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Por Sérgio Praça
A partir do que há de mais novo na Ciência Política, este blog do professor e pesquisador da FGV-RJ analisa as principais notícias da política brasileira. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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Grupo Bertin une Lula e família Lobão (aquele do MDB)

Sobre como laços corruptos são previsíveis

Por Sérgio Praça Atualizado em 30 jul 2020, 20h10 - Publicado em 14 nov 2018, 21h03

O início do diálogo entre a juíza Gabriela Hardt e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), agora réu, é longo, mas vale ser transcrito.

– Posso chamá-lo de ex-presidente?

– Pode.

– Então o senhor sabe do que está sendo acusado neste processo, né?

– Não.

– Não sabe, ou…

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– Não sei. Eu gostaria de pedir… Se a senhora pudesse me explicar qual é a acusação.

– Tá. O senhor tem dois conjuntos de acusações. A primeira parte da acusação diz respeito a corrupção, que o senhor teria recebido vantagens indevidas da Odebrecht e da OAS relacionadas aos contratos que eles têm com a Petrobras. E o segundo conjunto de atos que seriam atos de lavagem de dinheiro relacionados à reforma do sítio em beneficio ao senhor e sua família que foram feitas, em um primeiro momento, pelo [José Carlos] Bumlai e, em um segundo momento, pela Odebrecht e, em um terceiro momento, pela OAS. Um resumo muito sintético seria esse.

– Não, não, não. Eu imagino que a acusação que pesava sobre mim é que eu era dono de um sitio em Atibaia.

– Não, não é isso que acontece. É ser beneficiário de reformas que foram feitas. A acusação passa pela relação de o senhor ser dono do sítio, mas a acusação imputada é de o senhor ser beneficiário das reformas que foram feitas por essas três pessoas que eu lhe falei. Bumlai, Odebrecht e OAS.

– Doutora, eu só queria perguntar, para meu esclarecimento, porque estou disposto a responder toda e qualquer pergunta. Eu sou dono do sítio ou não?

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– Isso é o senhor que tem que responder, não eu, doutor, e eu não estou sendo interrogada neste momento.

– Quem tem que responder é quem me acusou!

– Doutor, senhor ex-presidente, isso é um interrogatório e, se o senhor começar nesse tom comigo, a gente vai ter problema. Então vamos começar de novo. Eu sou a juíza do caso e vou fazer as perguntas que eu preciso para que o caso seja esclarecido e para que eu possa sentenciá-lo ou algum colega possa sentenciá-lo. Em um primeiro momento, quero dizer que o senhor tem todo o direito de ficar em silêncio, mas neste momento eu conduzo o ato.

(Um dos advogados de Lula tenta tumultuar e não consegue. A juíza pergunta se o ex-presidente se sente apto a responder.)

– Eu me sinto apto e me sinto desconfortável.

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– Se o senhor se sente desconfortável, o senhor pode ficar em silêncio e isso não será usado em prejuízo a sua defesa. Se o senhor quiser responder as perguntas que primeiro eu vou lhe fazer, depois o Ministério Público e depois a defesa, o senhor pode responder.

– E quando é que eu posso falar, doutora?

– O senhor pode falar e pode responder quando eu lhe perguntar, no começo.

– Mas pelo que eu sei, é meu tempo de falar.

– Não. É o tempo de responder minhas perguntas. Eu não vou responder interrogatório nem questionamentos aqui. Está claro? Está claro? Que eu não vou ser interrogada?

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– Eu não imaginei que fosse ser assim, doutora.

– Eu também não.

– Como eu sou vítima de uma mentira há muito tempo…

– Eu também não imaginava.

– … eu imaginei que agora…

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– Vamos começar com as perguntas. Eu já fiz um resumo da acusação e vou fazer as perguntas. O senhor fique em silêncio ou o senhor responda. (…) Em que momento, o primeiro momento, que o senhor teve contato com esse sítio de Atibaia.

– Dia 15 de janeiro de 2011.

***

Era sábado. No dia anterior, a nova presidente Dilma Rousseff (PT) fez sua primeira reunião ministerial. O ministro da Fazenda, Guido Mantega (PT), cobrou que seus colegas fizessem esforço para reduzir os gastos e racionalizar as despesas de seus ministérios. Edison Lobão (PMDB), responsável pela pasta de Minas e Energia, ironizou. Conseguiria reduzir “dez centavos”.

Quase exatamente cinco anos depois, em 6 de janeiro de 2016, a Polícia Federal apreendeu, nos escritórios do Grupo Bertin, documentos que indicavam pagamentos de R$ 8 milhões para Edison Lobão Filho (PMDB), ex-senador e ainda filho de seu pai. O dinheiro se referia a ações de duas pequenas centrais hidrelétricas: Buriti (Mato Grosso) e Curuá (Pará).

O Grupo Bertin tem ligações econômicas com José Carlos Bumlai, o amigo de Lula que quase foi seu assessor.

De acordo com relatório da Polícia Federal divulgado em novembro de 2016, o mesmo grupo pagou obras no sítio de Atibaia através de Bumlai.

Quando réus respondem, círculos se fecham.

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