Cloroquina: siga o dinheiro
O caminho que a CPI está tomando é o mesmo que o Washington Post usou para derrubar Nixon
“Sigam o dinheiro”, teria aconselhado Mark Felt a Bob Woodward e Carl Bernstein.
Os repórteres do Washington Post seguiram o conselho do então vice-presidente do FBI, a quem chamavam “Garganta Profunda”, e deslindaram o escândalo que ficou conhecido como Watergate. Ao fim e ao cabo, provocaram a queda do presidente Richard Nixon.
O conselho de Felt traz uma verdade profunda: quando algo é muito esquisito, não faz sentido, não dá pra explicar, quase sempre tem alguém ganhando dinheiro sujo.
A “política de saúde” do governo Bolsonaro — e, em particular, a obsessão pela cloroquina — é coisa muito esquisita, não faz sentido, não dá pra explicar, de modo que a CPI da Covid aceitou a dica de Garganta Profunda e começou a seguir o dinheiro.
De acordo com o jornal O Globo, a CPI descobriu que Bolsonaro pediu ajuda do premier da Índia para a liberar a exportação de cloroquina, e citou nominalmente dois laboratórios brasileiros interessados no insumo. Mais esquisito do que a fé na cloroquina, só mesmo o presidente ter interesse pessoal em ajudar empresas privadas específicas — e a CPI já começou a convocar os presidentes das empresas para depor.
Em outra frente, a CPI quebrou o sigilo de empresas de publicidade contratadas pelo governo Bolsonaro.
O Brasil é um país com estradas bem mais acidentadas do que as dos EUA, mas o rumo que a CPI decidiu tomar leva ao mesmo destino que o caminho que Woodward e Bernstein trilharam.