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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Faz sentido falar em ‘fotografia analógica’?

“Olá, Sérgio Rodrigues! Tudo bem? Câmara ou câmera? Eu também tinha essa dúvida. Tinha! Gostaria de sua opinião sobre outro termo muito usado nestes tempos de ‘câmeras digitais’. Quando se coloca a tecnologia anterior, as maravilhosas ‘câmeras convencionais’, designação que eu acho correta, ante as novas digitais, o pessoal do ramo usa ‘câmeras analógicas’ em […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 00h50 - Publicado em 29 jul 2015, 15h22

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“Olá, Sérgio Rodrigues! Tudo bem? Câmara ou câmera? Eu também tinha essa dúvida. Tinha!

Gostaria de sua opinião sobre outro termo muito usado nestes tempos de ‘câmeras digitais’. Quando se coloca a tecnologia anterior, as maravilhosas ‘câmeras convencionais’, designação que eu acho correta, ante as novas digitais, o pessoal do ramo usa ‘câmeras analógicas’ em contraponto com as ‘digitais’.

Na minha modesta opinião, como profissional da Fotografia e da Eletrônica, o uso da palavra ‘analógica’ não faz sentido, pois instrumento analógico é aquele que compara uma medida a um padrão estabelecido em norma técnica, uma escala onde um ponteiro indica certa medida, como num voltímetro, por exemplo.

Eu acho ‘fotografia convencional’ mais apropriado, pois, além de respeitar o fato histórico de que esta forma de captar imagens é pioneiro, é mais bonito que ‘fotografia analógica’.

Gostaria muito da sua apreciação!” (Marcos Manocchi)

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Não há dúvida de que Marcos tem o direito de lutar pela expressão “fotografia (ou câmera) convencional”, que considera mais justa e até mesmo mais bonita do que “fotografia (ou câmera) analógica”. Não é provável, porém, que muita gente lhe dê ouvidos.

Ocorre que o adjetivo “analógico” veio mesmo parar nessa história com a acepção que Marcos menciona – e que não se aplica com muita precisão a câmeras fotográficas –, mas sua carga semântica evoluiu em compasso com a rápida disseminação que experimentou nos últimos vinte ou trinta anos. Faz tempo que “analógico” qualifica tudo o que não é digital, ou melhor, tudo o que é pré-digital.

Parece ter sido o relógio o abre-alas do processo. A popularização das engenhocas com mostrador eletrônico criou a necessidade de qualificar como “analógico” o que até então era apenas o relógio propriamente dito, ou seja, aquele de ponteiros.

No caso, trata-se de um “analógico” clássico, de manual, como o que Marcos cita: aquilo “que representa determinada medida por meio de variáveis contínuas, análogas às magnitudes correspondentes (diz-se de dispositivo ou instrumento de medição)”, nas palavras do Houaiss.

Se é indiscutível que os dicionários estão devendo ao adjetivo “analógico” um pouco mais de atenção, compatível com o aumento exponencial de sua importância nas últimas décadas, convém reconhecer que, sabendo procurar, encontraremos na própria definição acima o germe do novo poder semântico da palavra: o de qualificar todas as formas de representação do mundo fora do universo digital, isto é, antes de serem codificadas no sistema binário da informática. O guarda-chuva aqui é imenso e engloba da fotografia à TV, do livro à música e o que mais vier.

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A chave está naquela representação “por meio de variáveis análogas às magnitudes correspondentes”. Uma imagem fotográfica convencional guarda uma evidente analogia (semelhança, correspondência) com seu modelo físico. Até uma canção gravada em LP tem uma analogia de proporções e medidas (número e profundidade de sulcos) com a massa sonora original.

Toda essa, digamos, concretude analógica se perde nos arquivos digitais, pura sequência de zeros e uns que, em sua abstração, não guarda semelhança alguma com aquilo que retrata ou reproduz enquanto não for decodificada.

*

Envie sua dúvida sobre palavra, expressão, dito popular, gramática etc. Às segundas, quartas e quintas-feiras o colunista responde ao leitor na seção Consultório. E-mail: sobrepalavras@todoprosa.com.br (favor escrever “Consultório” no campo de assunto).

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