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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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RESPOSTA A UM TRAPACEIRO INTELECTUAL QUE SE QUER DE CENTRO-DIREITA E QUE É SÓ UM PENSADOR “AD HOC”

Há certos tipos que ignoro. Há outros que merecem uma resposta. No caso que segue, recomendo ao rapaz não se apaixonar. Há um senhor chamado Alberto Carlos de Almeida. Não é um cantor de iê-iê-iê. Quer dizer, mais ou menos. Ele se tornou mais ou menos conhecido com um livro chamado “A Cabeça do Brasileiro”. […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 09h58 - Publicado em 8 dez 2011, 06h35

Há certos tipos que ignoro. Há outros que merecem uma resposta. No caso que segue, recomendo ao rapaz não se apaixonar.

Há um senhor chamado Alberto Carlos de Almeida. Não é um cantor de iê-iê-iê. Quer dizer, mais ou menos. Ele se tornou mais ou menos conhecido com um livro chamado “A Cabeça do Brasileiro”. Deu alguns números a um fato óbvio, sobre o qual escrevo neste blog, COMO VOCÊS SABEM, há mais de seis anos e em outros veículos há uns 15: os brasileiros são mais conservadores do que muitos supõem. Muito bem! Foi convidado a dar uma entrevista ao programa Roda Viva. Escrevi a respeito no dia 28 de agosto de 2008. Apanhou impiedosamente. Eu o defendi. Não mereço, claro, gratidão por isso. Eu me comportaria hoje do mesmo modo. As minhas convicções não mudam conforme o vento. Eu não ganho para pensar isso e aquilo. Porque penso isso e aquilo, não me falta emprego, entenderam? Na bancada, eu era o único entrevistador sem qualquer simpatia pela esquerda.

Muito bem! O tempo foi passando, e fui percebendo que o livro de Alberto Carlos, apenas correto, era bem melhor do que o caráter do autor. Certa manhã, ali pela antevéspera da campanha eleitoral de 2010, eu o encontrei no Aeroporto de Congonhas. Foi efusivo. Efusivo demais para quem, como eu, está sempre algo impróprio para a convivência antes das 14h. Ele também gosta de falar de perto, de muito perto. Isso me constrange, me incomoda. Bastam-me os sentidos da visão e da audição para uma convivência civilizada, eventualmente o tato, para o aperto de mão. Acho que o olfato deve ser guardado para mais intimidade. O paladar, então… O perdigoto é uma das maiores agressões que podem vitimar um ser humano. Cobriu meu trabalho de elogios. Disse que precisávamos conversar. “Claro, sim, vamos marcar…”, olhava eu para os lados, em busca de um socorro que não chegava. Finalmente se foi.

Entendi depois. Tinha sido chutado do PSDB, para quem trabalhava. Se eu escarafunchar um pouco, saberei mais detalhes, os motivos. Mas agora estou com um pouquinho de preguiça. Parece que tinha lá algumas propostas um tanto caras, que não foram assimiladas pelo caixa do partido. E eu com isso? Há alguns bobalhões que acreditam, e é possível que ele fosse um deles, que tenho alguma influência no partido. No caso, para ser explícito, talvez houvesse a crença de que eu poderia dar alguma idéia a José Serra, com quem converso, sim, como pede a minha profissão — e não só com ele! —, mas de quem não sou íntimo a ponto de me atrever a dar dicas ou sugestões. Tenho senso de ridículo.  Outros, com mais importância do que eu, já tentaram, hehe…

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Basta, aliás, avaliar algumas posições históricas do líder tucano para constatar que temos divergências imensas. Os que pretendem me colocar, como faz certa canalha, como um de seus braços na Internet têm um duplo objetivo: a) atingir a minha independência — e eu escrevo apenas o que quero e sobre o tema que quero; b) atribuir a Serra, para atingi-lo, a responsabilidade por certas brigas que compro. Quanto à intimidade com os tucanos… Tenham paciência! O que tenho escrito no blog fala por mim. Sempre votei nele para qualquer cargo que tenha disputado? Sim! Apesar das divergências. É um fato público. Não preciso me esconder em certa patifaria que se faz de isenta. Mas sigamos.

Também critiquei Almeida em meu blog, sim. Chutado do PSDB, parece que ele decidiu pôr a sua expertise a serviço da desconstrução da candidatura Serra. Em agosto de 2010, ele previa a vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno — e já se estava na reta final da eleição — por até 20 pontos de vantagem sobre a soma de todos os candidatos. REITERO: A POUCO MAIS DE UM MÊS DA ELEIÇÃO, ALBERTO CARLOS DE ALMEIDA, ABRAÇADO A SEU RANCOR, ACHAVA QUE DILMA OBTERIA 20 PONTOS A MAIS DO QUE TODOS OS CANDIDATOS SOMADOS. Bem, ele errou por mais de 20 pontos, não é? Houve segundo turno.

O rapaz que lidava com certa destreza com os números naquele livrinho se tornava um “inteliquitual” ad hoc. Como não é de esquerda — começo a desconfiar que é por indústria, como se dizia antigamente, não por convicção —, seduz alguns incautos. Sim, apontei o despropósito de sua análise em agosto mesmo! NÃO SOU DO TIPO QUE ESPERA O RESULTADO DAS URNAS PARA FORMULAR UMA TEORIA. Não sei para quem Alberto Carlos de Almeida trabalha hoje. Se escarafunchar, é fácil saber. O que sei é que está puxando o saco do senador Aécio Neves (PSDB-MG), a exemplo do que fez num artigo no jornal Valor Econômico, publicado na sexta-feira, de que só tive notícia hoje. Vivo tendo pegas com esquerdistas. Por que não um com quem se quer um “social-liberal”?

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Em seu texto, ele se oferece como um grilo falante de Aécio, a quem chama de “carismático e agregador”. E resolve dar o caminho das pedras para a vitória em 2014. Atenção! Ele já sabia o caminho das pedras em 2010; é que não lhe deram ouvidos, entendem? No texto, Alberto Carlos diz com todas as letras: “mesmo nas condições mais adversas possíveis, o voto oposicionista no Brasil é capaz de mobilizar, no mínimo, 37% dos eleitores.” Grande mestre! Se esse é um dado da equação e considerando que Marina Silva aparecia nas pesquisas com algo em torno de 20%, como esse gênio da raça sustentava, então, que Dilma venceria no primeiro turno com mais de 20 pontos de vantagem sobre a soma dos demais candidatos? Que tamanho tem o 100% de Alberto Carlos? É que o rapaz se converteu num fazedor de teorias ad hoc. Basta encomendar, ele tortura os números até que eles confessem.

Como ele não tem, definitivamente, medo do patético, sustenta que o piso da oposição é 37% e que, então, o “carismático e agregador Aécio Neves” pode superá-lo tranqüilamente. Mas ele tem um senão — e, confesso, sinto vergonha alheia. Adverte o gênio da raça: “O principal obstáculo de Aécio para atingir esse desempenho é a eventual candidatura de Marina Silva (…) Aécio sabe disso e, não por acaso, Marina recebeu recentemente o título de cidadã mineira.” Huuummm… Como Marina é só uma bobinha da floresta, né?, trocou a sua candidatura por um título de cidadã mineira… Tentando puxar o saco do senador mineiro, Alberto Carlos o trata como mercador eleitoral de títulos de cidadania. Não creio, sinceramente, que Aécio esteja comprando os seus serviços.

Chupim de teorias alheias. Só de teorias?
O autor prossegue dando dicas. Modéstia às favas, sou eu o autor da “Teoria dos Três terços” do eleitorado brasileiro. Eu falei sobre ela neste blog pela primeira vez no dia 19 de julho de 2006. A página tinha apenas 25 dias. Atenção! Isso foi aqui. Trato do assunto há muito mais tempo. Qual é o ponto? Um terço do eleitorado vota no PT, um terço contra o PT, e o outro terço pode oscilar pra lá ou pra cá. Se vocês procederem a uma pesquisa no blog, encontrarão dezenas de textos a respeito.

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Depois de prever a vitória de Dilma no primeiro turno por mais de 20 pontos sobre a soma dos demais, escreve agora o Alberto Carlos no Valor:
“A sociedade brasileira, quando se trata de eleição presidencial, é dividida entre os votos certos do PT e os votos certos do PSDB ou as idéias que ambos representam. Os dois partidos têm, cada um, pelo menos 40% de votos válidos certos. Isso significa que a eleição presidencial brasileira é definida pelos 20% de eleitores centristas.”

Ele dá uma ajustadinha nos números (e está errado, diga-se), mas essa é a minha tese, como se vê. É o que se chama batida de carteira intelectual, apropriação indébita descarada, vergonhosa. Ora, se ele tinha essa convicção, como afirmou aquela porcaria que afirmou? Eu só o contestei, então, sem medo de errar porque aquela era a MINHA CONSTATAÇÃO, A MINHA CONVICÇÃO. Não é possível que Aécio esteja pagando por isso. Não acredito. Calma que a apropriação indébita ainda não terminou.

Guerra de valores
Alberto Carlos também afirma que as oposições precisam construir valores mais à direita e coisa e tal, para confrontar o PT. Escreve ele: “É possível, sim, construir uma identidade de centro-direita no Brasil. A terminologia mais adequada seria mesmo a da identidade social-liberal. O eleitorado desse discurso, dessa visão de mundo, que é o eleitorado que não vota no PT, já assegura 40% dos votos em primeiro turno para quem defender esse credo.”

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Atenção, eu tratei explicitamente deste assunto no dia 12 de outubro de 2006. Cito trecho: “Não temos sabido – especialmente os partidos políticos (ou, vá lá, ‘lideranças políticas’) que não comungam dessa escatologia autoritária [da esquerda] – fazer a devida guerra de valores. (…) Reparem a facilidade com que, hoje em dia, lideranças do PSDB e mesmo do PFL pretendem disputar com o PT valores que se dizem de centro-esquerda. Vejam a facilidade com que o ‘discurso do social’, sem que se especifique exatamente que diabo isso quer dizer, se torna pauta obrigatória dos partidos – ainda que esta “agenda” não respeite a lei”.

Na última edição da VEJA de 2010, escrevi um longo artigo, de quatro páginas, a respeito do assunto. Está aqui. Escrevo lá:
“Temos já um Brasil de adultos contribuintes, com uma classe média que trabalha e estuda, que dá duro, que pretende subir na vida, que paga impostos escorchantes, diretos e indiretos, a um estado insaciável e ineficiente. Milhões de brasileiros serão mais autônomos, mais senhores de si e menos suscetíveis a respostas simples e erradas para problemas difíceis quando souberem que são eles a pagar a conta da vanglória dos governos. É inútil às oposições disputar a paternidade do maná estatal que ceva mega-currais eleitorais. Os órfãos da política, hoje em dia, não são os que recebem os benefícios – e nem entro no mérito, não agora, se acertados ou não -, mas os que financiam a operação. Entre esses, encontram-se milhões de trabalhadores, todos pagadores de impostos, muitos deles também pobres!”

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Qualquer semelhança com o texto deste senhor não é mera coincidência. A diferença é que eu escrevo bem, e ele, muito mal. Parece que Alberto Carlos de Almeida não respeita muito números com paternidade. Tampouco respeita a paternidade das idéias. Sigamos.

Ataque pessoal
Acima, forneço as evidências, com provas, de que estamos falando de alguém que fabrica teorias ad hoc, a depender do seu rancor, e que vai dispondo livremente de idéias e teses que outros formularam. No artigo em que puxa o saco de Aécio e fala sobre a necessidade de criar um pensamento social-liberal no Brasil, escereve ainda:
“Portanto, não se pode cair, por exemplo, na armadilha ultradireitista de Reinaldo Azevedo. Se fosse na França, ele seria ideólogo do movimento de Le Pen. Toda vez que o PSDB, ou aqueles ligados ao partido, defendem pontos de vista elitistas, se afastam da realpolitik brasileira e dão argumentos para seus adversários jogarem-nos no corner elitista e direitista. Foi esse o caso, por exemplo, do episódio da estação de metrô de Higienópolis. Aécio não é bobo, não cai nessa armadilha.”

“Ligado ao partido”? Quem está rebolando para o PSDB é Alberto Carlos, não eu. Só sou “ultradireitista” para os ultraidiotas, ultratrapaceiros, ultrapilantras, ultraprestadores de serviço, ultravigaristas, gente assim… Ele não poderia dizer, naturalmente, o que há de “ultradireitista” no meu pensamento porque não há. Sou apenas um defensor da Constituição. Este senhor repete o mantra da extrema esquerda para, como se nota, poder me bater a carteira de algumas idéias. É um troço asqueroso! Tivesse vergonha intelectual na cara — não tem! —, não faria alusão ao metrô de Higienópolis, uma canalhice inventada por setores do petismo para desgastar o governo Alckmin. Nunca existiu a hipótese de não se construir uma estação no bairro. O ponto escolhido, aliás, é, em termos imobiliários, ainda mais “nobre” do que o anterior. Ele mente. E está, para variar, tentando agredir São Paulo no texto em que rasga elogios a Aécio. Não creio que seja com o endosso daquele cujas glórias ele canta. Deve fazê-lo por voluntarismo gratuito.

Uma das formas de não debater o que o outro diz é criar pechas, atribuir-lhe coisas que não escreveu, não fez e não pensa. É uma das táticas canalhas das esquerdas para demonizar pessoas. Alberto Carlos não é de esquerda.

Alberto Carlos é um plagiador vulgar. E é bom ele se lembrar que outros trabalharam com ele na área de pesquisa e conhecem os seus métodos. Os meus também são conhecidos. Tenho hoje o blog, já tive uma revista — onde trabalhavam 21 pessoas — e já fui funcionário da Folha duas vezes. Em todos esses lugares, a minha reputação, que corresponde, felizmente, aos fatos, é de pessoa trabalhadora, dedicada a seu ofício, eventualmente desagradável porque diz sempre o que pensa.

Uma pergunta a Alberto Carlos: ainda está à procura de quem pague pelo seu iê-iê-iê ou já encontrou? Atacar o Reinaldo Azevedo, pelo visto, rende uns trocos.

Texto publicado originalmente às 21h24 desta quarta
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