Bolsonaro, Haddad e a polarização excludente
Metade dos brasileiros não querem o petista nem o ex-militar
Converso diariamente com uma amiga, interessadíssima em política, que passa férias de pesquisa em outro continente. Ela não estará no Brasil nas eleições de 7 e 28 de outubro. Desespera-se a cada pesquisa que mostra Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) léguas à frente de Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e outros. Nem Bolsonaro nem PT lhe apetecem. Ela não sabe o que fazer.
Seu sentimento é compartilhado por muitas pessoas. Somados, os votos nos dois “extremistas” (entre aspas mesmo, pois há bons motivos para acreditar que as candidaturas poderão convergir para o centro no segundo turno) totalizam 50%. Por enquanto, metade do eleitorado está fora do segundo turno.
Mas essa polarização entre dois candidatos que, juntos, não animam mais do que metade da população, é mesmo tão ruim? Tenho dificuldade de achar isto, em si, algo ruim. Várias opções foram colocadas para a presidência e apenas dois candidatos conseguiram mais de 20% das intenções de voto por enquanto. Nenhum problema com isso.
Também acho difícil considerar ilegítimas as candidaturas de Bolsonaro e Haddad. Ambos já disputaram eleições e sempre atuaram tão dentro das regras quanto a maioria dos seus concorrentes. Nunca propuseram golpe. Bolsonaro não propõe tomar o poder através de armas. Nem Haddad afirma que, se eleito, soltará Lula e de alguma maneira transformaria o prisioneiro em comandante de fato do governo.
A retórica é, sim, pesada de um lado e de outro. O PT afirma ter sido vítima de golpe no impeachment de 2015 e de perseguição do Judiciário. Bolsonaro diz que, se não ganhar, será prova de que as urnas eletrônicas são fraudadas. São apenas palavras. A legitimidade do próximo presidente não deverá ser seriamente questionada.
Mas os candidatos precisam, no segundo turno, tratar de atrair os excluídos de hoje. Ainda há mais de um mês para isso.
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