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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Professores contra o comuno-fascismo e o jornalismo filobandoleiro

Dois professores, com nome e sobrenome, me mandam comentários, que decidi trazer para a área de texto. Gente decente (e, de fato, DOCENTE), honesta, trabalhadora, que não vive de fazer proselitismo político nem considera que sua tarefa principal é arregimentar alunos para seus delírios de potência. No país em que a subversão da ordem está […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h24 - Publicado em 8 jun 2007, 16h47
Dois professores, com nome e sobrenome, me mandam comentários, que decidi trazer para a área de texto. Gente decente (e, de fato, DOCENTE), honesta, trabalhadora, que não vive de fazer proselitismo político nem considera que sua tarefa principal é arregimentar alunos para seus delírios de potência.

No país em que a subversão da ordem está no poder; em que os dirigentes têm de se explicar mais à POLÍCIA do que à POLÍTICA, não espanta que os decentes se sintam esmagados e até mesmo perseguidos — além de difamados por uma parte da mídia que não sabe a diferença entre baderna e movimento social; reivindicação e ato de força; firmeza e violência.

Agir em favor da autonomia da USP é permitir que ela funcione normalmente, agora que a justificativa dos decretos, falsa desde sempre, nem mesmo é mais verossímil. É vergonhoso que certa imprensa tenha transformado os comuno-fascistas em uma “tendência” de consumo, como quando se anuncia a existência de uma nova gíria.

Expresso, uma vez mais, a minha solidariedade aos que, na USP, trabalham e estudam. Vale dizer: expresso a minha solidariedade à maioria silenciosa, que não é nem será profissional de causa nenhuma.

É claro que Laura Capriglione foi além das suas sandálias ao tachar o protesto antiinvasão de “reacionário”. Que reivindicasse à Folha, em conformidade com o projeto editorial que, consta, vigora lá, espaço para uma coluna de opinião. Mas e eu? Não opino aqui o tempo todo? Claro que sim. Meu blog existe pra isso. Sempre esteve claro — e eu lembro todo dia — que as MINHAS opiniões não são necessariamente as da VEJA. É inútil, por isso, tentar criticar a revista tendo os meus textos como pretexto. O espaço noticioso do jornal reivindica uma neutralidade e uma isenção que, obviamente, estão ausentes no caso da aludida reportagem. Minhas regras são simples: acredito no meu credo e pratico seus princípios; espero que todo mundo faça o mesmo em relação aos seus.

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Reacionária é a justificação do mal; reacionária é a justificação da violência; reacionário é fazer pouco caso de quem pede que as leis — democráticas — sejam cumpridas.

Seguem os comentários dos dois professores.

*
Caro Reinaldo, bom dia. Meu nome é Paulo Domingos Cordaro, o diretor do IME citado na reportagem da Folha. Não vou entrar no mérito da reportagem, que, por sinal, também considerei tendenciosa. Gostaria, sim, de dar um pequeno exemplo da angustia que nós, dirigentes da USP, estamos experimentando, para que seus leitores entendam a organização de nossa manifestação.

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Eu participei da caminhada; eu dei a oportunidade para que meus funcionários também pudessem participar (pensei muito sobre isso antes de enviar meu e-mail) e não me arrependo dessas atitudes. Talvez seja um pouco de desespero, pois vejo que estão destruindo a universidade que tanto prezo. O exemplo: no fim do ano passado, um dos nossos departamentos decidiu criar uma nova disciplina para um de seus cursos. Ao mesmo tempo, foi iniciado o processo de contratação de um docente para ministrá-la.

Tal processo exigiu toda uma justificativa acadêmica, que envolveu o trabalho de vários de nossos docentes. Pois bem, e então? Nada. É impossível saber o que acontecerá. É quase certo que não haverá decisão antes do início de agosto, e, portanto, tenho em minha mãos uma disciplina que já faz parte de nossa grade curricular, mas sem docente para ministrá-la.

É isto lutar pela autonomia?

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Está aí uma amostra do que estamos passando. O IME está funcionando normalmente. Não há greve de alunos e funcionários, e somente alguns pouquíssimos docentes ligados à Adusp estão parados. Não mais do que 10, em um total de 190. Mas é impossível trabalhar em sua administração com os órgãos centrais esfacelados.

Eu entendo perfeitamente a razão pela qual tivemos pouca participação na caminhada. A pessoas preferiram manter suas atividades, o que é louvável. Eu, porém, não tenho como manter as minhas. Eu me sinto impotente e humilhado por tudo isso. Talvez isso explique a presença de muitos diretores na caminhada.

Eu nunca pensei que, depois de 31 anos de atividade, um dia poderia sentir vergonha de ser docente da USP. Mas confesso que hoje eu sinto.
Cordialmente,
Paulo.

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*

Prezado Reinaldo Azevedo,

Meu nome é Eduardo Purgatto e sou professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Estava na caminhada, apoiando o objetivo principal desta: defender a desocupação pacífica e imediata da Reitoria. O manifesto, com os motivos do protesto, é muito claro nesse sentido e não faz nenhum julgamento a respeito das reivindicações dos que participam da ocupação. Apenas pedia para que estas fossem discutidas de outro modo, em um local adequado, ou seja, fora da Reitoria. Afinal, nós queremos continuar trabalhando normalmente, e a ocupação da Reitoria está, a cada dia que passa, prejudicando mais e mais as atividades nas unidades de ensino e pesquisa.

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Mas, pelo que leio dos manifestos dos que ocupam o prédio, querer trabalhar e fazer jus ao dinheiro que a sociedade coloca na USP é coisa de gente “reacionária”.

Gostaria de parabenizá-lo pela desconstrução que fez do artigo publicado pela Folha de S. Paulo, assinado pela jornalista Laura Capriglione, que cobriu a manifestação contra a ocupação da Reitoria da USP. Fiquei impressionado ao ler o artigo e constatar a falta de isenção do mesmo, escrito com a intenção clara de desqualificar a manifestação.

A jornalista nem tentou disfarçar o quanto simpatiza com os que estão na Reitoria. Enquanto a maioria dos outros meios procurou colocar os nossos motivos e relatar apenas o que aconteceu, a Folha parte para uma campanha de defesa da invasão, que só não é mais aberta, pois ainda falta colocar num texto: “A Folha de S. Paulo apóia a ocupação”.

Suas colocações são corretas, Reinaldo. O contingente de manifestantes foi pequeno, pois a maioria estava trabalhando e estudando. Confesso que, por termos essa mania, não somos muito bons em organizar manifestações.

Após a caminhada, fomos mesmo almoçar, como diz a reportagem da Folha. Depois do almoço, voltamos ao trabalho. Afinal, somos pagos pra isso e nossos estudantes são “pagos” pra estudar. Já o pessoal que ocupa a Reitoria foi organizar uma festa junina, como relatou o portal G1 (dia 06/06/2007 14h40 – “Após manifestação, USP tem festa junina”).

Obrigado pelo apoio dado à nossa manifestação.

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