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VEJA 5 – Só 13% dos brasileiros votariam num ateu para presidente

A VEJA desta semana traz reportagens sobre a resistência da fé e da religião. O dado mais interessante é revelado por uma pesquisa encomendada ao CNT/Sensus: apenas 13% dos brasileiros votariam num ateu para a Presidência da República, informa reportagem de André Petry. Outros números: 84% aceitariam votar num negro; 57%, numa mulher; 32%, num […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 20h02 - Publicado em 21 dez 2007, 07h13
A VEJA desta semana traz reportagens sobre a resistência da fé e da religião. O dado mais interessante é revelado por uma pesquisa encomendada ao CNT/Sensus: apenas 13% dos brasileiros votariam num ateu para a Presidência da República, informa reportagem de André Petry. Outros números: 84% aceitariam votar num negro; 57%, numa mulher; 32%, num homossexual. Parece que os brasileiros levam a sério a sentença de que, se Deus não existe, então tudo é mesmo permitido.

A revista traz também uma entrevista com Sam Harris, “um dos ateus mais barulhentos dos EUA”. Segundo ele, “a fé é, intrinsecamente, um elemento que, em vez de unir, divide. A única coisa que leva os seres humanos a cooperar uns com os outros de modo desprendido é nossa prontidão para termos nossas crenças e comportamentos modificados pela via do diálogo.” Trata-se de um juízo interessante o de Sam Harris: pelo visto, para ele, todo diálogo é possível, menos com aqueles que têm fé. Logo, deve se referir a um diálogo que exclui a maioria da humanidade. Vale a pena ler a sua entrevista, sobretudo porque revela a oceânica ignorância do ateísmo — misturada a uma estupenda prepotência. Afirma Harris: “No futuro, não haverá nada como espiritualidade muçulmana ou ética cristã. Se há verdades espirituais ou éticas a ser descobertas, e tenho certeza de que há, elas vão transcender os acidentes culturais e as localizações geográficas”.

Não acreditem em Deus. Acreditem em Harris. Ele sabe o que virá. O filósofo acha Deus imperfeito demais para criar um mundo de justiça. Certamente essa é uma tarefa mais fácil de ser desempenhada pelos homens… Li a sua entrevista — e recomendo que vocês o façam — e me dei conta do truque fundamental de seu discurso: a fé não presta porque não pode ser comprovada pela ciência. Com a devida vênia, Santo Tomás de Aquino resolveu essa questão no século 13.

E se poderia falar, finalmente, do rastro de sangue das religiões. Não dá para contar a história que não houve, claro. O que conhecemos do mundo sem Deus? Salvo engano — e me corrijam se eu estiver errado dando-me um outro exemplo —, tivemos a experiência comunista. Nunca antes uma religião matou mais de 100 milhões de pessoas em miseráveis seis décadas. A maquinaria mental e teórica que justifica o morticínio está no século 18: a Revolução Francesa e seu iluminismo. O Terror Revolucionário matou em dois anos mais do que a Inquisição em quatro séculos. A idéia da engenharia social a engendrar uma nova civilização que esmaga o passado em nome do futuro é filha dos “crimes da liberdade”.

Os “mortos” em nome de Deus realmente enchem o mundo de vergonha. Já os mortos em nome do “novo homem racional” são pura poesia humanista… A religião não existe para dar a versão cristã ou muçulmana da fissura do átomo. Ela é um dado da cultura que aponta um norte ético para esse e outros saberes. Negar a religião é negar uma parte da história da moral humana. Quando Harris resolver estudar um pouquinho, terá a chance de aprender que a idéia que o Ocidente tem de igualdade, esta mesma consubstanciada em leis civis e laicas (a melhor sociedade que o homem já fez), nasce com o cristianismo, que libertou o homem do jugo de sua família, de seu senhor, de sua tribo, de suas paixões, chamando-o à consciência individual.

Um dia explico melhor por que convivo bem com os ateus e me incomodo um tanto com quem se coloca contra as religiões. Tendo a achar que, se dependesse da vontade, todo mundo acreditaria em Deus. Mas há quem não consiga, ainda que queira. Já a militância anti-religiosa é uma escolha intelectual. Procura negar a história — corrigi-la retroativamente, se possível — e faz tábula rasa de uma experiência social que está na base da formação de todos os povos. Há uma insanável puerilidade malcriada no discurso anti-religioso que é nada além de ignorância e obscurantismo.
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