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Conduta aceitável

Difícil é saber o que seria inaceitável para os ministros militares

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 Maio 2020, 21h43 - Publicado em 12 Maio 2020, 21h03

Semanas atrás, Bolsonaro humilhou Henrique Mandetta ao participar, em sua presença, de uma aglomeração sem sequer usar máscara. O ministro da Casa Civil, general Braga Netto, que estava lá, aceitou o comportamento do presidente sem sequer se mostrar contrariado.

Pouco depois, Bolsonaro demitiu o ministro da Saúde, em plena pandemia, porque Mandetta, um dos poucos integrantes bem avaliados de seu governo, disse o óbvio: o cidadão fica sem saber o que pensar quando o presidente faz o contrário do que seu próprio ministério da Saúde recomenda. Os ministros militares aceitaram a demissão, concordando com a tese de que Mandetta havia sido insubordinado.

Mais tarde, Bolsonaro atropelou Paulo Guedes, um dos pilares de seu governo, encomendando ao ministro da Casa Civil, general Braga Netto, um estapafúrdio plano de obras públicas que dinamitava por completo o projeto de seu ministro da Economia. Os militares aceitaram o atropelamento e o plano, e o general Braga Netto, que nada entende de economia, achou normal a quebra da hierarquia e o desrespeito a seu colega de ministério.

Em seguida, Bolsonaro pressionou o outro pilar de seu governo, Sergio Moro, a permitir interferência na Polícia Federal, o que o levou a se demitir. Os ministros militares acharam aceitáveis a pressão, a quebra de hierarquia e a demissão. O ministro da secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, criticou Moro por ter denunciado o que o então ministro viu como uma conduta irregular, possivelmente criminosa, por parte do presidente — mas não viu nada demais na tal conduta.

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Depois de se livrar de Moro, Bolsonaro conseguiu, enfim, nomear seu favorito, Alexandre Ramagem, para a diretoria geral da Polícia Federal. A nomeação foi tão suspeita e inaceitável que o ministro Alexandre de Moraes a revogou, mas os ministros militares a consideraram perfeitamente aceitável, e ficaram indignadas foi com o ministro do STF pelo que entenderam ser uma interferência indevida.

Para se defender de eventuais pedidos de impeachment, Bolsonaro negociou com o centrão a entrega de cargos com alguns dos maiores orçamentos do Executivo. Todo mundo sabe o que significa entregar cargos aos parlamentares mais corruptos do país, mas isso não incomodou os ministros militares — e não foi outro senão o próprio general Braga Netto quem assinou a entrega do DNOCS ao PP.

Em sua luta contra o isolamento social, Bolsonaro decretou que salão de beleza, barbeiro, e academia de ginástica são serviços essenciais. Os militares aceitaram, e lá estava novamente a assinatura do general Braga Netto, que, apesar de ser o suposto chefe do suposto gabinete de crise, não achou necessário comunicar a novidade ao novo ministro da Saúde. Nelson Teich passou pelo constrangimento de ficar sabendo, em plena entrevista coletiva, pela imprensa.

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Pelo que sabe até agora, a conduta de Bolsonaro na reunião ministerial do dia 22 de abril foi escandalosamente inaceitável, mas, pelo que se sabe até agora dos depoimentos dos ministros militares, eles não viram nada de mais, acharam tudo perfeitamente aceitável.

Está em curso uma competição entre Jair Bolsonaro, determinado a fazer coisas a cada dia mais inaceitáveis, e os ministros militares, determinados a aceitar qualquer coisa que venha do presidente, por mais inaceitável que seja.

Pelo jeito, os generais vão vencer a competição.

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