Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Sobre Palavras Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
Continua após publicidade

Email não tem eu lírico

Ontem à tarde, falando da correspondência de Fernando Sabino com outros escritores – principalmente das cartas que ele trocou com Mário de Andrade e Clarice Lispector, publicadas nos livros “Cartas a um jovem escritor” e “Cartas perto do coração” – fiquei pensando em que buracos de fechadura irão os críiticos e historiadores culturais do futuro […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 10h04 - Publicado em 27 nov 2011, 14h51

Ontem à tarde, falando da correspondência de Fernando Sabino com outros escritores – principalmente das cartas que ele trocou com Mário de Andrade e Clarice Lispector, publicadas nos livros “Cartas a um jovem escritor” e “Cartas perto do coração” – fiquei pensando em que buracos de fechadura irão os críiticos e historiadores culturais do futuro bisbilhotar a intimidade dos escritores atuais, agora que a boa e velha carta é um gênero praticamente morto.

Eu conversava com dois colegas de jornalismo e literatura, Humberto Werneck e Luís Henrique Pellanda, no palco da Literata, um simpático encontro sediado em Sete Lagoas (MG), que este ano homenageou o autor de “O encontro marcado” . De nós três, Werneck revelou-se o maior entusiasta das cartas – até por uma questão geracional. Mas ninguém naquele palco ou na plateia conseguiu responder à pergunta: que meio de comunicação vai tomar o lugar das missivas como registro dos bastidores de vidas e carreiras que, no futuro, alguém achar interessante investigar?

Tecnicamente, como se sabe, foi o email que tomou o lugar das cartas. Mas isso, em vez de solução, é parte do problema. Voláteis, raramente impressos ou salvos deliberadamente em arquivos digitais, emails tendem a se desmanchar no ar, para começo de conversa. Ainda que se conservem, no entanto, o que fazer deles, com sua troca seca de informações, seus oks, abs e carinhas sorridentes? Email não tem eu lírico.

Escrever cartas ia muito além de simplesmente comunicar uma mensagem: era construir um personagem que escrevia cartas. Ou vários personagens, um para cada correspondente. Era encontrar um certa voz, um certo tom, algo que escritores, artistas da palavra, faziam com especial engenho. O missivista se expunha mais? Talvez se ocultasse mais, isso sim. Se existe verdade na famosa tirada de Nelson Rodrigues – “uma simples frase nos falsifica ao infinito” – o missivista era um tremendo falsificador. Mas são justamente essas estratégias de ocultamento as que mais revelam, embora a verdade desse paradoxo seja cada vez mais difícil de alcançar em nossa era de “transparência”, intimidades públicas e instantaneidade.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.