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Política, negócios, urbanismo e outros temas e personagens gaúchos. Por Paula Sperb, de Porto Alegre
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Movimento tradicionalista gaúcho cobra uso de bombacha ‘original’

Traje masculino tem sido usado em versão mais justa. “Se usar outra coisa, defino como gaúcho, cowboy ou outra cultura?”, questiona presidente do MTG

Por Paula Sperb
Atualizado em 15 mar 2018, 14h26 - Publicado em 15 mar 2018, 14h18

A bombacha (calça masculina) é parte da pilcha gaúcha, o traje típico previsto até na Constituição do Rio Grande do Sul. Originalmente larga nas pernas e ajustada nas canelas com ajuda das botas, a bombacha tem se modificado. Modelos mais estreitos na coxa, que lembram as calças de hipismo, têm sido usados especialmente pelos integrantes mais jovens dos Centros de Tradições Gaúcha (CTGs). Há quem já tenha apelidado a versão alinhada de “skinny”, como o modelo das calças jeans.

Por isso, na última semana, o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) alertou sobre o uso incorreto da indumentária em um ofício aos integrantes. O MTG congrega 1.800 CTGs presentes em 90% das cidades gaúchas.
O MTG afirma no documento que “tem se disseminado o uso de bombachas estreitas, muito parecidas com calça, em total desconformidade com os regulamentos vigentes”. Os novos modelos seriam uma “total descaracterização desta peça, que verdadeiramente nos identifica como gaúchos”.

O presidente do MTG, Nairo Callegaro, disse a VEJA que a entidade exige o traje típico nas atividades oficias como as competições esportivas, campeiras e culturais. “É uma peça que não sofre evolução, ela não pode sofrer modismo, ela guarda uma tradição de como era essa peça antigamente”, explicou.

A Constituição do estado inclusive afirma que somente será considerada pilcha “aquela que, com autenticidade, reproduza com elegância, a sobriedade da nossa indumentária histórica, conforme os ditames e as diretrizes traçadas pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho”.

O presidente garante que o intuito da norma não é excluir nenhum integrante. “O cidadão tem o desejo de pertencer ao CTG, vai à loja, compra a indumentária [incorreta]. Ele vai ser bem recebido, mas será orientado [sobre o traje correto]. O MTG tem esse desafio e responsabilidade, nos tempos de hoje, de manter o uso tradicional”, disse Callegaro à reportagem.

“Não adianta chapéu, lenço, guaiaca e bota se não tiver bombacha correta. Se usar outra coisa, defino como gaúcho, cowboy ou outra cultura? Não podemos perder a característica da indumentária que nos identifica como gaúchos”, falou à reportagem.

Segundo o historiador Tau Golin, da UPF (Universidade de Passo Fundo), a bombacha chegou massivamente ao Rio Grande do Sul durante a Guerra do Paraguai (1864-1870). A Tríplice Aliança, formada por Brasil, Uruguai e Argentina, mantinha relações comerciais com a Inglaterra. Anos antes, porém, a Inglaterra apoiou a Turquia na Guerra da Crimeia (1853-1856). Com a intensa atividade têxtil inglesa, restaram estoques do uniforme turco, cuja característica mais marcante eram as a pantalonas largas. As pantalonas chegaram à Guerra do Paraguai porque o “mercantilismo inglês não admitia saldo negativo em seu caixa”, escreveu o historiador na obra A ideologia do Gauchismo, de 1983.

“Por isso o gaúcho é um pouco parecido com o Aladdin”, comparou Golin  em tom de brincadeira. “Quando a Guerra do Paraguai acabou, os soldados voltaram às suas ‘querências’ e levaram seus uniformes. Eles continuaram fazendo as bombachas largas conforme convinha, não tinha MTG nem estilista. A bombacha estava fundamentalmente vinculada como roupa de montaria. Mas, quando o homem do campo ia para algum lugar urbano, ia de calça corrida, não de bombacha”, explicou o professor a VEJA.

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Quanto ao ofício do MTG, Golin opina que “é uma coisa de quartel, de movimento cívico, muito reacionário e controlador”. Além disso, o historiador afirma que o tipo social verdadeiro do gaúcho, um homem “bárbaro” do campo e transgressor não é representado pelo movimento.

O presidente do MTG, porém, defende o caráter “democrático” do tradicionalismo. “O CTG também tem função social de de tirar a criança da rua, trazer os pais e a família, de forma acolhedora. O CTG trabalha de uma forma horizontal:, aquele que tem mais dinheiro, aquele que tem menos, o vovô, o netinho, a festa é feita para todos”, disse Callegaro.

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