Canapés, mosquitos e tira-gostos
A palavra canapé, importada do francês no século 18 e hoje muito mais usada entre nós em seu sentido culinário, tem uma história divertida que ilustra bem as duas forças que costumam impulsionar a expansão de significados – a metonímia e a metáfora. Tudo começou no grego konopion, termo derivado de konops, “mosquito”. Konopion era […]
A palavra canapé, importada do francês no século 18 e hoje muito mais usada entre nós em seu sentido culinário, tem uma história divertida que ilustra bem as duas forças que costumam impulsionar a expansão de significados – a metonímia e a metáfora.
Tudo começou no grego konopion, termo derivado de konops, “mosquito”. Konopion era o mosquiteiro, o cortinado com que se protegiam leitos do ataque de insetos, e foi com esse sentido que migrou para o latim conopeum ou conopium.
Embora tenha desembarcado no francês canopé, no século 12, com idêntico significado, é legítimo supor que a palavra já fosse usada havia tempos para designar uma cama – ou outro móvel dedicado ao repouso – que tivesse por cima um mosquiteiro ou dossel. Eis a metonímia, que acabaria por engolir a palavra inteira, pois em meados do século 17 o cortinado tinha desaparecido do canapé francês, que até hoje significa simplesmente sofá – como também em português.
Curiosamente, como foi buscar a palavra no francês em sua primeira e mais literal encarnação, o inglês acabou dando a canopy, “dossel”, um sentido muito mais semelhante ao dos antepassados gregos e latinos.
E como foi que tudo isso acabou nomeando aqueles tira-gostos em que algum acepipe repousa sobre um naco de pão? É aí que entra a metáfora: embora essa acepção só tenha contaminado o português há cerca de meio século, já em 1787 os franceses tinham descoberto que havia graça na analogia entre as pequenas fatias de pão onde as guloseimas se refestelavam e… os sofás, pois é.