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Um retrato da administração Jair Bolsonaro

O presidente entregou o combate à pandemia a pessoas que não são apenas incompetentes e/ou desonestas.

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 jul 2021, 13h04 - Publicado em 6 jul 2021, 10h39

A Davati, empresa com um único ano de existência, que jamais comercializou vacinas e tem apenas três funcionários, encarregou um cabo da PM mineira de fazer a intermediação com o Ministério da Saúde para atravessar vacinas.

O cabo, Luiz Paulo Dominguetti, entrou em contato com alguém chamado Odilon (cujo sobrenome o próprio cabo ignora), que fez a ponte com o coronel Marcelo Blanco, diretor-substituto de logística do ministério. Blanco marcou um jantar com o chefe, o diretor Roberto Ferreira Dias, em um restaurante em um shopping center. Segundo Dominguetti, estava também o subsecretário de assuntos administrativos do ministério, coronel Alexandre Martinelli.

Dias (já implicado por Luís Ricardo Miranda em outro escândalo de corrupção, o da Covaxin) teria exigido de Dominguetti um dólar de propina para cada vacina adquirida — equivalente a 30% do preço a vacina, somando 400 milhões de dólares de propina, uma quantia hiperbólica. O cabo recusou porque se diz honesto e porque afirma que a Davati é uma empresa idônea.

(Ressalvas. 1. Dias afirma que não marcou jantar com Dominguetti: que estava no restaurante e o cabo apareceu por acaso, e, claro, não pediu propina nenhuma. 2. Martinelli diz que não estava no jantar, estava tomando um café em outro lugar no mesmo shopping. Pelo jeito, o Brasília Shopping é o grande footing da capital federal.)

Dominguetti, então, foi falar com o reverendo Amilton Gomes de Paula, que dirige a ONG Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários, que marcou uma reunião no ministério. Reuniram-se com o diretor de imunização, Laurício Monteiro Cruz e o assessor jurídico do ministério, Eliel Barros, a quem ofereceram ao diretor 400 milhões de doses da AstraZeneca. No decorrer das negociações, Laurício levou a dupla paras conversar com o secretário-executivo do ministério, Coronel Élcio Cruz. Em uma mensagem de celular, Dominguetti chegou a comentar que o presidente Bolsonaro estaria ciente do processo.

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É fascinante.

Ninguém no Ministério da Saúde achou estranho que um cabo da PM e um pastor desconhecido estivessem atravessando vacinas. Nem que estivessem negociando vacinas em nome da AstraZeneca, que, como é sabido, não tem representantes nem vende para particulares. Nem que o cabo, o pastor e uma empresa desconhecida tivessem a posse de 400 milhões de vacinas, coisa que não existia em nenhum lugar do universo.

Também não ocorreu a ninguém no ministério fazer uma due diligence mínima, que revelaria que a Davati é uma empresa de araque e que o sócio do reverendo, Daniel Fernandes, já foi preso nos EUA por “fraude multimilionária”.

Confrontado pela TV Globo, que lhe mostrou o golpe, o diretor Laurício Monteiro Cruz, aparentemente sem se constranger, admitiu que o ministério não confere a idoneidade daqueles com quem negocia e que foi vítima do que definiu como “no mínimo, uma enganação”. (Cruz continua no posto de diretor, e não há registro de que o assessor jurídico Eliel Barros tenha sido demitido.)

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As pessoas a quem Jair Bolsonaro entregou o combate a uma pandemia assassina não são apenas incompetentes e/ou desonestas.

São completamente alucinados.

 

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