Fernando Haddad, um desperdício
Cada vez mais, o destino do PT está ligado a Lula e desperdiça um dos poucos honestos que restou ao partido: Fernando Haddad
Nas eleições presidenciais deste ano, o PT tem três estratégias plausíveis: apoiar a candidatura de Ciro Gomes (PDT), lançar Fernando Haddad (PT) como candidato ou ir até o fim com Lula (PT), ficha-suja que terá sua candidatura negada pelo TSE poucas semanas antes do pleito.
Duas notícias de hoje mostram que a estratégia “Lula como Deus” será adotada pelo partido. A primeira é que Haddad, advogado desde 1987 (embora nunca tenha exercido a profissão), pegou sua carteirinha da OAB para poder defender Lula em algum de seus processos e, assim, ganhar o direito de visitar o ex-presidente. É óbvio que conversarão muito mais sobre estratégias políticas do que estratagemas jurídicos. Lula pode se convencer (ou já está convencido) a lançar Haddad como seu substituto? Acho improvável, pois perdeu a melhor chance para fazê-lo em seu último discurso antes de ser preso. A expectativa é que fique um longo tempo na cadeia e seja muito menos relevante do que vários imaginam.
A segunda notícia é que Ciro Gomes e Haddad encontraram os economistas Luiz Carlos Bresser-Pereira e Delfim Netto para tratar de uma “frente de centro-esquerda” nas eleições. Bobagem completa. A principal proposta defendida por Bresser-Pereira é o “câmbio competitivo” – ou seja, desvalorizar o real para exportar mais e, com isso, fazer o país crescer. Simplificando de modo grosseiro, significaria tornar o Brasil uma nova China. Quem mais defende isso é Nelson Marconi, economista da FGV-SP discípulo de Bresser-Pereira. Em toda sua história, o PT nunca sinalizou a menor vontade de adotar uma proposta assim. Ciro a vê com simpatia, mas ainda não se comprometeu. Como conciliar isso em uma única candidatura? Bastante improvável.
Delfim Netto, presente!, é um enorme equívoco. Implicado em corrupção na licitação para a hidrelétrica de Belo Monte, Delfim tornou-se parceiro tóxico. Quanto a ele ter algo a contribuir para uma frente de “centro-esquerda”… melhor nem comentar.
Com essa estratégia confusa, que pende ao lançamento de Lula como candidato, o PT desperdiça Fernando Haddad, provavelmente o único líder do partido que não está envolvido diretamente em corrupção. Uma pena para eles.
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