A ditadura, a semântica e os estafetas
O regime brasileiro de 1964 a 1985 foi uma ditadura. “Regime forte” é o dos EUA, onde militares sabem seu lugar e não se metem em política.
O general Braga Netto disse que ditadura não foi ditadura, mas um “regime forte”. Porque, se fosse ditadura, “muitos não estariam hoje por aí”. O general acha que muitos, como Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho, estão hoje por aí.
O general Ramos disse que isso de ditadura ou não é uma questão “semântica”. Ramos também acha que foi um “regime muito forte”, mas não foi ditadura, porque o Congresso “estava funcionando”.
O general acha que um Congresso proibido de legislar sobre matéria financeira, onde um terço dos senadores era nomeado pelo ditador, cujos parlamentares tinham medo de ser cassados, e que era fechado toda vez que decidia alguma coisa que o ditador não queria, estava “funcionando”.
Os generais também acham que a inexistência de eleições livres, Supremo manietado, censura prévia, prisão sem motivo, tortura e exílio não caracterizam uma ditadura.
O nome do regime brasileiro entre 1964 e 1985 é “ditadura”. “Regime forte” é o dos EUA, por exemplo, onde militares sabem seu lugar, jamais se metem em política e, quando é necessário, protegem a democracia contra candidatos a ditador, como fizeram com Trump.
Mas é verdade que a semântica, eventualmente, dá margem para discussão. Vejamos a expressão “ministro de Estado”, por exemplo. Os generais do Palácio gostam de achar que são ministros de Estado.
Mas todo mundo sabe que não passam de estafetas de Jair Bolsonaro.