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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Um tóxico perigoso chamado “demagogia”. Ou: Marina já começou a fazer a fotossíntese e a se alimentar de luz?

O novo “não partido” de Marina Silva — que muitos gostariam de ver como papa, não fosse impossível haver no Trono de Pedro uma papisa evangélica —, chamado, por ora, apenas de “A Rede”, havia pensado, inicialmente, em recusar doações de empresas privadas, aceitando apenas as feitas por pessoas físicas. Mas sabem como é… A […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 06h52 - Publicado em 14 fev 2013, 04h29

O novo “não partido” de Marina Silva — que muitos gostariam de ver como papa, não fosse impossível haver no Trono de Pedro uma papisa evangélica —, chamado, por ora, apenas de “A Rede”, havia pensado, inicialmente, em recusar doações de empresas privadas, aceitando apenas as feitas por pessoas físicas. Mas sabem como é… A coisa poderia se complicar um pouco. Leio na Folha, em reportagem de Paulo Gama, que houve uma ligeira correção de rumo. A turma decidiu agora que a legenda — caso venha mesmo a ser criada — não aceitará doações de empresas que vendem bebida alcoólica, cigarros, armas e agrotóxicos.

Marina está se transformando numa das mais influentes “empresas” de vender uma droga que faz um mal imenso à saúde democrática: demagogia. Fiz aqui uma rápida pesquisa e não encontrei, vejam que curioso!, empresas de nenhum desses setores envolvidas com roubalheira de dinheiro púbico. Pode até ser que haja uma ou outra como exceção. Uma coisa é certa: esses não são os setores organizados para enfiar as mãos nos cofres do estado.

Quero ver Marina dizer, isto sim, que não aceita doações de empresas que fazem negócios com o estado brasileiro, que sejam suas concessionárias ou que atuem segundo cartas de concessão — e isso inclui os bancos, por exemplo. No caso das empreiteiras, as restrições teriam de valer também para as suas subsidiárias, que, muitas vezes, não aparecem como fornecedoras ao estado ou prestadoras de serviço.

Marina aceitará, por exemplo, doação de empresas de telefonia, que dependem fortemente da regulação? Depois do mensalão, como sabem, os petistas deram para atacar tudo aquilo que consideram “moralismo” — por “moralismo”, os valentes entendem, por exemplo, a censura à canalha que rouba dinheiro do Banco do Brasil, que corrompe e que se deixa corromper. Para os petistas, toda moralidade será sempre de fachada.

Temos aí com a tal “Rede” um caso escancarado, este sim, do tal “moralismo de fachada”. Vende-se uma ideia de pureza no trato da coisa pública que, infelizmente, não corresponde à verdade. Não porque a ex-senadora ou a sua turma façam exatamente o contrário (é bem verdade que tenho enorme curiosidade de saber quem financia a “rede”, mas isso, parece, é um segredo “da rede”), mas porque a restrição é irrelevante e apela tão-somente ao marketing.

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Marina recebeu R$ 400 mil da Ambev em sua campanha de 2010. Vai agora cuspir no copo em que bebeu? Há pouco mais de dois anos, a empresa lhe parecia idônea para participar do financiamento de campanha. Agora não mais? Não serei eu a defender aqui as virtudes terapêuticas do cigarro — não contem com isso. Mas, enquanto o produto estiver sendo legalmente vendido (e se diga o mesmo sobre a indústria de armas), criar uma zona de interdição que tornaria intrinsecamente imoral a doação corresponde, vejam que curioso, a denunciar um vínculo posterior entre financiador e financiado. Se esse vínculo, então, permanece para além do simples financiamento, como sugere a “Rede”, cumpre indagar: Marina admite que, se eleita presidente, será especialmente benevolente com os setores “limpinhos” que a financiassem? O moralismo, quando de fachada, tem dessas coisas: gera contradições que não pode sanar.

E quanto aos defensivos agrícolas, chamados de “agrotóxicos”? O mau uso do produto é certamente condenável — como é condenável o mau uso, sei lá, de um creme antirrugas. Mas todo defensivo é maléfico e faz mal à humanidade? Todo defensivo é “agrotóxico”? Digam-me cá: se a Bayer ou a Basf, que fabricam defensivos e remédios, quiserem colaborar com Marina, ela faz o quê? “Gente que fabrica aspirina e ibuprofeno tá fora desse meu partido de puros!” A Natura, diga-se, é cliente da Basf, viu, Marina?

O chato é que já dá para saber aonde vai dar o fluxo dessa conversa mole: no “financiamento público de campanha”, que vai ganhando cada vez mais a adesão de espertalhões. Mais dinheiro, leitor, acabará saindo do seu bolso, sem que haja um miserável entrave ao financiamento privado e ilegal.

Encerro
Revelei curiosidade em saber quem financia Marina Silva e a “Rede” não por maldade, que sou um homem bom, mas por curiosidade jornalística e intelectual. Afinal, ainda que possa, às vezes, parecer o contrário, Marina ainda não transforma luz em alimento, ainda não faz a fotossíntese, né? Alguém dá o pão para que se garanta o circo. Ou isso só vale para “partidos tradicionais”, mas não para “A Rede”?

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