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Caso Celso Daniel: crime chocou o país, e investigação assombrou o PT

Para a polícia, o então prefeito de Santo André foi vítima de crime comum. Para familiares, foi crime político

Por Carolina Farina Atualizado em 30 jul 2020, 21h44 - Publicado em 27 set 2016, 21h27
A morte de Celso Daniel, em VEJA de 30 de janeiro de 2002
A morte de Celso Daniel, em VEJA de 30 de janeiro de 2002

Prefeito de Santo André e escolhido para coordenar a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Daniel foi sequestrado ao sair de um restaurante e morto em circunstâncias misteriosas em janeiro de 2002. O caso chocou o país. As investigações também: seguindo um estranho roteiro, a procura pelos assassinos esbarrava sempre em evidências de corrupção. E mais mortes. Sete pessoas ligadas ao crime morreram em circunstâncias também misteriosas, entre acusados, testemunhas, um agente funerário, um investigador e o legista do caso. Para a polícia, Celso Daniel foi vítima de crime comum: extorsão mediante sequestro, seguido de morte. Essa também é a versão do PT. Já familiares afirmam desde o início do caso que a morte do prefeito é um crime político em torno de um esquema de propina em Santo André que era do conhecimento da cúpula petista – o embrião de esquemas mais sofisticados de corrupção colocados em prática depois que o PT chegou ao poder.

Era noite de 18 de janeiro de 2002 quando o Celso Daniel voltava de um jantar em uma churrascaria nos Jardins, na região central da capital paulista. O petista estava em um Mitsubishi Pajero blindado, dirigido por um amigo, o empresário Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra, quando foi perseguido por três carros. Na altura do número 393 da rua Antônio Bezerra, na zona sul de São Paulo, o carro foi fechado e diversos disparos atingiram seus pneus e vidros traseiro e dianteiro, na direção do motorista. Em seguida, sete homens armados levaram Celso Daniel. Sombra permaneceu no local. Dois dias depois do sequestro, no fim da manhã do domingo, 20 de janeiro, o prefeito foi encontrado morto na Estrada das Cachoeiras, na região de Juquitiba, a 78 quilômetros de São Paulo. O corpo tinha marcas de onze tiros, além de sinais de tortura. Dos disparos, oito podem ter provocado a morte de Celso Daniel, sendo um deles no rosto.

Os bastidores do caso Celso Daniel, em VEJA de 19 de outubro de 2005
Os bastidores do caso Celso Daniel, em VEJA de 19 de outubro de 2005

Sérgio Gomes da Silva era a única testemunha, já que dirigia o carro em que estava Celso Daniel. Na época, o empresário chegou a participar da reconstituição do crime e afirmou que o câmbio e a trava do veículo falharam na hora em que foi fechado pelos outros três carros, o que impossibilitou a fuga e permitiu aos bandidos abrirem a porta para levarem o prefeito. Uma análise da perícia feita no carro, porém, concluiu que ele não tinha defeitos elétricos ou mecânicos e, segundo os peritos, se houve falha, ela foi humana. “Sombra” tornou-se um dos principais suspeitos de ser o mandante do crime.

Após quase três meses de investigação, a Polícia Civil de São Paulo concluiu o inquérito sobre o assassinato de Celso Daniel, classificando a morte como crime comum e pedindo a prisão de seis integrantes de uma quadrilha da favela Pantanal, na Zona Sul da capital paulista: Itamar Messias Silva dos Santos, Rodolfo Rodrigo de Souza Oliveira, Marcos Roberto Bispo dos Santos, José Edson da Silva, Ivan Rodrigues da Silva e Elcyd Oliveira Brito. Um menor de 17 anos também foi apreendido – ele confessou ser o autor dos disparos contra o petista.

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Em depoimento à polícia, os suspeitos afirmaram que planejaram o sequestro de um empresário e o perderam de vista. Para não perder a viagem, seguiram a Pajero em que estava o prefeito e o levaram por acreditar que ele teria dinheiro. Segundo a quadrilha, Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, não foi sequestrado porque parecia ser o motorista. Eles ainda afirmaram que, ao saber da identidade de Celso Daniel, o líder do grupo ordenou que ele fosse solto, mas os outros criminosos entenderam que a ordem era matá-lo. A conclusão da polícia de que o crime teve motivação comum não agradou aos familiares do prefeito, que apontaram diversas inconsistências no inquérito e pediram a retomada das investigações. O Ministério Público entrou na apuração, adotando outras hipóteses, como crime passional, que foi descartada, e crime político. O ponto de partida foi o laudo feito no corpo de Daniel, no qual havia marcas de tortura.

VEJA de 6 de abril de 2016: Um cadáver na Lava Jato
VEJA de 6 de abril de 2016: Um cadáver na Lava Jato

Segundo João Francisco Daniel e Bruno Daniel, irmãos de Celso Daniel, o prefeito foi assassinado porque tinha um dossiê com informações sobre a corrupção em Santo André (SP) e ameaçava delatar todo o esquema. De acordo com o depoimento dos dois, o PT cobrava propina de empresas que prestavam serviços à prefeitura e desviava dinheiro para contas pessoais e para o financiamento de campanhas eleitorais. Ainda segundo a versão dos familiares, dois petistas do alto escalão puxavam o fio de todas as operações: José Dirceu e Gilberto Carvalho. Em 24 de janeiro de 2002, cinco dias após o assassinato do prefeito, a empresária Rosângela Gabrilli, dona de uma empresa de ônibus em Santo André (SP), procurou o Ministério Público para denunciar que os donos de companhias rodoviárias da cidade eram obrigados a contribuir com uma caixinha para o PT. O valor do mensalão seria proporcional à quantidade de ônibus que cada empresário possuía, à razão de 550 reais por veículo. Notas fiscais e extratos bancários mostravam que um dos maiores beneficiados pelo esquema era o empresário Sérgio Gomes da Silva.

Além dele, outros dois nomes ligados a Celso Daniel – Klinger Luiz de Oliveira Sousa, ex-secretário de Serviços Municipais de Santo André, e Ronan Maria Pinto, sócio de “Sombra” –, também eram indicados por Rosângela. O MP de Santo André, no entanto, reuniu indícios de que Celso Daniel não só sabia do esquema de corrupção como se beneficiava dele. Além disso, a relação entre as pessoas que trabalhavam na prefeitura de Santo André era das mais amigáveis e, dessa forma, não havia indícios que sustentassem a tese de que Celso Daniel, indignado com o esquema, rompesse com seus companheiros e ameaçasse delatar as operações.

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