General Braga Netto não se emenda
O desmentido oficial do ministro da Defesa mais confirma do que nega
Conforme esperado, Braga Netto emitiu uma nota oficial desmentindo que tenha ameaçado golpe (conforme afirmou o Estadão).
De maneira enviesada, entretanto, a nota mais confirma do que desmente a reportagem.
O ministro começa dizendo que não se comunica com os presidentes dos Poderes por meio de interlocutores. Os presidentes dos Poderes foram eleitos duas vezes, a primeira pelo povo, a segunda por seus pares, representantes do povo: ninguém na República tem mais legitimidade do que eles. Mas Braga Netto se considera no mesmo patamar, ou até acima, deles.
Alguém precisa lembrar ao ministro de que ele foi eleito com um único voto (o do presidente mais autoritário e despreparado dos últimos 40 anos), e é demissível a qualquer momento. E que os parlamentares têm o poder de convocá-lo para prestar esclarecimentos e, eventualmente, até de demiti-lo — como pode testemunhar seu sucessor e colega de ministério e de farda, Luiz Eduardo Ramos, que soube pelos jornais que estava na rua.
Braga Netto reafirma, na nota, o compromisso das Forças Armadas com a Constituição, a democracia e a liberdade, o que pode tranquilizar quem tenha chegado ao Brasil anteontem e não saiba que a concepção bolsonarista desses valores é muito peculiar, e inclui uma interpretação delirante do artigo 142, segundo a qual as Forças seriam uma espécie de Poder Moderador.
Por fim, o ministro aproveita, sem motivo aparente, para deixar claro que é a favor do voto impresso, assunto fora de contexto, que não é de sua alçada e que, todo mundo sabe, existe unicamente para fornecer a Bolsonaro uma base para, em caso de derrota em 2022, declarar fraude e melar a eleição.
A única coisa que se salva na nota é que o ministro não se assina general.
Afora, claro, confirmar a reportagem do Estadão.