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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Outroladismo, outro lado e eu

Quero falar de um tipo muito freqüente de leitor: aquele que, supostamente, apela à minha compreensão e ao meu senso de proporção. É gente formada, acredito, na chamada cultura jornalística do “outroladismo”, que não é a minha. Explico e explico-me. É evidente que uma reportagem que reproduza ou faça uma acusação contra alguém, especialmente quando […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 18h40 - Publicado em 3 nov 2008, 20h26
Quero falar de um tipo muito freqüente de leitor: aquele que, supostamente, apela à minha compreensão e ao meu senso de proporção. É gente formada, acredito, na chamada cultura jornalística do “outroladismo”, que não é a minha. Explico e explico-me. É evidente que uma reportagem que reproduza ou faça uma acusação contra alguém, especialmente quando questões relativas à honra estão em jogo, deve ouvir o “outro lado”. O acusado, pouco importa quem ele seja ou qual a sua reputação, tem de ser ouvido sobre a questão em particular, objeto da notícia. Isso é correto e saudável. O “outro lado” está para a democracia como o “outroladismo” está para o democratismo.

E o que querem esses leitores? Canso de receber coisas assim: “Pô, Reinaldo, você poderia reconhecer que o capitalismo também faz as suas vítimas”. Ou ainda: “Você se diz contra ditadores de direita e esquerda, mas é Bush?” Bem, não publico comentários assim, por mais educadinhos que sejam, porque se trata de uma DESEDUCAÇÃO HISTÓRICA E MORAL.

Não, eu não reconheço que o “capitalismo também faz as suas vítimas” — não no mesmo texto em que critico as violências da esquerda. Porque não são coisas comparáveis; porque não pretendo que as falhas — e são muitas — do capitalismo sejam usadas por um sistema que transformou a morte em massa numa forma de realizar uma utopia supostamente humanista. Diga-se do fascismo (ou dos fascismos, com suas variantes locais) o que quiserem: mas ele jamais se pretendeu um novo humanismo. O horror fascista jamais escondeu o seu caráter discriminatório, violento, assassino. Então não me venham com essa. Não caio nesse truque.

Quanto à outra questão, dizer o quê? Pode-se ser contra ou a favor George W. Bush; pode-se achar justificada ou injustificada a guerra do Iraque; mas não me venham comparar um político que, daqui a pouco, será esquecido com um dos muitos vagabundos mundo afora que se agarram ao poder e dele só saem mortos. Não me venham dizer que um líder submetido ao severíssimo escrutínio da imprensa é comparável a tiranos e tiranetes que se sustentam graças a leis discricionárias. Eu não acato essa estupidez.

Para mim, como disse certo professor que tentou esculhambar meu livro, fazendo-me o maior de todos os elogios, “existem o certo e o errado”. Ele anda me censura por eu não fazer o que, de fato, não faço: segundo diz, eu jamais me ponho “no lugar do outro”. Claro que não! O lugar do outro é do outro; o meu é o meu. E é preciso haver uma ética reconhecida por ambos que nos permita discordar. Isso é democracia. O meu “relativismo” se esgota no reconhecimento da legitimidade do outro para ser o que ele é, desde, é claro, que ele não queira solapar as bases legais que garantem a ele e a mim o direito de ser o que somos — e isso supõe que eu jamais tento solapar as ditas-cujas.

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Se tenho uma opinião e se tenho um ponto de vista, isso supõe que defendo uma hierarquia de valores. Posso aprender com as contraposições do outro — e freqüentemente aprendo —, mas não me venham igualar desigualdades. Assim, o apelo à minha tolerância, nos termos em que apresento aqui, é inútil. Eu não vou aquiescer jamais que “tudo é uma questão de ponto de vista” porque é justamente disso que se aproveita o mal para se insinuar. Sim, eu acredito que há coisas que são a expressão do mal absoluto. Condescender com ditaduras, em nome de um futuro virtuoso, é uma delas.

Aqui não passa. Esse blog tem lado. Um lado só.

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