Bolsonaro sem ter para onde correr
Alterar seu "plano" de vacinação é ruim. Tentar impedir a vacinação em São Paulo é muito pior.
João Doria anunciou o plano de vacinação contra Covid-19 para São Paulo. A primeira fase começa em 25 de janeiro e pretende vacinar nove milhões de paulistas (o grupo em que ocorrem 77% dos óbitos) com a CoronaVac.
O “plano” de vacinação do governo federal não especifica nem qual é a vacina, nem quando a primeira fase tem início (supõe-se que seja março), nem quando acaba, nem quantos serão vacinados.
Ao saber do anúncio do governador de São Paulo, o ministro Pazuello correu a marcar reunião com os demais governadores para incorporar “alternativas” de vacinas e combinar estratégias de vacinação. Em outra frente, a tropa de choque de Bolsonaro correu às redes para desqualificar a vacina e xingar João Doria: Roberto Jefferson afirmou que a vacina vai “trocar nosso DNA”, “dado por Deus”, “pela marca da Besta” e Filipe Martins declarou que Doria colocou São Paulo “nas fileiras da tirania global”.
O correria e o desespero não vão resolver o problema. Se as coisas se derem conforme anunciado por Doria, a Covid estará virtualmente erradicada em São Paulo quando a vacinação nos demais estados estiver ainda começando.
Bolsonaro tem dois caminhos pela frente. Um, indicado pelo atitude de Pazuello, é tentar recuperar o atraso, admitindo que Doria tinha razão todo o tempo, e que Bolsonaro foi inepto e irresponsável. Ficará desmoralizado e perderá votos.
O outro, indicado pela atitude da tropa de choque, é tentar impedir (via Anvisa) que Doria vacine os paulistas. Nesse caso, além de reconhecer que foi inepto e irresponsável, Bolsonaro estará cometendo um crime monstruoso contra a saúde dos brasileiros. Se cometer tamanha insanidade, além de ficar desmoralizado e perder votos, pode até cair.