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SER JUDEU E MALES ESSENCIAIS

Escrevi ontem um post  lamentando a proximidade entre Lula e Ahmadinejad e comentando a absurda resposta dada pelo companheiro quando indagado sobre a opinião de seu conviva, que nega o Holocausto. Para quem não sabe, Lula respondeu o seguinte: “Não sou obrigado a não gostar de alguém porque outros não gostam. Isso não prejudica a […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 16h48 - Publicado em 25 set 2009, 13h31

martin_niemoller

Escrevi ontem um post  lamentando a proximidade entre Lula e Ahmadinejad e comentando a absurda resposta dada pelo companheiro quando indagado sobre a opinião de seu conviva, que nega o Holocausto. Para quem não sabe, Lula respondeu o seguinte:
“Não sou obrigado a não gostar de alguém porque outros não gostam. Isso não prejudica a relação do Estado brasileiro com o Irã porque isso não é um clube de amigos. Isso é uma relação do Estado brasileiro com o Estado iraniano”.

Ahmadinejad nega o Holocausto, e o presidente do Brasil acha que tudo se resume a gostar ou não gostar do sujeito. Afirmei, então, que essa resposta escarnece da morte de seis milhões de pessoas e concluí: “Eu sou judeu”.

O que se deu, então, foi inacreditável. Os petralhas vieram em massa para dizer que eu estava mentindo: “Azevedo não é sobrenome judeu, seu mentiroso”. Ai, ai… Vou repetir: mais, sei lá, dois períodos dessa turma no poder, e os macacos darão um golpe de estado do Brasil. Afinal, eles tem quatro polegares opositores… Trata-se de uma verdadeira horda à solta. Eles não entendem nada.

Não, não sou judeu. Sou até bem católico, como é notório. Eu estava me referindo àquele famosíssimo texto ora atribuído a Brecht, ora a Maiakovski, ora a sei lá quem, mas que é de autoria de Niemöller (foto):

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“Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar.”

O alemão Martin Niemöller (1892-1984) era um teólogo protestante e teve uma trajetória curiosa. Chegou a flertar com o nazismo nos primeiros tempos. Quando, vamos dizer, já havia ficado claro quem era Hitler e o que queria, ainda ambicionou incutir-lhe um tanto de sensatez. Até que percebeu do que se tratava e migrou para a oposição aberta. Foi processado em 1938 e enviado para o campo de concentração de Dachau, onde permanece até o fim da guerra. Correto estava o Niemöller do texto acima, não o que sonhou com as mãos estendidas para o ditador facinoroso.

O texto e a vida de Niemöller são interessantes porque servem de alerta: não adianta tentar mudar o que é essencialmente mau. Não adianta tentar melhorar pessoas, idéias ou grupos que não compreendem o núcleo mesmo da democracia, da tolerância, do regime democrático, ainda que essas pessoas, essas idéias e esses grupos procurem se ancorar numa maioria ou vistam a máscara da tolerância. O grande diferencial da democracia está justamente na garantia que oferece às minorias, sejam elas permanentes ou circunstanciais. Cedo ou tarde, aquele que não incorpora tal princípio como um valor acaba revelando sua face, sua real natureza.

Na versão oficial, Lula se aproxima de Ahmadinejad porque isolá-lo seria pior. Também é essa a desculpa dos liberais de miolo mole dos EUA quando pregam tolerância com o regime iraniano. Tem sido essa a essência da, por assim dizer, política externa deste incrível Barack Obama, mais patético a cada intervenção que faz em fóruns multilaterais. O que é essencialmente mau – e o Mal – tem de ser combatido. Só isso.

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E equivocados estiveram e estão os ditos liberais brasileiros que cantam as glórias do pragmatismo do governo Lula – que, não obstante uma gestão do dia-a-dia da economia realmente nada hostil ao mercado, consolidou no país a adoração ao estatismo. O Estado voltou a ganhar músculos e, com ele, acreditem, estão adiadas – ao contrário do que parece e do que é propagandeado – as melhores chances do país.

Claro, claro, aquela canalha incapaz de entender uma figura de linguagem, que confunde propaganda da Petrobras com pensamento, gosta de exibir os sinais de saúde da economia, que, com efeito, estão aí – e que só estão aí porque, ao longo do tempo, passamos a ter menos estado na economia e mais mercado e iniciativa privada. Mas o governo Lula já está se encarregado de engessar o futuro: aproveitou-se da fase do esplendor do mercado e vai nos legar um estado agigantado. Fez um compromisso com o atraso. E NÃO FOI COMBATIDO. PORQUE OS NOSSOS LIBERAIS DO MIOLO MOLE ACHARAM QUE BASTAVA LULA MANTER O CÂMBIO FLUTUANTE E AS METAS DE INFLAÇÃO. O petismo podia ser no máximo contido,  mas jamais mudado. E houve quem acreditasse nessa quimera.

Pô, fui longe, não? Era para ser só uma notinha tirando o sarro da abismal ignorância dos petralhas. Acho que acabei chegando a algo bem mais importante. Este blog é assim: vocês me inspiram propondo desafios novos. E, para ser franco, “eles” também: afinal, vivemos um tempo em que convivem estágios diferentes da civilização.

A minha aposta é que a variante primata de dois polegares opositores vença a guerra. Vamos ver.

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