O êxito pode ser bom ou ruim. Ou letal
A palavra êxito é menos um caso de curiosidade etimológica do que uma ilustração dos caminhos e descaminhos que uma palavra pode tomar ao longo da história. Basta dizer que nosso êxito, vocábulo luminoso que se consagrou como sinônimo de sucesso, triunfo, é parente do inglês exit, que quer dizer simplesmente saída, e ainda faz […]
A palavra êxito é menos um caso de curiosidade etimológica do que uma ilustração dos caminhos e descaminhos que uma palavra pode tomar ao longo da história. Basta dizer que nosso êxito, vocábulo luminoso que se consagrou como sinônimo de sucesso, triunfo, é parente do inglês exit, que quer dizer simplesmente saída, e ainda faz um bico surpreendente no jargão médico, em que a expressão “êxito letal” é um eufemismo de morte, óbito.
Tudo isso veio do mesmo lugar: o latim exitus, palavra que tinha os sentidos de “saída; morte, falecimento; resultado, conclusão; termo, fim”. Como se vê, já estavam contemplados desde o berço, na ideia de desenlace, os significados de exit e do êxito letal dos médicos. A surpresa, então, é que uma palavra tão vergada pelo peso da fatalidade tenha vindo a virar sinônimo de sucesso. Como isso terá acontecido?
Do mesmo modo que sucesso, a princípio um termo neutro, “aquilo que sucede”, acabou por se impregnar a tal ponto do sentido positivo da expressão “bom sucesso” que se tornou possível dispensar o adjetivo. O êxito, ou seja, o desenlace, a conclusão de determinado processo, também podia – e ainda pode, numa acepção pouco usada – ser bom ou ruim. Talvez se possa interpretar o fato de que a língua optou por dar uma de Pollyana e ver sempre o lado positivo da moeda como um sinal de otimismo atávico da espécie.