O santo e o ‘santo’
Duas notícias de ontem fizeram de “santo” a Palavra da Semana. A primeira – e incomparavelmente mais importante – é positiva: “O papa Francisco assinou nesta quinta-feira, no Vaticano, a canonização do padre José de Anchieta (1534-1597) e o tornou oficialmente o terceiro santo brasileiro” (leia mais). A segunda é negativa, indireta e meio marota, […]
Duas notícias de ontem fizeram de “santo” a Palavra da Semana. A primeira – e incomparavelmente mais importante – é positiva: “O papa Francisco assinou nesta quinta-feira, no Vaticano, a canonização do padre José de Anchieta (1534-1597) e o tornou oficialmente o terceiro santo brasileiro” (leia mais).
A segunda é negativa, indireta e meio marota, pois se refere a alguém que pode ser tudo, menos santo: “O PSOL protocolou na Mesa Diretora da Câmara um pedido de investigação do vice-presidente da Casa, André Vargas (PT-PR), por ter usado um jatinho pago pelo doleiro Alberto Yosseff, preso pela Polícia Federal em uma megaoperação de combate à lavagem de dinheiro no país” (leia mais).
O vocábulo “santo” chegou ao português vindo do latim sanctus, particípio do verbo sancire, “estabelecer, consagrar”. Trata-se da mesma matriz de onde saíram o substantivo sanção, “aprovação, confirmação”, e o verbo sancionar. O primeiro sentido de sanctus era legal: “estabelecido, ratificado, confirmado”.
No entanto, uma extensão semântica ocorrida no próprio latim clássico cooptou a palavra para o campo religioso e gerou a acepção de “que tem caráter sagrado, venerável, augusto”. Tudo isso se passou antes da era cristã.
Quando desembarcou em português, no século XIII, a palavra já estava profundamente ligada à Igreja Católica e havia assumido, no latim eclesiástico, o sentido de “bem-aventurado”, nomeando os vultos históricos reconhecidos de forma oficial pelo Vaticano como especialmente próximos de Deus.
A extensão não ficou nisso, porém. A palavra também pode nomear (no Brasil) entidades de religiões afro-brasileiras e qualificar uma pessoa muito virtuosa ou muito ingênua – ou ainda, ironicamente, como lembra o Houaiss, aquela “que se finge inocente”.