Performance: se é proparoxítona, cadê o acento?
“Por que a palavra performance é pronunciada como proparoxítona, se não tem acento?” (Julio Holtz) Simples, Julio: porque performance não é uma palavra da língua portuguesa, mas um empréstimo que fomos buscar no inglês. Nossos dicionários, reconhecendo seu uso na língua do dia a dia, a registram, mas sem abrir mão do itálico que, pelo […]
“Por que a palavra performance é pronunciada como proparoxítona, se não tem acento?” (Julio Holtz)
Simples, Julio: porque performance não é uma palavra da língua portuguesa, mas um empréstimo que fomos buscar no inglês. Nossos dicionários, reconhecendo seu uso na língua do dia a dia, a registram, mas sem abrir mão do itálico que, pelo rigor das convenções, deveria discriminar os vocábulos estrangeiros.
Sim, esse itálico é ignorado pelos falantes, inclusive pela imprensa. Sensatamente, aliás: se fôssemos grifar cada marketing, cada show, cada internet que cruzam nosso caminho, a poluição gráfica de nossos textos seria cômica. De uso comum, mas resistentes ao aportuguesamento por razões diversas, essas palavras terminam por habitar uma zona cinzenta de fronteira.
(Acho que podemos deixar de lado a discussão sobre ter sido necessária ou supérflua a importação da palavra performance, quando tínhamos à nossa disposição desde o início do século XVIII o substantivo desempenho, que dá conta da maior parte de seus significados. Necessária ou não, a importação se consumou, e hoje performance tem acepções – um tipo específico de manifestação artística, por exemplo – que a palavra desempenho nem sonha em cobrir.)
Como vocábulo estrangeiro não aportuguesado, performance tem permissão para soar – mais ou menos – como em sua língua de origem, sem que a grafia precise traduzir tal perfil acústico segundo as regras do português. Como Julio bem observou, a palavra teria que virar “perfórmance” para se manter proparoxítona, caso fosse aportuguesada. Às vezes essa grafia aparece por aí, mas ainda parece ser de uso marginal.
A solução oposta, tentar mudar a pronúncia para adequá-la à grafia, teria o defeito grave de ignorar que a fala é sempre anterior à escrita na edificação de toda língua. Isso não impediu os sábios de aportuguesarem outro termo que importamos do inglês, o substantivo recorde (de record), sem acento, insistindo na pronúncia como paroxítona (recórde).
Não é uma experiência que se possa considerar um êxito. Neste caso o resultado, pelo menos no Brasil, é um amplo movimento de desobediência civil a favor da prosódia récorde.