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Será LULA X MORO versão nativa de “O Homem que matou o facínora”?

É bom que os dois se lembrem desta frase: “Este é o Oeste, senhor. Quando a lenda vira fato, publique-se a lenda”

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 10 Maio 2017, 15h31 - Publicado em 10 Maio 2017, 09h29

Se o Superior Tribunal de Justiça (STJ) não atender a pelo menos um dos três pedidos de habeas corpus impetrados pela defesa de Lula, o ex-presidente depõe logo mais ao juiz Sergio Moro, na 13ª Vara Federal de Curitiba. Em certas páginas da Internet de esquerdistas e direitistas, parece ser esse o confronto do século. Chega a ser ridículo. Já escrevi aqui que há gente querendo brincar de “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, de Glauber Rocha. Ou, quem sabe, de “O Homem que Matou o Facínora”, de John Ford.

Nesse caso, Lula encarnaria o bandidão Liberty Valance (Lee Marvin), e Moro, o limpinho e justiceiro Ransom Stoddard (James Stewart). No filme, o primeiro era um exímio pistoleiro, e o segundo não sabia nem empunhar um revólver. Mesmo assim, o coxinha desafia o rei dos mortadelas para um duelo. Acontece o improvável: o fraco Stoddard, aos olhos dos que assistem ao confronto, mata o facínora.

Bem, não existe “spoiler” de clássico, certo? Quem realmente despachou Valance foi uma personagem de que ainda não falei: Tom Doniphon (John Wayne). Este era adversário de Stoddard apenas porque ambos amavam a mesma mulher. Era grosseiro e leal. De bom coração. Mas era um homem daquela paisagem, à qual pertencia Valance. Já Stoddard representa uma América que começa a se civilizar. Ironicamente, no entanto, o triunfo do bem se dá pela arma. E sem julgamento. Afinal, é um duelo.

Mito e realidade
É claro que os que veem as coisas pelos olhos da ficção e do mito acabam perdendo o pé da realidade. Como esquecer que, segundo o Datafolha, um improvável segundo turno entre a caça (Lula) e o caçador (Moro) resulta num empate técnico: 40% a 42%? Mais: levantamentos demonstram que Moro é o segundo candidato de parte considerável do eleitorado lulista.

Aquela cidade do Oeste americano não tinha dúvida sobre quem era quem. No Brasil dos 17 anos do século 21, como se vê, as opiniões se dividem. E o “Valance” dessa minha prefiguração lidera as intenções de voto no primeiro turno e bate todos os adversários testados no segundo, exceção feita justamente a Moro e à Marina de sempre. A diferença é pequena.

Assim, por mais que a extrema direita tente forçar a mão para ver realizado o roteiro de “O Homem que Matou o Facínora”, a verdade é que, infelizmente, parte considerável do eleitorado deste grande Oeste Sem Lei em que nos tornamos passou a torcer por Valance…

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Se o filme fosse mesmo esse, de resto, cumprira indagar quem seria o Tom Doniphon (John Wayne) da história. Afinal, é ele, e não Stoddard, o homem que realmente matou Liberty Valance. Aliás, o título do filme em inglês é “The Man Who Shot Liberty Valance”. Há quem diga que será Antonio Palocci, embora este não esteja, como estava Doniphon, no lado bom da história.

“Amanhã é hoje!”
Os entusiasmados do antilulismo já cansaram de ser informados que “Lula será preso amanhã”. Querem que esse amanhã seja hoje, daqui a pouco. Assim, mesmo com a arma já fora do coldre, seria surpreendido por um tiro: a decretação de sua prisão preventiva — única modalidade possível já que ele nem foi julgado ainda.

Mas sob qual pretexto? Sim, depois que Rodrigo Janot, pai de uma advogada da OAS e da Odebrecht (Braskem), peticionou o impedimento de Gilmar Mendes porque a mulher deste trabalha num escritório que tem Eike Batista como cliente na área civil (ela não é advogada do empresário), tudo é possível; tudo é permitido.

Para disparar a arma e mandar prender Lula, Moro teria de ter ao menos uma de quatro razões, previstas no Artigo 312 do Código de Processo Penal: risco à ordem pública ou à ordem econômica (cometimento de novos crimes no presente), à instrução criminal (alterar provas ou intimidar testemunhas) ou ao cumprimento da lei penal. Salvo fato novo, que se revelará logo mais se houver o duelo, não está dado nenhum deles.

Riscos
Pois é… Moro não está blindado por um Tom Doniphon, certo? Mais: Lula não é exatamente um Valance, como já vimos, no quesito impopularidade. Mas saca rápido. Se o juiz não conseguir constranger o petista com uma evidência fática inequívoca, ficará exposto ao discurso daquele que ainda é, mesmo alquebrado, um dos políticos mais sagazes do país. Falta de cultura e de lustro é outra coisa.

Sim, haverá milhares de petistas encenando a pantomima da resistência. Se vocês notarem, o comportamento do PT apenas emula com o do Ministério Público e do próprio Moro. Ou não foram estes a insistir, com impressionante desfaçatez, que só a mobilização popular salva a Lava Jato? Ora, então por que não uma mobilização popular para salvar Lula?

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Tolice final
Nem que o PT tivesse combinado com a Prefeitura de Curitiba e com a tal juíza, a coisa sairia tão redonda para o partido. Proibir o MST de armar suas barracas — desde que tudo seja devidamente ordenado, garantindo-se o direito de ir e vir — não é uma medida de segurança. Trata-se apenas de uma medida autoritária.  Bem, eu sou aquele que defendeu que os movimentos pró-impeachment ficassem acampados nos gramados do Congresso, certo? Eu sou por um mundo em que coxinhas e mortadelas têm direitos iguais perante a lei. Ou, se preciso, são igualmente contemplados pela tolerância.

E é evidente que uma juíza não deve expor no Facebook suas vastas emoções e pensamentos imperfeitos, não é? Juiz não tem de dar opinião sobre partidos e sobre políticos. Juiz tem de se ater aos autos.

Encerro assim: trata-se apenas de um depoimento, ainda que irresponsáveis de todas as colorações queiram brincar de Velho Oeste…

De todo modo, o filme deixa uma sentença para os dois litigantes; quando o próprio Stoddard pergunta se o repórter vai contar a verdade sobre quem matou o facínora, ouve deste a seguinte fras: “This is the West, sir. When the legend becomes fact, print the legend”. Ou: “Este é o Oeste, senhor. Quando a lenda vira fato, publique-se a lenda”.

Lula versus Moro… Quem vai piscar primeiro? Aquele que o fizer corre o risco de transformar o outro numa lenda.

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