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Por que o sucessor de Orlando Silva não pode ser do PCdoB. Ou: Eis a velha “moral” justificadora de crimes

O problema do Ministério do Esporte não é a pessoa do ministro Orlando Silva, ainda que ele não pareça especialmente competente. O problema do Ministério do Esporte é o que o PCdoB fez com ele, transformando-o num aparelho, que é o que costumam fazer as esquerdas no poder. O aparelhamento partidário se estendeu à rede […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 10h22 - Publicado em 26 out 2011, 16h13

O problema do Ministério do Esporte não é a pessoa do ministro Orlando Silva, ainda que ele não pareça especialmente competente. O problema do Ministério do Esporte é o que o PCdoB fez com ele, transformando-o num aparelho, que é o que costumam fazer as esquerdas no poder.

O aparelhamento partidário se estendeu à rede de ONGs e é comprovadamente incompetente. Quem quer que assuma vai ter de desmontar essa máquina. É prudente entregar a missão a um quadro do próprio partido, como o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP)? Só se Aldo estiver disposto a ser o Krushev do Ministério do Esporte, mas acho pouco provável. Os comunistas do Brasil ainda não aceitaram o Krushev original…

Gosto do deputado Aldo Rebelo. Até onde sei, ele é uma pessoa séria. Foi um bom presidente da Câmara e teve a coragem de enfrentar desafios importantes no caso do Código Florestal. Por isso mesmo, para usar uma imagem cristã, deveria manter afastado esse cálice. O risco de que não consiga moralizar a máquina e de que a sua própria reputação seja enredada pela lambança criada pela dupla Agnelo Queiroz-Orlando Silva é imensa.

“A nossa moral e a deles”
Lula viajou outro dia com Dilma Rousseff. O ex-presidente, que havia convocado o partido e Orlando Silva a resistir, estava jururu, um tantinho deprimido. É que ele achava que o PCdoB não pode ser tratado como um partido qualquer. Partido qualquer, para o Babalorixá de Banânia, é o PMDB, por exemplo. Wagner Rossi e Pedro Novais foram despachados sem velas nem lágrimas. Partido qualquer é o PR. Alfredo Nascimento foi defenestrado sem manifestações de pesar.

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Mas um comunista do Brasil? Ah, aí se convoca na memória o mito fundador da esquerda. O que quero dizer com isso? Leiam o estatuto do PCdoB, cuja ética, nesse particular, é idêntica à do PT. O objetivo declarado dos partidos que se dizem de esquerda não é servir à nação e aos brasileiros. Sua primeira tarefa é construir “o partido”. Porque é “o partido” que vai construir o futuro. Entenderam? Se esse partido conhece a forma e o conteúdo do porvir, tudo o que se fizer para fortalecê-lo é bom; tudo o que não concorre para a sua grandeza é ruim. É a essência daquela formulação de Gramsci (não estou dizendo que Gramsci tenha inspirado o PCdoB; estou apenas lembrando alguém que sintetizou a ética esquerdista), segundo quem o partido deve se impor como um “imperativo categórico”.

Não custa lembrar a passagem de novo. Gramsci chama “o partido” de “Moderno Príncipe”:
“O Moderno Príncipe, desenvolvendo-se, subverte todo o sistema de relações intelectuais e morais, uma vez que seu desenvolvimento significa, de fato, que todo ato é concebido como útil ou prejudicial, como virtuoso ou criminoso, somente na medida em que tem como ponto de referência o próprio Moderno Príncipe e serve ou para aumentar o seu poder ou para opor-se a ele. O Moderno Príncipe toma o lugar, nas consciências, da divindade ou do imperativo categórico, torna-se a base de um laicismo moderno e de uma completa laicização de toda a vida e de todas as relações de costume”.

Está tudo dito aí. A SOCIEDADE É QUE NASCE DO PARTIDO, NÃO O PARTIDO DA SOCIEDADE, entenderam? É evidente, e isto é muito importante, que os próprios esquerdistas, no íntimo, não levam mais essa porcaria totalitária a sério. No dia-a-dia, o que vemos é essa gente se locupletar como qualquer outra. Mas eles fingem, até para si mesmos, que O SEU ROUBO É MORALMENTE SUPERIOR AO ROUBO DOS OUTROS. É por isso que não se vertem lágrimas para larápios de legendas ditas “conservadoras” ou “de direita”. Vejam ali: se é para o bem do partido, o crime deixa de ser crime.

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Essa gente pretende fingir que a demissão de um comunista ou de um petista representa, realmente, uma agressão ao projeto de “libertação do povo”. Uma ova! Para o brasileiro que trabalha e estuda, que estuda e trabalha; para o brasileiro que arca com uma das cargas tributárias mais elevadas do mundo; para o brasileiro que suporta um dos estados mais incompetentes e perdulários do mundo; que diferença faz se o sujeito rouba para encher a própria pança ou a pança do partido?

Por incrível que pareça, a cada vez que o passado de suposto martírio e heroísmo da esquerda é relembrado com o ânimo da reparação — sim, a “Comissão da Verdade” é um desses episódios —, usa-se um passado de suposta superioridade moral para justificar os roubos do presente. Enquanto houver um partido ou um grupo que acredita ter direito a uma moral exclusiva, diferente daquela “pequeno-burguesa”, o caminho para a roubalheira supostamente ética estará aberto.

Volto ao início
Quem quer que assuma o Ministério do Esporte tem como tarefa desmontar a rede de pilantragens criadas pelo PCdoB. É uma questão institucional, não partidária. Aldo teve uma trajetória reta até agora. Seria uma estupidez sacrificá-la em nome do partido que, idealmente, segundo a moral comunista, é a fonte dessa retidão.

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