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Por Sérgio Praça
A partir do que há de mais novo na Ciência Política, este blog do professor e pesquisador da FGV-RJ analisa as principais notícias da política brasileira. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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Pussy Riot contra Vladimir Putin e suas professoras

O presidente russo firmou-se no poder usando a estrutura educacional para fraudar eleições

Por Sérgio Praça 17 jul 2018, 17h12

Domingo passado eu torcia distraído para a Croácia. A transmissão parou por alguns minutos, no início do segundo tempo, e Galvão Bueno alertou: “Aqui isso dá prisão!”. Quatro mulheres do grupo ativista russo Pussy Riot haviam invadido o gramado. Um jogador croata encarou feio uma delas, mas isso a transmissão da Fifa não mostrou. Constrangido, o atacante francês Kylian Mbappé (que joga menos do que Paulo Henrique Ganso, diga-se de passagem) cumprimentou uma das integrantes do grupo.

Elas foram condenadas a quinze dias de prisão. Tiveram, por enquanto, mais sorte do que vários outros opositores do “czar” Vladimir Putin, presidente da Rússia eleito quatro vezes.

Em agosto de 1999, Boris Yeltsin nomeou Putin como seu primeiro-ministro – embora o sistema político russo seja, de fato, presidencialista. O cargo de primeiro-ministro é decorativo. No fim daquele ano, Yeltsin renunciou à presidência e Putin assumiu. Elegeu-se presidente pela primeira vez em maio de 2000. Sua reeleição mais recente, dois meses atrás, foi consagrada com 76% do voto popular. (Alexei Navalny, o principal político de oposição, foi proibido de concorrer contra Putin.)

Durante doze anos, os governadores da Rússia foram nomeados diretamente por Putin. Até 2012, a desculpa era que vários deles estavam envolvidos com o crime organizado e precisavam ser retirados à força. Mais confiante depois disso, Putin revogou a medida através de Dmitry Medvedev, seu primeiro-ministro de fachada à época.

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Ainda assim, a nomeação direta dos governadores mostra dimensões sutis do regime político russo que valem a pena detalhar. O primeiro ponto interessante é que Putin indicava para esse cargo os quadros que levavam a um desempenho melhor para seu partido, United Russia, mesmo que fossem incompetentes. O ótimo estudo de Ora John Reuter e Graeme B. Robertson mostra que governadores cujos estados não tiveram bom desempenho econômico eram reconduzidos ao cargo desde que o partido de Putin tivesse um bom desempenho eleitoral. Afinal, um ditador em potencial precisa que seu partido ganhe eleições sistematicamente e que essas eleições ao menos pareçam abertas e competitivas. (O Pussy Riot fez seis “pedidos” com sua invasão ao campo, informa Masha Gessen. Um deles era que Putin permitisse competição política livre.)

E como os governadores obtinham mais votos para a United Russia? Segundo um fascinante artigo da cientista política Natalia Forrat, professoras eram incentivadas a fazer campanha para os candidatos do partido. Caso não fizessem, o governador poderia demiti-las. Não são cargos concursados. Pior ainda: trabalhando como mesárias, as professoras eram instruídas a falsear resultados eleitorais, assinando e votando no lugar de cidadãos ausentes. Esse foi apenas um dos mecanismos através dos quais Vladimir Putin conseguiu concentrar tanto poder na Rússia com aparência de legitimidade. Essa aparência foi reforçada com a boa organização da Copa do Mundo. Sorte que o Pussy Riot nos alertou.

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