase como “Ele tem um dom nato para mentir”. A recíproca, porém, não vale: “Ele é um mentiroso inato” é erro mesmo.

Dito isso, e para embolar ainda mais a melodia, só falta acrescentar que existe também a palavra inato com prefixo negativo, cujo sentido é “não nascido”. Felizmente, esta é de uso bem mais raro.

*

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