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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Vamos parar de fantasia! Quem está no desgoverno do Brasil é Dilma, não Eduardo Cunha! Ou: Resta a esperança no fundo da caixa…

Já li os jornais de domingo, sites noticiosos, colunistas e coisa e tal… A gente fica com a impressão de que todos os problemas da presidente Dilma Rousseff se resolverão amanhã caso Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, seja sequestrado por ETs. A crise acaba, o Brasil encontra o seu rumo, os petistas, inclusive os […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 00h45 - Publicado em 9 ago 2015, 09h21

Já li os jornais de domingo, sites noticiosos, colunistas e coisa e tal… A gente fica com a impressão de que todos os problemas da presidente Dilma Rousseff se resolverão amanhã caso Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, seja sequestrado por ETs. A crise acaba, o Brasil encontra o seu rumo, os petistas, inclusive os das redações, voltarão a sorrir.

Acho que o próprio deputado, ao se barbear toda manhã, precisa refazer o roteiro em sua cabeça, encarando-se, reflexivo: “Por que é mesmo que eu tenho tanto poder?”. É evidente que alguns ditos analistas políticos estão deixando que o ódio e o preconceito tomem o lugar da razão.

Poucos se dão conta de que Cunha hoje, como no poema “À Espera dos Bárbaros”, de Constantino Kaváfis (já o citei aqui), é, para Dilma, uma espécie de solução. Quando a presidente precisa justificar a própria incompetência, aponta o dedo contra o seu inimigo de estimação. Na Câmara, o líder do governo é José Guimarães (CE), e o do PT é Sibá Machado (AC). E os petistas e seus acólitos se voltam contra o peemedebista? Ora… Quem fez tais escolhas esperava qual resultado?

É evidente que a dupla patética não pode responder pela rotina de desastres no Congresso, muito especialmente na Câmara. Eles também já são sintomas da esclerose petista. Se ao Planalto e ao partido pareceu que são esses os líderes do momento, a gente consegue ter noção de como anda o resto.

Não é só isso. Vejam a coordenação política de Dilma — não estou me referindo à do condomínio governamental, que está a cargo de Michel Temer, que vai fazendo o possível. Falo dos ditos homens fortes da presidente na interlocução política. Um é Aloizio Mercadante, da Casa Civil. Ganha um bilhete pra Pasárgada quem conseguir dizer que diabos, exatamente, ele faz e que área do governo está afeita à sua pasta. Quem são seus interlocutores? Líderes do Parlamento? Os demais ministros? Representantes da oposição? Qual é a agenda do homem? E é Cunha quem toma pancada?

Há ainda, o que é do balacobaco, Jaques Wagner. Dilma tem 39 ministérios, mas o titular da Defesa se comporta como um de seus porta-vozes. É bem verdade que os comandantes militares devem erguer as mãos para o Céu. Melhor Wagner sem fazer nada, ciscando na área política, do que tentando fazer alguma coisa nas Forças Armadas… E Cunha é que deve apanhar?

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Fiquem calmos. Ainda existe o espantoso Miguel Rossetto, cujas ideias costumam ser ainda mais confusas do que seu cabelo e mais perturbadas do que seu olhar. Sua função principal, consta, é fazer a interlocução com os movimentos sociais — só os de extrema esquerda, é claro! As demais vozes da sociedade, especialmente aquelas críticas ao governo, são cotidianamente hostilizadas por esse gênio político. E Cunha é que vai para o paredão?

Ora, ainda que a tal pauta-bomba nascesse da vontade imperial do presidente da Câmara — mentem os jornalistas e colunistas que afirmam isso ao leitor; não se trata de matéria de opinião, mas de matéria de fato —, o seu efeito desestabilizador, no presente, é nulo. Se todas aquelas maluquices forem mesmo aprovadas, a explosão só virá bem mais tarde. Sim, é preciso impedir as porra-louquices, mas não são elas que paralisam o governo.

De resto, como ignorar que o PT — sim, o PT!!! — votou em massa em favor de propostas que concedem reajustes salariais pornográficos a categorias já privilegiadas de servidores? Os petistas Paulo Paim (RS) e Lindbergh Farias (RJ) resolveram ser os porta-vozes do movimento contra o ajuste fiscal no Senado. E os companheiros resolvem hostilizar… Cunha?

Os colunistas que enveredam por aí deveriam ter algum pudor — a boa e velha vergonha na cara — e expor a seus leitores os instrumentos de que dispõe o presidente da Câmara, então, para exercer essa força tão avassaladora, encabrestando 513 deputados e mandando para as cordas a máquina pantagruélica do governo federal! Que tipo de benefício Cunha poderia oferecer que o governo não pudesse bancar, multiplicando por dez, por cem, por mil? Se falta honestidade intelectual a essa gente, que não falte ao menos um pouco de senso de ridículo.

Mais ainda: Cunha foi colhido pelo lado escuro da Operação Lava Jato — sim, ele existe — e hoje está na berlinda em razão do depoimento de Julio Camargo, o delator que será premiado pela “verdade” que disse e também pelo seu contrário. Afinal, ou antes ou depois, esse senhor mentiu. Antes e depois, homem acostumado a comprar pessoas por somas fabulosas, ele deve ter tido milhões de motivos para fazê-lo. De toda sorte, Cunha teve subtraída parte substancial de seu poder — ou, ao menos, da perspectiva de poder que representava. E assim será enquanto estiver sob investigação. Respondam-me: é um homem nessas condições que consegue paralisar o governo?

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Não! A verdade é bem mais simples, e a realidade, muito mais complexa.

A verdade é que Dilma não tem agenda nenhuma a negociar nem com governistas nem com oposicionistas. Ocupa-se hoje de tentar minorar os efeitos dos desastres que ela própria e Lula produziram na economia. E, por óbvio, não se trata de uma tarefa trivial. Os problemas começaram a desabar sobre a sua cabeça já em meados de 2012, antes mesmo que completasse metade do seu primeiro mandato. Para cada problema complexo e de difícil solução, ela e Guido Mantega ofereceram uma resposta simples e errada.

As eleições chegaram quando a economia já caminhava para o abismo, e aí foi preciso que a candidata Dilma contasse mentiras espetaculares sobre o passado, o presente e o futuro e que demonizasse as respostas que ela própria teria de dar — E ELA SABIA DISSO — para conseguir aquela estreita margem de votos que lhe garantiu a vitória.

Somem-se a isso os descalabros revelados pela Operação Lava Jato, e então se entende por que 71% acham o governo ruim ou péssimo e por que 66% querem Dilma fora da cadeira presidencial, segundo o Datafolha. Volto a perguntar: o que tem Cunha a ver com isso? Note-se à margem: ele só não é um aliado do governo porque a governanta achou, contra todas as evidências, que conseguiria eleger o presidente da Câmara…

Essa gritaria contra Cunha traduz sabem o quê? Arrogância de gente acuada. Em vez de o governo tentar uma interlocução com o Congresso, quer silenciá-lo no berro. Não! Eu não gosto dos absurdos que andam votando por lá e tenho descido o porrete nas maluquices. Mas é uma estupidez e uma mentira atribuir a um deputado a responsabilidade pelos desatinos.

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Quem está no desgoverno do país é Dilma, não Eduardo Cunha. Ademais, se ELE renunciasse amanhã, o país ficaria na mesma. Se ELA renunciasse, ao menos a esperança poderia sair do fundo da caixa…

Texto publicado originalmente às 7h53
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