O voto útil em Ciro Gomes
Ciro, a terceira via, apresenta propostas econômicas que dificilmente darão certo
No início da campanha eleitoral, eu pensava que a candidatura de Ciro Gomes (PDT) fracassaria rapidamente. Seu partido elegeu apenas 20 deputados em 2014 e perdeu um ao longo do mandato. Em 2016, o PDT elegeu 327 dos 5.474 prefeitos – menos do que PSB (404) e PP (497). Não é um partido forte nem influente. Além disso, Ciro tem o hábito de se complicar com declarações machistas e arrogantes.
Mas Jair Bolsonaro (PSL) diz que sua filha é resultado de uma “fraquejada” – pois másculo mesmo é ter filho homem. (“I hope that their first child be (sic) a masculine child”, disse Luca Brasi em O Poderoso Chefão, Parte 1). O candidato do PSL disse também que não aceitaria resultado eleitoral que não fosse sua vitória, mas voltou atrás.
De qualquer maneira, é um candidato que atrai muita gente insatisfeita com o sistema político brasileiro. E deu sinais – ainda não muito fortes nem tão críveis assim, mas reais – de que pode implodi-lo caso seja eleito presidente.
Fernando Haddad (PT), o segundo colocado nas pesquisas, conquistou eleitores por (aparentemente) “ser” Lula. O ex-presidente petista passou, em poucos meses, de etéreo (“não sou um ser humano, sou uma ideia”) para carnal em outros ossos.
Para seus apoiadores, Haddad representa a possibilidade de voltar à prosperidade dos oito anos de Lula, que não pode ser totalmente atribuída ao ex-presidente. (Às vezes, presidentes são recompensados por booms econômicos internacionais , mostram Daniela Campello e Cesar Zucco.)
Com essas opções, é compreensível o movimento para que eleitores de Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) etc. mudem para Ciro. De acordo com a última pesquisa do Ibope, o candidato do PDT venceria Bolsonaro no segundo turno por 45% a 39%. Margem folgada.
As propostas econômicas de Ciro são muito mais próximas às de Dilma Rousseff (PT) do que às de Alckmin e Marina. Escrevi aqui sobre alguns temas mencionados pelo pedetista nessa área. O principal é que caso ele opte por desvalorizar a moeda nacional (e assim aumentar, não se sabe quando, a competitividade da indústria brasileira) todos os brasileiros perderão dinheiro imediatamente. Nosso salário terá menos poder de compra. É possível, claro, que Ciro esteja mentindo sobre essa proposta.
A escolha no próximo domingo se resume, então, a três candidatos: um que ameaça a participação civil na política, outro cujo partido tolera, incentiva e organiza corrupção pesada, e um terceiro cujas propostas econômicas podem trazer de volta a inflação de dois dígitos.
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