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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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‘Assumir’ pode ter o sentido de ‘supor’?

“Caro Sérgio, há algum tempo eu venho discutindo com amigos o uso que se faz do verbo ‘assumir’, principalmente em meios acadêmicos, onde as presunções feitas para se chegar a uma conclusão precisam ficar explícitas. Desde que eu entrei na Universidade, em 2001, usa-se correntemente o verbo assumir no seu sentido inglês, de presumir. No […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 04h50 - Publicado em 9 dez 2013, 10h45

“Caro Sérgio, há algum tempo eu venho discutindo com amigos o uso que se faz do verbo ‘assumir’, principalmente em meios acadêmicos, onde as presunções feitas para se chegar a uma conclusão precisam ficar explícitas. Desde que eu entrei na Universidade, em 2001, usa-se correntemente o verbo assumir no seu sentido inglês, de presumir. No entanto, o que me parece correto é que, em português, assumir não assume o sentido de presumir. É isso mesmo?” (Petterson Vale)

É isso mesmo, com uma única ressalva: as línguas vivas estão em constante movimento. No português vernacular o verbo “assumir” tem apenas os sentidos que trouxe do latim assumere, todos próximos da ideia central de “tomar para si”. Não é sinônimo de “supor, admitir, presumir”.

Essa ampliação do significado do verbo por contágio de outro idioma – no caso, como aponta acertadamente Petterson, o inglês – chama-se estrangeirismo semântico, aquele que, em vez de introduzir na língua um novo vocábulo, modifica o sentido de uma palavra já existente no vernáculo. Algo semelhante vem ocorrendo com o verbo “realizar”, que muita gente emprega na acepção anglófona de “compreender, dar-se conta de”.

Tais acepções emergentes podem ser vistas como deselegantes e até denotar um domínio precário da língua. Os falantes menos tolerantes chegam – com certa dose de razão – a apontar no fenômeno sinais de subserviência cultural. Nada disso impede a vitória dos estrangeirismos semânticos quando um número significativo de falantes os adota. Veja-se o caso do adjetivo bizarro, comentado recentemente aqui.

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O Houaiss registra a nova acepção de assumir como própria do vocabulário da filosofia. Petterson refere-se à linguagem acadêmica em geral. Bons observadores percebem que a novidade já pulou o cercadinho da universidade faz tempo.

O inglês to assume tem a mesma origem latina de nosso “assumir” e, a princípio, carregava o mesmo sentido. Data de fins do século XVI, segundo Douglas Harper, seu primeiro emprego com o significado de “supor, admitir como verdade para fins argumentativos”.

Acrescenta o dicionarista que, “em termos retóricos, assumir expressa aquilo que se postula, frequentemente como hipótese explícita; presumir expressa o que se acredita ser verdadeiro”. Se deixarmos de lado a hipótese nunca desprezível da tradução preguiçosa, essa sutil distinção feita pelo inglês pode estar na origem da adoção do novo sentido de assumir entre nós – como se “supor” e “admitir” não dessem conta do recado.

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Em termos realistas, porém, talvez seja tarde para lutar contra isso.

*

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