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Tráfico no Rio – A polaridade não existe

Leia editorial do Estadão: O êxito da operação conjunta das polícias cariocas e das Forças Armadas para desalojar os traficantes de drogas de favelas da zona norte do Rio de Janeiro tem provocado uma compreensível sensação de júbilo e alívio na população carioca e, por extensão, na de todo o País. A reação da opinião […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 13h26 - Publicado em 5 dez 2010, 07h19

Leia editorial do Estadão:
O êxito da operação conjunta das polícias cariocas e das Forças Armadas para desalojar os traficantes de drogas de favelas da zona norte do Rio de Janeiro tem provocado uma compreensível sensação de júbilo e alívio na população carioca e, por extensão, na de todo o País. A reação da opinião pública tem muito a ver, é claro, com a dimensão de espetáculo com que a mídia, especialmente a televisão, tem colorido a cobertura desses acontecimentos. Mas isso tudo é apenas um começo, como já enfatizamos neste espaço. Qualquer possibilidade de solução duradoura para a falência da autoridade do Estado, que é o que, em última análise, está por detrás do drama carioca, depende de medidas firmes e radicais que só produzirão resultado a médio e longo prazos. E essas medidas só poderão ser tomadas a partir do instante em que houver por parte de todos – da sociedade e dos vários níveis de governo – uma compreensão ampla e profunda da realidade que domina hoje o Rio de Janeiro e se alastra, felizmente em menor grau, por todo o País.

Esta é, basicamente, a opinião manifestada pelo especialista em segurança pública, antropólogo, doutor em Ciência Política e ex-secretário nacional de Segurança Pública Luiz Eduardo Soares, em longa e percuciente análise da atual crise carioca postada em seu blog. Partindo do princípio de que “nada que se possa fazer já, imediatamente, resolverá a insegurança”, afirma Soares: “Se a sociedade, a mídia e os governos continuarem se recusando a pensar e abordar o problema em profundidade e extensão, como um fenômeno multidimensional a requerer enfrentamento sistêmico (…) nos condenaremos às crises, cada vez mais dramáticas, para as quais não há soluções mágicas.”

Diante, então, da questão concreta de saber “o que as polícias fluminenses deveriam fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas”, Soares, com o conhecimento de causa de quem foi também coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania do Estado do Rio, não usa meias palavras: “Em primeiro lugar, deveriam parar de traficar e de associar-se aos traficantes, nos “arregos” celebrados por suas bandas podres, à luz do dia, diante de todos.” Assim, a polaridade imaginada entre polícia e tráfico “esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade”. Construir efetivamente essa polaridade, “isto é, separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia, teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de segurança digna desse nome”, uma vez que “não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes”.

Depois de manifestar a opinião de que o modelo policial que se estabeleceu no País, “herdado da ditadura”, que o criou para servir à defesa do Estado autoritário, hoje não serve à defesa da cidadania, Soares indaga: “Como, quem, em que termos e por que meios se fará a reforma radical das polícias, no Rio, para que estas deixem de ser incubadoras de milícias, máfias, tráfico de armas e drogas, crime violento, brutalidade, corrupção?”

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A necessidade dessa reforma radical para sanear as polícias do Estado do Rio é urgente, segundo Soares, porque elas sofrem de graves deficiências estruturais e, sobretudo, remuneram pessimamente seus quadros, praticamente empurrando os policiais para a prática de atividades paralelas ilícitas. Mais grave ainda, ocorre que o tráfico de drogas está vivendo uma fase de transição de modelo e tende a ser dominado não mais pelos criminosos oriundos das favelas, mas pela própria banda podre das polícias: “O tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes em nosso horizonte histórico.” Assim, quando esse modelo territorial se esgota, “seus sócios – as bandas podres das polícias – prosseguem fortes, firmes, empreendedores, politicamente ambiciosos, economicamente vorazes, prontos a fixar as bandeiras milicianas de sua hegemonia”.

Certamente, uma perspectiva sombria. Que se agrava quando se atenta para uma obviedade singela, geralmente negligenciada: drogas só são vendidas porque há quem as compre.

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