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Política, negócios, urbanismo e outros temas e personagens gaúchos. Por Paula Sperb, de Porto Alegre
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Empresários doam 14 milhões de reais para combater violência

Verba ofertada por 55 executivos foi usada para reforçar polícias Militar e Civil com automóveis, armas, coletes, GPS e rádios para comunicação

Por Paula Sperb
Atualizado em 13 mar 2018, 13h04 - Publicado em 12 mar 2018, 18h26

Quando uma mãe foi assassinada dentro do carro, em frente à filha adolescente, em 2016, em Porto Alegre, um grupo no WhatsApp formado por amigos empresários ficou lotado de mensagens de preocupação. A mulher esperava o filho mais novo na saída da escola quando foi abordada por assaltantes e levou um tiro na cabeça, mesmo sem reagir.

O grupo do WhatsApp estava alarmado com a crescente insegurança da capital gaúcha. Naquele ano, Porto Alegre registrou 55,6 homicídios a cada 100.000 habitantes – quase o dobro da taxa brasileira no mesmo período, de 29,7 homicídios. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera uma epidemia de assassinatos quando são registrados mais de dez casos a cada 100.000 habitantes. Porto Alegre, portanto, vive uma epidemia de homicídios segundo o órgão. Os dados (veja gráfico abaixo) são do Instituto Cultural Floresta (ICF), baseado nos números do IBGE, do DataSUS e do Anuário de Segurança Pública.

O ICF foi criado por dois amigos daquele grupo de WhatsApp: Leonardo Fração, presidente, e Cláudio Goldsztein, presidente do conselho da entidade. A indignação com a onda de violência foi transformada em atitude. A dupla conseguiu arrecadar 14 milhões de reais, doados por 55 empresários, que preferem não se identificar, para equipar as polícias gaúchas – tanto a Militar quanto a Civil. O instituto não tem vínculo com partidos.

Com a verba milionária, foram comprados novos veículos, armamentos, coletes à prova de bala, GPS e rádios para comunicação. Os equipamentos serão entregues oficialmente ao governo gaúcho em 28 de março. “A violência é um problema absolutamente ‘democrático’. Todas as classes sociais são prejudicadas. Elegemos o problema mais urgente a ser resolvido”, disse Fração a VEJA.

Os empresários respondem as possíveis críticas de que as doações seriam em interesse próprio dos doadores, visando à proteção a seus negócios. “Com o dinheiro doado, eles poderiam cuidar de si e dos seus familiares, pagando segurança privada. Não faria sentido [doar]”, explica Goldsztein.

Porém, ambos reconhecem que uma cidade mais segura é melhor para a economia como um todo, seja através da permanência de empresas em Porto Alegre, seja pela maior circulação de pessoas na rua e, consequentemente, mais consumo.

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“É surpreendente que [a doação] nunca tenha acontecido. [Os doadores] são os verdadeiros empresários, que pensam não só na empresa, mas nas famílias e na sociedade. Não adianta ter uma empresa saudável em meio ao caos”, disse Fração.

A doação dos 14 milhões de reais e a compra dos equipamentos não recebeu nenhuma isenção tributária, explicam os líderes do ICF. Caso tivesse, eles alegam que seria possível comprar pelo menos o dobro de material para as polícias. Os empresários pretendem, nos próximos cinco anos, doar mais 300 milhões de reais por meio da construção de dois presídios, compra de 1.000 carros, 10.000 pistolas e 5.000 bolsas de estudo.

A escolha dos itens comprados foi baseada na indicação da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do estado. Os empresários conversaram com o secretário Cezar Schirmer, que apontou os equipamentos mais necessários.

O Instituto Cultural Floresta não encontrou iniciativas do mesmo porte no Brasil, pelo menos não com uma quantia semelhante aos 14 milhões de reais doados. Entretanto, boas ideias foram vistas em Monterrey, uma das cidades mais violentas do México, e no estado americano da Califórnia. Em Monterrey, empresários se aproximaram das polícias e de órgãos de segurança para apoiá-los, ocupando um espaço abandonado pelos políticos eleitos. Na Califórnia, empresários auxiliam as famílias de policiais mortos em serviço. “Lá eles ajudam as famílias porque os policiais não precisam de equipamento”, compara Fração.

Os dados que norteiam as ações do instituto mostram que a insegurança de Porto Alegre não é apenas uma sensação, é realidade. Em 1980, a taxa de homicídios a cada 100.000 pessoas era dez vezes menor do que a atual e era a metade da taxa brasileira. Naquele ano, a taxa era de 5,7 assassinatos a cada 100.000 habitantes, o que não indicava epidemia. E a taxa nacional era de 11,7 homicídios a cada 100.000 pessoas.

Números da SSP divulgados nesta segunda-feira mostram que os índices de criminalidade do primeiro bimestre deste ano diminuíram na comparação com o mesmo período de 2017. As ocorrências de homicídio doloso diminuíram 38,8% e as de latrocínio 60% nos dois primeiros meses de 2018 em relação ao primeiro bimestre de 2017.

Nesse período de melhora, outra atuação liderada pelos empresários estava em prática: pelo menos cem veículos da Brigada Militar passaram por revisão e reparos com custo zero para o poder público. Diversas concessionárias colaboraram com a ação que devolveu os veículos às ruas.

A ação serviu de “embrião” para a criação do Instituto Cultural Floresta, cujo nome foi baseado em um ditado que inspira os empresários, explica Goldsztein. “Preocupado com uma única folha, você não verá a árvore. Preocupado com uma única árvore, você não perceberá toda a floresta”, ensina o ditado.

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