A Câmara acertou no impeachment de Trump
Haveria muito a perder em deixar a tentativa de golpe por isso mesmo
A Câmara dos Deputados dos EUA instaurou novo processo de impeachment contra Donald Trump.
Há quem considere que foi um erro: a decisão aprofundará a polarização, atrapalhará o início do governo de Biden, e, no fim, não dará em nada, pois é improvável que o Senado julgue a responsabilidade do atual presidente antes da posse do próximo e, se o fizer, dificilmente destituirá Trump.
Esse raciocínio, que parece fazer sentido a princípio, está equivocado por vários motivos.
1. Não se pode deixar uma tentativa de golpe de Estado por isso mesmo: é obrigação da Câmara instaurar o processo de impeachment.
2. Não fazer nada seria um estímulo para que Trump insuflasse seus terroristas a impedir a posse de Biden.
3. A decisão da Câmara sinaliza para a sociedade que Trump tentou destruir a democracia americana. O isolamento que Trump experimenta agora está ligado ao anúncio pela Câmara de que começaria os procedimentos para o impeachment.
4. A decisão da Câmara dá força moral para o FBI na investigação contra os atos do dia 6 e até na investigação dos crimes fiscais de Trump.
5. O Partido Republicano é o principal responsável por as coisas terem chegado ao ponto que chegaram. É importante exigir que os republicanos deixem claro se estão do lado da democracia ou do lado do golpe.
6. A destituição de Trump não está descartada: há muitos senadores republicanos indignados com a atitude do presidente. E muitos já estavam indignados antes, mas não se sentiram em condições de votar a favor do primeiro impeachment.
7. O processo de impeachment não se esgota na destituição do presidente e não perde o objeto se não for votado antes da posse. Além da destituição, está em jogo a proibição de que Trump exerça cargo público, o que o impediria de concorrer em 2024. E se a votação ocorrer depois da posse de Biden, com ambas as casas controladas pelos democratas, a chance de o impeachment ser aprovado será maior.
A Câmara acertou.