POR UM ASSISTENCIALISMO INDEPENDENTE. COMO O BC!!!
A crítica que Jarbas Vasconcelos fez ao Bolsa Família também gerou alguns ruídos. “Então só se reclama quando se dá dinheiro aos pobres?” Pois é. O Bolsa Família é desses programas que tornam o país refém de um equívoco porque seqüestra a inteligência de amplos setores da sociedade, mesmo quando ideologicamente antagônicos. O país não […]
Pois é. O Bolsa Família é desses programas que tornam o país refém de um equívoco porque seqüestra a inteligência de amplos setores da sociedade, mesmo quando ideologicamente antagônicos. O país não vai se livrar dessa estrovenga tão facilmente. E, enquanto não se livrar, continuará a precisar da estrovenga… Caso Serra vença a eleição presidencial, vai mudar o Bolsa Família? Não.
Pessoas alinhadas com um pensamento dito mais conservador vêem nesses programas de assistência o chamado “gasto social focado”: põe-se dinheiro, dizem, onde ele é realmente necessário, em oposição a políticas ditas universalistas, que atingem horizontalmente toda a sociedade.
A sabedoria convencional a respeito identifica com a “direita” ou com os “conservadores” o gasto social focado — de que o Bolsa Família seria um exemplo — e com a esquerda a assistência universalista — de que o SUS seria uma boa expressão.
É mesmo uma sabedoria convencional. E deveria ser questionada. Os chamados economistas da pobreza — que, com o tempo, têm revelado certa pobreza de sua economia — aplaudiram e aplaudem coisas como o Bolsa Família, entendido como uma política de distribuição de renda que realmente chega ao carente.
Li outro dia o texto de um desses jornalistas especializados em tocar tuba para o petismo. Ele tratava como mero “clichê conservador” essa história de que o Bolsa Família deveria ter “portas de saída”. Entenderam? Um programa, então, nascido para ser uma alavanca para tentar tirar o assistido da miséria virou uma finalidade em si mesmo. O Bolsa Família existe hoje para reproduzir o Bolsa Família, atrelado, como é notório, a uma gigantesca máquina de propaganda. Os então mal chamados conservadores aplaudem porque acham que é assim mesmo. E a esquerda populista fica feliz porque é óbvio que os benéficios foram transformados, como diz Jarbas Vasconcelos, na maior máquina do mundo de compra de votos. Por que afirmei que a economia da pobreza revelou certa pobreza da economia? Porque se desinteressou desse aspecto deletério do programa. E ele é relevante.
Como explicar que o Bolsa Família tenha se expandido num período de crescimento da economia?
Tantos pedem a chamada “independência do Banco Central” como prova de maturidade política do país, não é? E se começássemos a defender também a “independência” da assistência social? Criar-se-ia uma agência, nomeada pelo Congresso, encarregada de fazer o auxílio destinado em Orçamento chegar aos necessitados. Governantes ficariam proibidos de tocar no assunto em palanque. O que lhes parece?
Há quem não queira presidente metendo o nariz em política monetária porque isso seria assunto sério demais para ser tratado por um presidente da República. Ok. Far-se-ia o mesmo com as políticas assistencialistas.
Assim como um BC independente, diz-se, jamais flerta com a inflação, uma agência social independente estaria proibida de flertar com populismo vagabundo e teria metas a cumprir.
Chegou a hora de os economistas da pobreza saírem do pobrismo para pensar saída em favor do pobre e contra a pobreza. O Bolsa Família, com variações, já está aí há uma década. E, por enquanto, ele tem ajudado a expandir o… Bolsa Família. E a demagogia. É o chamado “gasto social focado” nas urnas.