O governo se supera na criação de desculpas esfarrapadas
A cara de pau é enorme, mas o desrespeito por nossa inteligência é ainda maior
O Ministério da Saúde explicou que a demora na adesão ao consórcio Covax Facility se deve ao fato de que a papelada estava escrita em inglês. Ah, bom.
A demora (de meses) na resposta aos emails da Pfizer, como se sabe, ocorreu porque os computadores do Ministério da Saúde foram infectados por vírus.
O tratamento dado à CoronaVac foi diferente daquele dado à AstraZeneca porque no primeiro caso era uma simples compra, enquanto que com os ingleses foi uma “encomenda tecnológica”.
Já a irregularidade na compra da Covaxin, segundo Bolsonaro, é “uma história fantasiosa”, porque o governo não gastou “um real”. Contrato assinado, com dinheiro empenhado e cobrança de pagamento antecipado (que por pouco não saiu) são fantasias sem valor.
Bolsonaro até hoje não admite se recebeu a denúncia, mas diz que prevaricação não cometeu, pois passou o assunto (que assunto?) para o então ministro, general Pazuello, suspeito de estar no esquema. O ex-ministro, exonerado dois dias depois, diz que prevaricação não cometeu, pois passou o assunto (que assunto?) para seu sub, coronel Élcio Franco, também suspeito. Franco, exonerado cinco dias depois, diz que prevaricação não cometeu, pois investigou o assunto (que assunto?) e não encontrou nada de errado.
Bolsonaro diz ainda que prevaricação nem se aplicaria a ele, porque é um crime que se restringe a funcionários públicos, e ele é presidente da República (?). E, depois, tem muitas conversas, não dá para tomar providência para “qualquer coisa” — denúncia de fraude bilionária é uma coisa “qualquer”.
O mais espantoso na conduta do governo nem são a incúria, a incompetência, a desonestidade.
É a certeza inabalável de que somos todos completamente idiotas.