Eleições municipais: como 2016 ajuda a explicar 2018?
Analisar eleições municipais brasileiras é desafiador. As coberturas jornalísticas costumam se concentrar nas disputas nas 26 capitais (Brasília não tem prefeito) ou, no máximo, no “G-93” (cidades com mais de 200 mil habitantes que concentram 54,5 milhões de eleitores, cerca de 37% do total do país. É compreensível. Navegar os dados de mais de 5 […]
Analisar eleições municipais brasileiras é desafiador. As coberturas jornalísticas costumam se concentrar nas disputas nas 26 capitais (Brasília não tem prefeito) ou, no máximo, no “G-93” (cidades com mais de 200 mil habitantes que concentram 54,5 milhões de eleitores, cerca de 37% do total do país. É compreensível. Navegar os dados de mais de 5 mil municípios é impossível para o jornalismo diário. Alguns pontos merecem destaque.
* Como prenúncio das eleições legislativas de 2018, essas eleições municipais indicam maior fragmentação partidária ainda. O Brasil já é recordista nisso. Partidos de médio porte – como PSD, PDT, PSB, PROS e alguns outros – tendem a ganhar força. O próximo presidente, seja quem for, terá muitos incentivos para manter boa parte da burocracia federal inchada, com salários altos e permeável a interesses partidários;
* O “PMDB” não ganhou as eleições municipais. Aliás, o “PMDB” não existe. Há muitos PMDBs em cada estado. Há diversas facções e comandos do PMDB no governo federal. Geddel não é necessariamente Jucá, nem Jucá é Cunha, nem Temer é Renan, nem Renan é Jader. Mas o resultado eleitoral não foi ruim para o governo. Fora Marcelo Freixo (PSOL-RJ), ninguém relevante que falou em “golpe parlamentar” saiu vitorioso;
* Marina Silva e sua Rede venceram em cinco municípios no primeiro turno. São eles: Cabo Frio (RJ, 212 mil habitantes), Lençóis Paulista (no singular mesmo!) (SP, 66 mil habitantes), Livramento de Nossa Senhora (BA, 46 mil habitantes), Seabra (BA, 45 mil habitantes) e Brejões (BA, 15 mil habitantes). 180 vereadores da Rede – 0,3% dos vereadores brasileiros – foram eleitos. O partido disputa o segundo turno em Macapá (AP), Serra (ES) e Ponta Grossa (PR);
* No dia seguinte às eleições, intelectuais como o antropólogo Luiz Eduardo Soares publicaram uma carta se desfiliando da Rede. Criticam a falta de democracia interna no partido e as idas e vindas de Marina Silva sobre qualquer assunto relevante. Péssimo sinal para uma possível candidatura à presidência em 2018;
* A proibição de financiamento empresarial dificilmente sobreviverá até 2018. Nas eleições municipais, essa regra permitiu que empresários se financiassem à revelia do partido (João Dória em São Paulo), não impediu fraudes (ou seja, não satisfez quem poderia argumentar que a corrupção diminuiu) e incentivou o uso do fundo partidário para bancar eleições (algo facilmente descoberto pela Justiça Eleitoral e que pode implicar punição para dirigentes partidários).
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