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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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O tapa veio da taipa? Vice-versa? Ou nada disso?

“Olá, Sérgio. Etimologia com humor, parabéns! Minha dúvida é sobre a origem da palavra ‘tapa’, essa coisa de bater com a mão aberta no rosto de alguém (tem gente que usa ‘dei uma tapa’). No castelhano existe ‘tapia’, aquela técnica de construção em que duas pessoas batem o barro com as palmas da mão, de […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 09h16 - Publicado em 22 mar 2012, 16h19

“Olá, Sérgio. Etimologia com humor, parabéns! Minha dúvida é sobre a origem da palavra ‘tapa’, essa coisa de bater com a mão aberta no rosto de alguém (tem gente que usa ‘dei uma tapa’). No castelhano existe ‘tapia’, aquela técnica de construção em que duas pessoas batem o barro com as palmas da mão, de um lado e outro da parede. Na língua portuguesa temos ‘taipa’, com o mesmo significado da antiga técnica de construir paredes rústicas. Do gesto de bater com a mão no barro teria nascido a palavra ‘tapa’, no sentido brasileiro? Ou a explicação é outra? Caipira inclusive usa ‘dei um taipa no caipora’. Entre nós, ‘tapa’ também ganhou extensões semânticas, como ‘dei um tapa no visual’ (ajeitada). Obrigado.” Celso Ribeiro.

A dúvida de Celso nos leva a um terreno traiçoeiro. Sim, é verdade que nossa taipa veio do espanhol tapia e que tem, entre suas acepções figuradas e informais, a de sopapo, tapa dado com força. Mas seria um erro partir daí para concluir que reside na taipa a origem da palavra tapa. A contaminação entre esses dois vocábulos parece ter mão inversa: taipa ganhou a acepção secundária de sopapo por um processo lúdico que levou em conta uma dupla coincidência, a semelhança sonora e o fato de essa técnica rudimentar de construção incluir pancadas desferidas na parede de barro com a palma da mão.

A origem de tapa, a palmada, palavra de meados do século 19, está relacionada sem dúvida alguma à do verbo tapar, que é bem mais antigo. Os caminhos para se chegar a ela é que são controversos. Antenor Nascentes e o Houaiss apostam em tapa como forma reduzida de “tapa-boca”, palavra composta que anda em desuso, mas que designava uma bofetada na boca, destinada a fazer alguém se calar. Também pode ser que se trate de uma simples derivação regressiva, tapar virando tapa como fabricar virou fábrica.

Outra hipótese é que, como já existiam versões semelhantes da palavra em outras línguas antes do português (tape em francês e tap em inglês, por exemplo), nosso tapa seja uma importação. O fato é que, em todos esses casos, parece claro que há uma relação metafórica entre o sopapo e o ato de tapar, tampar, fechar uma abertura, para o qual não existe parte do corpo mais indicada do que a palma da mão. Em francês, escrevem-se da mesma forma, taper, os verbos que significam tampar e estapear.

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Etimologistas do mundo inteiro concordam que a raiz dessa família de vocábulos é um termo do gótico, antigo ramo do germânico falado pelos godos: tappon, tapar. A história de como essa palavra se tornou tão influente em tantas línguas, porém, parece ter se perdido.

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